Especial Diálogos com a Gestão: Como escolher um sistema de ensino?
Por Rafa Ella Pinheiro / Fotos Divulgação
Conversa com o Gestor
O sistema de ensino pode ser considerado um dos pilares que estrutura uma escola. Com ele – e por meio dele – é possível utilizar um conjunto de ferramentas e componentes diversificados que auxiliam diariamente no denso processo de ensino-aprendizagem. Para além do desenvolvimento no aprendizado, o sistema de ensino escolhido deve entrecruzar seus objetivos com os propósitos da instituição, bem como promover interações, atualizações e diálogos, cada vez mais intensos com as demandas atuais
O conjunto de recursos e soluções que são apresentados pelo sistema de ensino adentra diariamente nas salas de aula. Esse importante conjunto de ferramentas pedagógicas proporciona a utilização de componentes diversificados e integrados às necessidades dos/as estudantes, bem como pautados por uma metodologia efetiva para cada faixa etária.
A escolha de um sistema de ensino – ou a sua atualização – deve ser analisada com cautela. Se partirmos do pressuposto de que a educação é, também, e sobretudo, um canal de movimento e formação, o sistema de ensino deve ser escolhido à luz das transformações socioculturais contemporâneas, assim como adequado às demandas que emergem dos/as alunos/as em sala de aula.
Nessa dinâmica em constante movimentação, o sistema de ensino escolhido por cada escola, bem como a sua implementação, deve compreender alguns elementos importantes. Diante de tantas mudanças que surgem no/através do processo de ensino-aprendizado como um todo, quais são as principais características que devem ser observadas na hora de escolher um sistema de ensino para as escolas? A partir desse questionamento, trouxemos neste especial falas, apontamentos e sugestões de profissionais que atuam em variadas áreas da educação abordando essa temática. Confira!
“Diante das inúmeras demandas que emergem na educação atual, a escolha de um sistema de ensino robusto e eficaz torna-se fundamental para o sucesso acadêmico e o desenvolvimento integral dos estudantes. Uma das principais características a serem observadas é a capacidade do sistema de ensino de promover uma educação que seja ao mesmo tempo contextualizada e significativa. É essencial que o conteúdo programático esteja alinhado às necessidades do século XXI, preparando os alunos não apenas para provas e exames, mas também para os desafios do mundo contemporâneo. Isso inclui o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, pensamento crítico, e a capacidade de resolver problemas de maneira criativa.
Outro ponto crucial é a flexibilidade do sistema em se adaptar às realidades e particularidades de cada instituição. As escolas têm suas próprias culturas e demandas específicas, e o sistema de ensino deve ser suficientemente versátil para acomodar essas diferenças. Essa adaptabilidade permite que as escolas mantenham sua identidade enquanto incorporam metodologias inovadoras que potencializam o aprendizado dos estudantes.
Por outro lado, é importante avaliar a qualidade e a frequência do suporte oferecido pelo sistema de ensino aos educadores. Formações continuadas e assessoria pedagógica são elementos fundamentais para garantir que os professores estejam sempre atualizados e preparados para utilizar ao máximo as ferramentas e metodologias propostas pelo sistema. Um bom sistema de ensino não se restringe apenas ao material didático, mas também fornece uma estrutura de apoio que fortalece o corpo docente e, consequentemente, melhora os resultados dos alunos.
Ademais, é imprescindível que o sistema de ensino seja coerente e consistente em todos os níveis de ensino, desde o Ensino Fundamental, nos anos iniciais e finais, até o Ensino Médio. Essa continuidade assegura uma trajetória educacional integrada, onde os conceitos e as habilidades são desenvolvidos de forma progressiva e interconectada. Um sistema que oferece essa coesão pedagógica facilita a construção de um conhecimento sólido e permite que os alunos transitem de maneira fluida entre as diferentes etapas de sua formação. Porém, é importante ressaltar que, embora o sistema de ensino desempenhe um papel crucial, o verdadeiro diferencial de um projeto pedagógico está na maneira como esse material é trabalhado em sala de aula. O investimento em formação contínua de professores é fundamental, pois são os educadores que, ao adaptar e aplicar as propostas do sistema, realmente moldam a experiência de aprendizagem dos alunos. Isso explica porque escolas que utilizam o mesmo material podem ter resultados e projetos tão distintos. O sucesso educacional não depende apenas do material em si, mas de como ele é utilizado para inspirar, engajar e educar os alunos.”
