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Guia para Gestores de Escolas

Entre o presente e o futuro: Quais são as inovações para o “novo normal” na educação?

Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação

A pandemia que atravessamos – com suas problemáticas, mudanças estruturais e com seus dados alarmantes de mortalidades – nos convidou a refletir e a discutir sobre os caminhos e as possíveis trajetórias que serão traçadas a partir de agora, no chamado “novo normal” na educação. Nesse sentido, estrutura física, gestão, tecnologia, formação de docentes e outras experiências com o ensino-aprendizado compõem algumas palavras-chave que se aproximam do retorno às aulas presenciais

Com o intuito de abarcar um amplo leque de desdobramentos sobre essa temática do “novo normal”, convidamos, nesse especial, especialistas, pesquisadores, professores, gestores e empresários do setor, para traçar um panorama sobre ideias, inovações e mudanças que o sistema educacional enfrentará, na prática, com o retorno às aulas presenciais. Partindo da ideia de que a pandemia atingiu e modificou todo o sistema educacional, questionamos: Quais são as inovações e as propostas para enfrentarmos o “novo normal” na educação?

“Um dos elementos do ‘novo normal’ tem que ser uma compreensão aprimorada do lugar crítico que as escolas ocupam dentro da sociedade. A importância dos sistemas educacionais precisa ser reforçada por meio de um maior investimento em infraestrutura escolar e – o mais importante – investimento em profissionais da educação. Todos nós já experimentamos em primeira mão o quanto confiamos nos professores para orientar, apoiar e desenvolver os nossos filhos. Asseguremo-nos de que o ‘novo normal’ reflita isso na forma como recompensamos, desenvolvemos e homenageamos os educadores a quem confiamos o crescimento intelectual e socioemocional dos nossos filhos.”

Nigel Winnard – Doutor em Educação pela University of South California e Diretor da Escola Americana do Rio de Janeiro

“Na realidade especulamos muito e sabemos pouco sobre o ‘novo normal’. É fato que a pandemia trouxe desafios e, sem sombra de dúvida, mobilizou e acelerou a incorporação de novas estratégias de ensino e aprendizagem respaldadas em tecnologias de comunicação e informação. Não se trata, no limite, de um processo de inovação, mas sim de experimentação, difusão e incorporação de estratégias e recursos educacionais que já estavam disponíveis e vinham sendo estudados e aplicados. Ambientes virtuais de aprendizagem, recursos de interação síncrona, o blended leraning (b-learning ou ensino híbrido ou qualquer denominação que se queira adotar), sala de aula invertida, metodologias ativas, entre tantos outros elementos (tecnológicos ou não) não surgiram agora e do nada, mas, muito provavelmente, serão mais e melhor utilizados no curto prazo.

Além disso, e talvez mais que isso, as instituições de ensino precisaram sair da zona de conforto e da inércia, e descobriram que é possível responder rapidamente aos novos contextos e desafios. Quem sabe seja essa, no final, a grande inovação. Instituições mais atentas às demandas dos professores e alunos e mais ágeis na busca de soluções. Isso será fundamental num cenário de mais incertezas do que certezas.”

Alcir Vilela Júnior – Coordenador do Ensino Superior do Senac EAD

“Sairemos mais tecnológicos deste período e, por isso, é necessário fortalecer plataformas de ensino à distância, despertar um olhar de protagonista nos estudantes e aproveitar a oportunidade para aproximar pais e famílias dos processos educacionais. É uma transformação digital que deixará um legado. É hora de ouvir os alunos e atualizar a aplicação dos conteúdos. É importante que o nosso norte seja explorar o potencial transformador que vem da união da educação e da inovação. Juntas, elas podem oferecer soluções para demandas sociais e essa busca motiva os jovens a utilizarem, na prática, o que se aprende na sala de aula.”

