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Guia para Gestores de Escolas

Ensino Médio não atrai interesse dos jovens brasileiros

Dentro da onda de ocupações em escolas públicas motivada pela polêmica da reforma do Ensino Médio no Brasil, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) divulgou uma pesquisa que revela que mais da metade dos entrevistados não consideram o Ensino Médio interessante para os jovens. Num universo de 2.002 entrevistados, em 137 municípios e 25 estados em cinco regiões do Brasil, 61,4% avaliaram que o Ensino Médio não é atraente e não está adequado à realidade da juventude. A pesquisa foi realizada na segunda quinzena de outubro. Conforme o levantamento, o público entende que a grade curricular precisa ser revista e que o ensino técnico profissionalizante é uma das alternativas viáveis para o país.

Este levantamento sai num momento importante, em que o governo federal apresenta uma reforma que pretende reestruturar e flexibilizar o Ensino Médio, por meio da Medida Provisória 746/2016. A ideia é que o Ensino Médio tenha, agora, ao longo de três anos, 50% da carga horário de conteúdo obrigatório definido pela Base Nacional Comum Curricular, ainda em discussão. Os outros 50% seriam definidos a partir do interesse do próprio estudante e das particularidades regionais onde está inserido.

Para o presidente do Sinepe-PR (Sindicato das Escolas Particulares do Paraná), Jacir Venturi, a aprovação da Medida Provisória vai flexibilizar o Ensino Médio. “O atual Ensino Médio brasileiro, de formato único no mundo, representa a maior mazela da educação brasileira. É uma jabuticaba vencida que empurramos goela abaixo de nossos adolescentes”, argumenta. Entre os benefícios da MP, Venturi destaca a ampliação de escolas com jornada de 7 horas diárias e o direito de escolha do jovem, de acordo com suas habilidades ou preferências.

Já o professor de história do Curso Positivo, Daniel Medeiros, acredita que a MP vai empobrecer o Ensino Médio. “Perde-se, antes de conhecer, a chance de tantas descobertas; elimina-se, pela raiz, talentos e criações”, afirma. Medeiros, que é especialista em Filosofia Contemporânea, mestre e doutor em Educação Histórica, também não acredita que a Medida vai ampliar o interesse dos alunos pela escola e diminuir a evasão. “A evasão não ocorre pelo excesso de disciplinas. A evasão é pela falta de significado dos conhecimentos produzidos pela escola, pela falta de envolvimento dos que deveriam ser seus protagonistas, pela falta de cumplicidade com o conhecimento que nos torna, a todos, mais humanos”, reflete.

Para o diretor editorial da Editora Positivo, Joseph Razouk Jr., especialista em Metodologia e Administração do Ensino Superior e Metrando em Ciência da Educação, a maior insatisfação está vindo “pelo fato de ter ocorrido uma medida provisória sem perguntar à população de docentes e alunos a sua opinião”. O especialista, que trabalha com uma gama de sistemas voltados ao Ensino Fundamental e Médio, desenvolvidos pela Editora Positivo, observa que, na verdade, o governo atual apenas formalizou (ainda que seja por Medida Provisória) uma discussão que já ocorria há anos, em outros governos. “A insatisfação de governantes que antecederam os atuais já era grande. Todos sabem que o Ensino Médio precisa mudar. Isso já é uma fala ‘antiga’ de professores, por todo o Brasil. Mas o fato de receberem o pacote pronto, tornou-se um problema”.

Segundo ele, a mudança é necessária. “É preciso estudar a medida e verificar que há ainda muita desinformação acerca do que ela traz. O Ensino Médio não vai ficar mais sem sentido do que já é. Os alunos encontram dificuldades pela ausência de significado em suas vidas e também depois do término do Ensino Médio (quando isso ocorre), quando percebem que o utilizam pouco, que ele pouco ajuda na entrada do Ensino Superior”, destaca.  Para o educador, é preciso investir em diálogo, uma vez que a falta de abertura às mudanças é fruto da desinformação.

 

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