Flavio Lavorato Neto – Diretor executivo do Colégio Parthenon – unidade Bom Clima
“Quando escolhemos um sistema de ensino, é fundamental que a decisão seja baseada nos nossos próprios objetivos e posicionamento como instituição. Eu acredito que devemos ser sólidos o suficiente para não nos apoiarmos cegamente em um sistema de ensino, mas sim fazer uma leitura criteriosa do cenário educacional e optar pelo sistema que melhor se alinha com as nossas metas. Dessa forma, mantemos o controle da situação e garantimos a qualidade do serviço educacional, ao invés de simplesmente seguir as tendências do mercado.
Além disso, considero essencial escolher um sistema de ensino que tenha uma base sólida e tradicional. Inovação é crucial, mas precisamos estar atentos para não confundir novidade com inovação. Para mim, inovação deve ser tratada com seriedade, embasada em estudos e resultados empíricos. Ao optar por um sistema com tradição, garantimos que não nos deixamos levar por modismos, mas sim por práticas educacionais que já provaram sua eficácia.
Também vejo como ponto crucial a constante atualização e revisão do material didático. No cenário educacional, que está sempre em transformação, com novas abordagens de vestibulares e temas emergentes, é vital que o sistema de ensino escolhido esteja em contínua evolução. Além disso, o suporte ao nosso corpo docente, incluindo a formação de professores e o apoio à coordenação pedagógica, é fundamental para garantir a implementação das melhores práticas educacionais.
Por fim, acredito que o foco deve estar sempre nos resultados empíricos e baseados em evidências, que guiarão nossa escolha de sistema de ensino. Também é importante considerar a parceria comercial, especialmente para escolas como a nossa, que busca combinar alta qualidade com baixo custo. Dessa forma, o sistema de ensino precisa estar alinhado não apenas pedagogicamente, mas também comercialmente com os nossos objetivos institucionais.”
Arthur Buzzato – Presidente e mantenedor da Escola Vereda
“Antes mesmo de escolher um novo sistema de ensino, o que reforço em meus artigos e treinamentos é a necessidade de a gestão fazer uma reflexão sobre o seu papel nos cenários de mudança e, assim, apoiar líderes educacionais na condução dessas transformações, visando atingir os propósitos da instituição. Portanto, em primeiro lugar, a escolha do sistema de ensino precisa atender aos requisitos do propósito da instituição (missão, visão, valores). Segundo, deve-se manter o olhar para os motivadores internos que levam à necessidade de mudança de material/sistema de ensino, por exemplo: financeiro, metodologia, suporte, etc. Por fim, mas não menos importante, o novo sistema a ser escolhido precisa ser capaz de responder aos anseios da sociedade que emergem das demandas da educação atual, que enumero a seguir.
O sistema precisa dar abertura ou contemplar a formação socioemocional, além da relação da escola com as famílias. Afinal, nas duas últimas décadas houve uma absorção, pelas escolas, de parte do processo formativo de crianças e jovens, como a formação de hábitos e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Antigamente, esses atores (escola e família) não tinham atuação compartilhada, de modo que a educação formal era papel da escola e a (con)formação de hábitos e emoções deveria ocorrer em casa. Um não participava do processo do outro. Hoje, porém, as atuações são conjuntas. A família é convidada para uma integração com a escola e acompanha em casa a evolução do que é feito em sala, isto é, ambas possuem atuação conjunta na formação integral.
Também deve ser considerado o movimento das instituições de ensino na participação das discussões da sociedade. Antes a escola era uma transmissora de conteúdo, mas há um tempo passou a ser percebida, sobretudo por alunos, igualmente como espaço para troca de opiniões e ponderações sobre as mais variadas matérias, tais como conflitos socioeconômicos ou questões climáticas. Logo, o novo material precisa dar abertura a esse novo papel da escola.
Nesse contexto, o sistema de ensino deve ser avaliado de acordo com a necessidade de cada instituição, a fim de acompanhar a evolução tecnológica nos modos de ensino, a exemplo da sala de aula invertida, sala de aula maker, gameficada, híbrida, flexível, virtual e outros modelos aplicados como alternativas complementares ou substitutas do ‘convencional’. Os fornecedores que apoiam a missão da escola, mediante estímulo ao conhecimento em seus mais diversos objetos, componentes curriculares e avaliações, hoje oferecem uma gama de alternativas que, para além de motivar e aumentar o engajamento, objetivam transmitir conhecimento de forma verdadeira e duradoura. Estou falando de aplicativos, sistemas, materiais de apoio e treinamentos que vinham sendo empregados durante o isolamento social, e agora continuam em uso de forma aprimorada, com novos contornos no pós-pandemia. Em face disso, a escola precisa avaliar se todo esse arcabouço será utilizado e como será utilizado, para não frustrar educadores, alunos e famílias.”
