Escolas com Síndrome de Pato
Diante do cenário atual, com forte concorrência e métricas sofisticadas, não há como fugir de comparações entre performances nacionais e internacionais, em um mesmo campo de atuação. Sendo assim, explicitar publicamente o que se faz bem (muito bem) é questão de sobrevivência, pois não há espaço profissional sustentável para quem faz ‘mais ou menos’ ou para quem não sabe comunicar as razões da sua existência. Prestar contas com transparência é um princípio inerente ao mundo contemporâneo, trata-se de um exercício de exposição para quem tem clareza do que faz, de como faz e, mais ainda, dos resultados a que se propõe atingir com suas ações.
Uma analogia aparentemente cômica, porém, apropriada, que ilustra o que frequentemente ocorre no universo corporativo, no que tange à falta de excelência nas atitudes, nos diversos níveis de gestão, é a da “síndrome de pato”: um animal que sabe voar, nadar e correr, mas não se destaca em nenhuma dessas atividades. A realidade escolar não está isenta de sofrer com síndrome similar quando, na luta pela construção de diferenciais instantâneos, acaba por assumir atividades periféricas, das mais diversas áreas, incrementando o seu portfólio de produtos e serviços, sob o risco de perder o foco da sua atividade central – estar a serviço da aprendizagem.
Incorporar novas tecnologias, novas métricas, novas formas de se relacionar são condições para a construção de uma sintonia fina com os novos tempos, mas o nosso olhar não pode se distrair; cada novo incremento deve ser validado, observando a sua relação direta com a expansão qualitativa e quantitativa das formas de aprender e ensinar, razão de ser de uma instituição escolar. É premente a necessidade de mudar estilos sem perder a identidade; sendo assim, não há espaço para adesões acríticas, modismos que nos façam performar abaixo dos níveis de excelência necessários a esse campo de atuação complexo, para o qual se exige o estado da arte.
Versatilidade responsável e profissional é o combustível para as mudanças necessárias. Para efetivar tais mudanças na escola, a direção não pode ser outra senão a do favorecimento das aprendizagens de professores e de alunos, a fim de que os mesmos possam atuar em consonância com as demandas que o mundo apresenta. Nesse sentido, a nossa energia deve se concentrar na excelência da essência, definida no dicionário etimológico como ‘aquilo que constitui a natureza das coisas’. Portanto, tudo que nos distancie dessa direção deve ser devidamente avaliado em relação à sua pertinência com as atividades desenvolvidas.
Curiosamente, quando se está no leito de morte, a primeira coisa que habita a reflexão está relacionada ao essencial. E quando se tem uma segunda chance de viver, os propósitos são genuinamente os de dar mais importância a esse essencial. Com uma instituição escolar que se encontra no dilema de fechar ou manter as portas abertas, isso não é diferente. Creio que se pode fazer em vida o exercício de investir o bem mais precioso – o tempo – em aperfeiçoar o que é basilar, que fundamenta as nossas atividades. Configuramos a nossa marca de forma ativa e constante e, como vida e obra são amalgamadas, as nossas escolhas integram a nossa identidade profissional. Nesse movimento, não há espaço para profissionais ‘mais ou menos’. O livro do Apocalipse corrobora: “… os mornos serão vomitados”.