Isabel Costa – Gerente de Cidadania Corporativa da Samsung Brasil

“Podemos falar em quatro grupos de inovações educacionais: no primeiro, as tão faladas metodologias ativas – em que os alunos assumem um papel vigoroso na aprendizagem ao fazer descobertas, resolver problemas e refletir sobre a realidade. O segundo grupo, o das metodologias ágeis, enfatiza uma gestão do tempo de aprendizagem totalmente diferente, com acesso a microconteúdos, microatividades e até microavaliações. Em terceiro lugar, as metodologias imersivas proporcionam uma experiência de aprendizagem engajadora, baseada em tecnologias como realidade aumentada e virtual, além do uso de jogos e gamificação com propósito educacional. E, em quarto lugar, mas não menos importante, as metodologias analíticas abrem espaço para a análise dos dados educacionais e o uso da inteligência artificial em apoio aos processos de ensino-aprendizagem. Assim, diante de tantas possibilidades e desafios, o novo ‘normal’ em educação significa que todos os envolvidos no desafio de aprender e ensinar entraram de uma vez por todas na era da inovação.”

Andrea Filatro – Doutora em Educação (USP), escritora e autora do livro “Metodologias inov-ativas: na educação presencial, a distância e corporativa” (Saraiva Uni)

“A pandemia acabou por forçar uma reinvenção na área educacional. Como tudo que vem sem um planejamento, a introdução das tecnologias que possibilitam o ensino à distância precisará passar por ajustes e uma imensa adaptação por parte de todos que compõem a comunidade escolar. No entanto, mesmo quando for possível retornar à sala de aula com segurança, acredito piamente que essas tecnologias continuarão no cenário, mais bem exploradas para aumentar o alcance e diminuir fronteiras. Hoje já existem plataformas que fazem tradução em tempo real, possibilitando que alunos conversem por videoconferência sem que sequer falem a mesma língua, algo impensável há pouquíssimo tempo. Dentro desse contexto, também as plataformas digitais terão respostas advindas desta experiência coletiva que estamos passando agora e seguramente também farão seus ajustes. Acredito que viveremos em um formato híbrido, em que novas tecnologias serão utilizadas de maneira muito autônoma pelos alunos, com o direcionamento dos professores e demais profissionais da educação.”

Diego Brites Ramos – Diretor Geral da Teltec Solutions

“O EAD foi uma necessidade que ganhou destaque por conta do afastamento social, mas que já vinha tendo uma demanda ascendente antes da pandemia. O que eu percebo é que, ainda que o nível de aceitação tenha aumentado por conta da pandemia, para o novo normal a tendência que recue um pouco, mas que ainda se mantenha em patamares muito elevados de utilização, por conta da praticidade e benefícios que a população tem encontrado. Outra tendência que tem ganhado destaque é a gamificação. O recurso pode ser entendido como um processo para tornar tudo mais lúdico, agradável e persuasivo, com uma experiência muito mais voltada e centrada no usuário, principalmente para o público mais jovem, que tem uma necessidade de conteúdos mais rápidos e personalizados. Também temos o conceito de ensino adaptativo, que consiste em direcionar, entender o que que cada indivíduo já sabe e apenas complementar com outros conteúdos. Nesse contexto, olhando para o futuro, o professor vai ter cada vez mais um papel de facilitador e/ou mentor, do que de detentor do conhecimento, propriamente dito. Hoje, o conteúdo está disponível para todos, mas é a organização e a forma de utilizá-lo que fará a diferença daqui para frente.”

Samir Iásbeck – CEO e fundador da Qranio

“O ‘novo normal’ da educação já começava a despontar no horizonte. Afinal, a presença cada vez maior de recursos digitais já contribuía para que alunos, professores, escolas e sistemas de ensino caminhassem na direção de uma educação mais digital. No entanto, o ensino remoto não-planejado acelerou esse processo, e as transformações que esperávamos para anos podem se tornar realidade já para o próximo ano. Dentre tantas tendências, citamos o ensino híbrido: essa modalidade aparece como solução para evitar aglomerações nos espaços escolares enquanto não há uma vacina, mas, mais do que isso, o ensino híbrido é uma consequência dos aprendizados tirados desse período. Dessa maneira, conseguimos ter da escola um espaço para o aprofundamento dos aprendizados que podem ser vistos em casa. Para que isso aconteça, no entanto, é fundamental a presença de materiais didáticos que se adaptem ao que pode vir ser uma nova realidade da educação. É fundamental a compreensão de que o digital não é apenas um ‘plus’, mas já faz parte diretamente dessa dinâmica. O digital, quando guiado de acordo os processos pedagógicos, torna-se uma rica fonte de conhecimento para os estudantes, facilitando o seu protagonismo.”