Eldo Pena Couto – Diretor do Colégio Arnaldo da Rede Verbita
“A escolha de um novo material didático para uma escola envolve a consideração de vários fatores essenciais. O material deve estar em alinhamento com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), garantindo que os conteúdos estejam de acordo com os conceitos e princípios estabelecidos. Isso é crucial para assegurar que os alunos recebam uma educação que atenda aos padrões nacionais e prepare-os adequadamente para os desafios acadêmicos futuros.
Além disso, é importante que o material didático seja adequado aos valores e à cultura da escola. Ele deve refletir os princípios da instituição, promovendo um ambiente educacional coeso, alinhado com a missão e visão da escola. A qualidade do conteúdo também é um ponto fundamental, pois o material precisa oferecer informações atualizadas e relevantes, que estimulem um aprendizado significativo e profundo, preparando os alunos para aplicarem o conhecimento em contextos variados. A flexibilidade do material também deve ser considerada, permitindo adaptações que atendam diferentes contextos pedagógicos e incentivem abordagens interdisciplinares.
Outro aspecto crucial é a integração de recursos tecnológicos no material didático. A tecnologia pode tornar o aprendizado mais dinâmico e interativo, aumentando o engajamento dos alunos e facilitando o desenvolvimento de habilidades essenciais para o atual momento da sociedade. Além disso, a capacitação dos professores para utilizar essas novas abordagens pedagógicas é vital, garantindo que eles estejam preparados para aplicar o material de maneira dinâmica e eficiente. A facilidade de implementação do material e o suporte oferecido também são aspectos importantes, assegurando que a transição para o novo material ocorra de forma delicada e bem-sucedida.
Por fim, a escolha do material deve considerar a sustentabilidade financeira da escola. É necessário avaliar a viabilidade econômica da implementação do novo material, assegurando que ele não comprometa os recursos disponíveis. Também é importante incluir mecanismos de avaliação contínua e feedback, permitindo ajustes no processo educacional conforme necessário, e garantir que o material ofereça uma diversidade de atividades para atender as demandas de aprendizagem, promovendo a inclusão e o engajamento de todos os alunos.”
Marcos Cesar Rodrigues de Miranda – Doutorando em Ecologia Aplicada na ESALQ/USP e professor colaborador do MBA em Gestão Escolar da USP
“Para a escolha de um bom sistema de ensino, é importante observar características que atendam às demandas educacionais contemporâneas e que promovam um aprendizado eficaz. Em primeiro lugar, é fundamental haver uma adequação às diretrizes curriculares. O material didático deve estar alinhado às competências e habilidades previstas pelas normas curriculares nacionais e estaduais, além de observar as características da instituição que o adota. Um sistema que respeite essas premissas contribui para que, ao final da Educação Básica, os alunos estejam preparados para os desafios da vida e para as provas do ENEM e vestibulares.
A possibilidade de trabalhar com metodologias ativas e tecnologias educacionais que coloquem o estudante no centro do processo também é uma característica indispensável a um bom material didático. Atualmente, é preciso que haja um estímulo permanente à participação ativa dos alunos em sua aprendizagem. Materiais que incorporam a utilização de recursos tecnológicos, como plataformas digitais, aplicativos educativos e gamificação, são capazes de engajar os alunos de forma mais eficaz, contribuindo para a melhoria dos resultados do estudante.
Além disso, é importante avaliar a capacidade do material didático de atender às especificidades da escola e às necessidades individuais dos alunos. Um sistema de ensino de qualidade deve oferecer recursos que possibilitem um ensino adaptativo, com atividades diferenciadas, diferentes níveis cognitivos e materiais de suporte para contemplar a grande diversidade presente nas salas de aula. Hoje, um material estruturado com atividades focadas no desenvolvimento de habilidades socioemocionais possui grande diferencial no mercado.
Por fim, outro aspecto importante é o apoio aos professores e coordenadores, os responsáveis por garantir o sucesso da utilização do material em toda sua potencialidade. A instituição de ensino deve oferecer formação permanente à sua equipe, garantindo a implementação e a utilização bem-sucedida do material. É essencial que existam programas de treinamento para que a equipe pedagógica possa entender a melhor forma de utilizar as métricas presentes nos recursos digitais, de modo a permitir um acompanhamento mais detalhado do engajamento e desempenho dos estudantes. Investir nessa formação contribui com a melhoria permanente do ensino e busca assegurar um resultado de excelência dos estudantes.”
