Empatia, especialista fala sobre a nova competência que será adotada nas escolas municipais de São Paulo a partir de 2018
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Se colocar no lugar do outro, compreender seus pensamentos e opiniões e também sentir o que o outro está sentindo faz parte daquilo que chamamos de empatia. Ela, que é um dos pontos fortes das chamadas habilidades socioemocionais, nem sempre se desenvolve de forma espontânea na vida de crianças e adolescentes. A consequência disso é um mundo com muita diversidade, mas pouca tolerância e compreensão. Incentivar e desenvolver essas características nem sempre é fácil. A influência externa que cerca os jovens pode se refletir de forma significativa em suas atitudes e também no modo de pensar. A partir disso, acrescentar o aprendizado das habilidades socioemocionais nos processos educativos, ensinando o poder da empatia e seus benefícios, pode mudar não só o futuro das crianças e dos adolescentes de hoje, mas também as diversas gerações que virão.
A educação brasileira está se movimentando em relação à inclusão das habilidades socioemocionais no currículo das escolas. A versão mais recente da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) evidencia esse esforço. Recentemente, a Secretaria de Educação de São Paulo anunciou que as escolas municipais ensinarão, a partir de 2018, as habilidades socioemocionais, com ênfase em empatia e criatividade. No entanto, não haverá uma aula dedicada somente ao tema – o aprendizado deverá ser inserido durante as aulas das outras disciplinas, o que pode atrapalhar o desempenho dos alunos.
O psicólogo Helder Kamei, autor do Programa Semente, metodologia que desenvolve a aprendizagem socioemocional, observa que o aprendizado dessas habilidades deve contar com a presença de um programa específico com estrutura e capacitação relevante sobre o tema para gerar melhores resultados. “A inserção dessas habilidades nas escolas municipais de São Paulo é um avanço da sociedade, porém é necessário um programa com métodos, com estruturas e embasamento acadêmico. Os professores devem ser preparados para dar aulas de uma disciplina específica sobre essas habilidades, porque somente inseri-las dentro das disciplinas comuns pode comprometer o resultado final”, afirma.
Além do desenvolvimento nas escolas, o aprendizado continua dentro de casa. “A influência familiar no desenvolvimento de crianças e adolescente acontece naturalmente dentro de casa, o problema é que isso pode pesar de uma maneira negativa”, diz. Como exemplo, ele cita uma criança que vive em um ambiente familiar agressivo e se torna agressiva. “Com isso, promover a reflexão dos familiares com relação às habilidades socioemocionais e, principalmente, à empatia é fundamental para melhorar ainda mais o desenvolvimento dos jovens”, completa. Sobre empatia, Helder explica que as relações interpessoais durante o aprendizado da vida em sociedade são criadas desde a infância e, com o passar do tempo, elas podem se tornar ainda mais fortes, ou não. Atualmente, no mundo repleto de tecnologia, estabelecer conexões afetivas com as pessoas, sejam elas colegas de trabalho, de escola, e até mesmo na família, tem sido difícil. “Isso contribui para a falta de empatia, afastando as pessoas e resultando em uma maior intolerância”, explica.
“O aprendizado das habilidades socioemocionais está chegando às escolas para mudar essa realidade, mostrando a importância de ter uma boa relação com as pessoas do convívio cotidiano e a respeitar aqueles que são diferentes, que pensam de maneira diferente e que vivem diferente”, diz. “A intolerância, o preconceito, e muitos exemplos de violência acontecem pela falta de capacidade de se colocar no lugar da outra pessoa, ou seja, olhar apenas para si mesmo, o chamado egocentrismo”, ressalta.
Segundo o psicólogo, o desenvolvimento da empatia e das habilidades socioemocionais logo cedo reflete no presente e principalmente no futuro dos estudantes. Estudar para provas, aprender conteúdos, prestar vestibular, tudo isso pode ser realizado com muita dedicação pessoal. Mas lidar com as pessoas, fazer novas amizades, propor soluções colaborativas para resolver problemas, tudo isso envolve o aprendizado socioemocional que poucos desenvolvem no decorrer da vida. “Essa falta de aprendizado faz com que esses jovens tenham maior tendência a ter dificuldades de se relacionar, de identificar as próprias emoções e de ter autocontrole”, ressalta.
As dificuldades também aparecem no mercado de trabalho, que já vem exigindo cada vez mais a capacidade de se relacionar consigo mesmo e com os outros. O conhecimento técnico, mesmo que bem estruturado e desenvolvido, pode não valer perto das dificuldades em lidar com o emocional. A inserção do aprendizado nas escolas já prepara os jovens para o que os aguarda no futuro. “Hoje, a maioria das empresas já fazem uma triagem no processo seletivo de contratação fazendo a mensuração dessas habilidades”, conclui.
O Programa Semente trabalha de forma estruturada os cinco domínios: autoconhecimento, autocontrole, empatia, tomada de decisões responsáveis e habilidades sociais. Atualmente, cerca de 18 mil alunos já utilizam a metodologia em escolas brasileiras.
Sobre o Programa Semente (www.programasemente.com.br) – Com uma abordagem moderna e inovadora, o Programa Semente está presente em escolas brasileiras contribuindo para o desenvolvimento socioemocional de alunos e educadores. A partir de um material escrito por educadores, médicos e psicólogos, sua metodologia possibilita que sejam trabalhadas em sala de aula questões como sociabilidade, autoconhecimento, autocontrole, empatia e decisões responsáveis, entre outras habilidades, cada vez mais presentes no mundo do trabalho e nas principais avaliações internacionais de educação, como o PISA. Desta forma, o Programa Semente contribui para a alfabetização emocional.