Igor Pelúcio – CEO da Desenrolado

Constatamos que é possível aprender também a distância: há crianças e professores que se adaptaram muito bem em algumas atividades e áreas, o que permite pensar no sucesso de um modo híbrido de operação no ‘novo normal’ – parte a distância e parte presencial.

A escola precisa de uma nova arquitetura: uma das principais unanimidades da pandemia é a consciência de que nada substitui o presencial. Porém, já estava em curso a discussão sobre a necessidade da alteração do layout do espaço escolar com vistas a favorecer, de maneira intencional, o encontro, a troca e a riqueza da interação entre os estudantes. A forma de organização do espaço é capaz de potencializar ou não as aprendizagens, por isso o desenho de novas arquiteturas para salas de aulas e espaços comuns da escola é um caminho sem volta nesse ‘novo normal’.

A centralidade do diagnóstico cognitivo para o sucesso da intervenção pedagógica: avaliações on-line sempre geraram desconfianças por conta da possibilidade de ‘cola’ que, em tese, elas poderiam favorecer. A pandemia nos ajudou a constatar que o meio de disponibilização dos instrumentos de avaliação tem menos impacto na qualidade do diagnóstico do que a qualidade da elaboração das perguntas e a constância da aferição. Portanto, há um caminho sem volta na utilização recursos digitais antes, durante e após as aulas, capazes de mapear as aprendizagens e calibrar o tratamento individualizado que o espaço coletivo de sala de aula tanto suscita.”

Acedriana Vogel – Diretora Pedagógica do Sistema Positivo de Ensino

“O período da pandemia foi desafiador, mas também foi um momento de aprendizagens profundas onde pudemos nos reinventarmos como profissionais e instituições de ensino. Nesse sentido, vejo algumas tendências para um futuro próximo: 1) o uso de tecnologias digitais vai continuar sendo incorporado nas práticas pedagógicas propostas dentro e fora da escola, uma vez que o modelo híbrido deve ganhar mais espaço nas escolas. Muitos educadores que nunca se interessaram ou tiveram a chance de aprender a incorporar tais recursos em sua prática docente agora já tem alguma experiência na área e demonstram desejo de aprender mais sobre o tema; 2) a adoção de metodologias ativas em ambientes digitais e presenciais deve se consolidar dando aos alunos maior protagonismo para aprender de forma individual e colaborativa; 3) enfoque nas relações humanas, na diversidade, na criatividade e no desenvolvimento de habilidades socioemocionais dos alunos; 4) uso de dados coletados via plataformas digitais para apoiar na tomada de decisão sobre questões acadêmicas e também de gestão escolar; 5) trabalho com projetos que levem os alunos a olhar para os problemas reais de suas comunidades e do mundo para que a partir dessa compreensão possam desenhar soluções relevantes.”

Carolina Costa Cavalcante – Doutora em Educação (USP), escritora e autora do livro “Metodologias Inov-ativas: na educação presencial, a distância e corporativa” (Saraiva Uni)

“O ensino híbrido veio como uma possibilidade real de inovação na educação. O modelo remoto pode aproximar distâncias, mas sobretudo propõe uma outra organização didática. Possibilita a antecipação de assuntos, de objetos do conhecimento, compartilhando textos, vídeos, salas de interação. Isso ajuda a desenvolver a autonomia tão necessária para uma aprendizagem significativa. Outro caminho é fortalecer o uso de plataformas e aplicativos que possibilitem personalizar objetivos de aprendizagem, conforme desempenho e interesse dos alunos. As crianças não aprendem da mesma forma, nem no mesmo tempo. Há também ferramentas para construções colaborativas, que preparam nossas crianças e jovens para esse mundo em constante transformação, onde o compartilhamento de conhecimentos e informações é a premissa para o crescimento de todos.”