Wyller Souza – Diretor Pedagógico do Colégio Magnum Cidade Nova
“Ao escolher um sistema de ensino, é fundamental que ele promova um ambiente de socialização e acolhimento, onde cada aluno seja respeitado em sua singularidade e diversidade. Na nossa escola, acreditamos que a criação de um espaço inclusivo vai muito além do aprendizado acadêmico; envolve o desenvolvimento de uma comunidade onde os estudantes se sintam conectados, capazes de construir redes de apoio e confiar uns nos outros. Esse sentimento de pertencimento é determinante para a segurança e o bem-estar emocional de todos.
O bem-estar dos alunos é essencial para o sucesso acadêmico e pessoal. O desenvolvimento socioemocional intencional deve ser parte integral do currículo, refletindo a convicção de que a excelência acadêmica e o bem-estar não apenas podem coexistir harmoniosamente, como também são interdependentes. Pesquisas globais apoiam a importância de fortalecer essas habilidades para criar um ambiente escolar seguro e acolhedor. A abordagem da escola deve integrar o desenvolvimento socioemocional de forma sequencial, ativa e explícita em todas as salas de aula. É necessário monitorar cuidadosamente o progresso de cada aluno, utilizando dados valiosos para realizar intervenções direcionadas e garantindo que cada estudante esteja bem equipado para enfrentar os desafios ao longo de sua trajetória escolar e além.
Outro ponto importante é oferecer um robusto programa de aconselhamento acadêmico e orientação universitária. Acompanhar os estudantes de forma contínua e personalizada é fundamental para o sucesso deles. Contar com um orientador dedicado, que atue como mentor e conselheiro, ajudando a explorar opções acadêmicas e profissionais e a traçar um caminho claro e alinhado com suas metas pessoais e acadêmicas, é essencial. Esse suporte vai além do aconselhamento convencional, integrando o desenvolvimento socioemocional ao planejamento acadêmico, ele prepara os estudantes para os desafios da educação superior, seja em universidades nacionais ou internacionais. Um modelo integrado não apenas orienta os alunos em suas escolhas acadêmicas, mas também os prepara para se tornarem líderes globais resilientes e inovadores.”
Anne Baldisseri – Diretora da Avenues São Paulo
“Os sistemas de ensino trazem a experiência acumulada de sua aplicação em diversas escolas. Por um lado, isso é ótimo porque são metodologias validadas e melhoradas a partir dessas experiências. Por outro lado, podem limitar as inovações e as oportunidades de aprendizagem dentro da escola, especialmente sistemas muito grandes que se propõem a abordar todas as disciplinas e assim o fazem de forma superficial.
Um bom sistema de ensino deve extrapolar os limites do livro ou da sala de aula, preparando o aluno para o presente e o futuro. Essa é a premissa que todo gestor escolar deve ter em mente ao escolher o melhor sistema para sua escola. Hoje, há múltiplas possibilidades para oferecer aos seus alunos, mas nem todas vão se adequar ao perfil da instituição. Ao escolher um sistema, é essencial analisar quais valores a escola quer levar aos seus alunos, pais e comunidade escolar. Os programas inclusos no currículo revelam muito sobre o posicionamento da escola diante da formação de seus alunos.
Para as escolas, oferecer um currículo que inclua o empreendedorismo, por exemplo, pode ser o diferencial necessário para atrair pais que buscam uma educação completa e alinhada com as exigências do mercado e tendências globais. Indica que a escola está atenta ao desenvolvimento de competências transversais, de uma mentalidade inovadora e preparação para o futuro. O programa da Expacer foca justamente em preparar alunos para lidar com as emoções, incertezas, recursos, novas tecnologias e interações com outras pessoas. Além disso, desenvolve a capacidade de criar e resolver problemas dentro e fora da sala de aula, de forma autônoma, em vez de esperar por soluções prontas, como o estímulo à participação dos projetos na OBE – Olimpíada Brasileira de Empreendedorismo.
Outro aspecto crucial é a capacidade de adaptação dos materiais ao contexto específico de cada escola. Isso faz uma grande diferença especialmente quando se trata de programas mais inovadores, pois ter uma equipe pedagógica que já vivenciou aplicação em outros ambientes escolares e com disponibilidade para trocar ideias com seu time será definidor de sucesso.”
Guilherme Carvalho – Diretor na Expacer Educação Empreendedora