Silvina Moreno – Diretora de Ensino do Colégio Master

“Para 2020, elaboramos um protocolo próprio, com métodos e procedimentos para prevenir a Covid-19. O material foi desenvolvido a partir de diretrizes fornecidas por órgãos federais e internacionais, e por meio de intercâmbio de informações com escolas de outros países. Todos os nossos protocolos foram revisados e validados pela D’Or Soluções, empresa do grupo Rede D’Or São Luiz, especializada em gestão de saúde e segurança do trabalho. O conjunto de diretrizes foi proposto pelo Eleva Educação, grupo do qual o Coleguium faz parte. Dentro do nosso protocolo, vamos dar continuidade ao ensino híbrido, de forma a atender os alunos que não retornarem ainda neste ano. Para 2021, com todo o aprendizado de 2020, vamos implementar o Ecossistema de Aprendizado Inovador (EAI) para as turmas do Ensino Fundamental (Anos Finais) e Ensino Médio. O EAI é composto por uma série de iniciativas que priorizam a formação integral de crianças e jovens, fomentando a experimentação, a pesquisa e o protagonismo. Os alunos terão aulas eletivas de inovação e de aprofundamento, uma plataforma digital para correção on-line de redações e avaliações formativas contínuas.”

Daniele Passagli – Diretora Geral do Coleguium Rede de Ensino

“A pandemia acelerou o processo de implementações de tecnologia e adaptação da equipe de professores e é importante avaliar o que foi feito em relação a inovação e criatividade no formato das aulas e decidir em que vale a pena continuar investindo recursos financeiros, tempo e esforço. Mais do que tudo, é preciso dar destaque ao desenvolvimento da equipe pedagógica, para ir além de alguns treinamentos no ano. O melhor caminho é fazer um mapeamento da equipe em conjunto com Business Intelligence para identificar a maturidade e organizar o seu desenvolvimento progressivo e constante. As escolas devem avaliar quais os próximos passos de investimento, ou seja, perceber e estabelecer metas para uso da internet, quais equipamentos estarão disponíveis para alunos e professores e, desta forma, desenvolver um projeto educacional. Sabemos que a situação financeira não está totalmente confortável para as escolas, mas neste ponto também é necessário inovação. Portanto, avaliar melhor os perfis de bolsa de ensino, acompanhar a inadimplência e planejar a curto, médio e longo prazo as finanças de forma direta e eficiente são grandes diferencias das escolas de sucesso nos próximos anos.”

Carlos Coelho – Educador e fundador da consultoria educacional Nova Educa

“A experiência da pandemia trouxe à tona o que há de mais essencial no projeto de cada escola. O que faz sua escola ser o que é? O que a define verdadeiramente? Em situações de crise aguda, como a que tivemos que enfrentar em 2020, a essência de cada projeto de escola se mostra de maneira transparente. Na prática, temos diferentes esferas que precisam ser olhadas individualmente e no todo para funcionar. E pensar na resposta para essas perguntas é o que tem norteado o nosso retorno.

Metodologia de ensino: Como prevalecerá o modelo híbrido, é preciso desenvolver novas estratégias para alinhar as chamadas atividades síncronas com as assíncronas. Como relaciono o que é compartilhado em tempo real com aquilo que será vivido no tempo e no espaço da escolha do aluno e sua família? Como preparar um plano de aula que resulte em atividades que sejam eficazes tanto na sala de aula presencial como no ambiente virtual? 

Material didático: Ao longo de todo o ciclo, será preciso atuar na redução do uso de material compartilhado. O uso de material físico não será abolido, mas kits individuais deverão ser disponibilizados para evitar o compartilhamento de materiais entre alunos. A higienização de todos eles, antes e depois do uso, é algo que deverá ser incorporado à rotina, com controle rígido e constante desse processo. Ao menos em um primeiro momento, todo material impresso seria substituído, sempre que possível, por materiais digitais.

Acompanhamento: o impacto emocional que a experiência da pandemia proporcionou precisa ser abordado de maneira mais estruturada pelas escolas, tanto em relação a seus alunos como em relação a seus professores. Ações bem-intencionadas, mas desarticuladas e carentes de contexto norteador, não darão conta das necessidades que surgirão.

Formação de professor: a escola necessitará aprimorar seu modelo de formação. São novas demandas e nova realidade, exigindo capacitação e ferramentas renovadas. Por mais que professores estejam se empenhando enormemente para dar conta dos novos desafios, é preciso conceber um modelo articulado de formação docente que dê conta dessas necessidades.”

Gustavo Rosas Augusto Laranja – Gestor do Colégio Augusto Laranja

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