Especial — Saber 2010 – XIV Congresso e Feira da Educação
Por onde começar
Na verdade, este é um modelo que será construído pelas próprias escolas, conforme ponderaram os especialistas. Coordenador da área de educação do município paulista de Onda Verde, localizado próximo a São José do Rio Preto, o psicopedagogo Márcio Rogério Martins lembrou que é preciso sempre “buscar os referenciais” para a construção de uma nova visão e postura. Com 500 estudantes em toda a rede, da Educação Infantil ao Ensino Fundamental, Onda Verde integra o programa “Município Verde Azul”, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, e desenvolve na escola ações pontuais de plantio de árvores, reciclagem do lixo e reaproveitamento do óleo doméstico.
Também aboliu o uso de copos descartáveis entre os professores e alunos, instalou sensores de luz nas salas de aulas, no entanto Márcio Rogério sabe que isso é insuficiente para que se possa falar em sustentabilidade. É necessário ampliar as ações, afirmou Márcio, adotando-se, por exemplo, sistemas para a reutilização da água da chuva, entre muitos outros. Ou seja, conforme a visão do dirigente João Carlos Martins, as “pequenas ações” devem servir como ponto de partida para que se crie consciência em torno da questão e se abra caminho para passos maiores.
Para tanto, o jornalista Ricardo Voltolini recomendou trabalhar, inicialmente, com o aspecto conceitual, perpassando tanto o trabalho pedagógico quanto as decisões administrativas. Segundo ele, é preciso “fortalecer a responsabilidade individual das pessoas pela vida”; “promover a visão sistêmica”; “valorizar a noção de interdependência, lembrando que o descarte de lixo, por exemplo, tem reflexos mundiais”; “promover a tolerância à diversidade, disseminando a cultura da paz”; “combater o desperdício”; “estimular o consumo responsável, optando por produtos com selos ambientais”; “promover a ética do cuidar”; “desenvolver ações para que se possa vivenciar a sustentabilidade, como o uso da bicicleta”; e “superar a ilusão de abundância”.
Do ponto de vista prático, Voltolini sugeriu aos mantenedores desenvolverem um “checklist de todas as medidas de natureza ambiental e social” passíveis de serem adotadas, incluindo um breve inventário das fontes de emissão de carbono geradas pela escola, como a demanda pelos transportes, não somente no deslocamento dos estudantes, mas na entrega dos produtos consumidos pela instituição. Segundo ele, é possível, a partir deste levantamento geral, reavaliar os mecanismos de captação de água, adotar sistemas economizadores de energia, usar produtos sustentáveis, repensar os projetos de coleta seletiva, envolvendo-se em toda a sua cadeia, rever as condições de trabalho da equipe e envolver as famílias. “A mudança não é obrigação exclusiva de professores e escolas, mas também dos pais e das empresas”, disse Voltolini.
Claro que não há espaço para ilusões. É preciso investir e financiar essas ações, que muitas vezes têm um custo inicial alto, reconheceu. “Todas as medidas de infraestrutura partem da decisão do gestor, que precisa achar importante que sua escola esteja educando para a sustentabilidade e dando sinais claros disso.” Também a jornalista Miriam Dualibi, presidente do Instituto Ecoar e conferencista no segundo dia do evento, lembrou o desafio de se quebrar essa barreira. “As mudanças requerem tempo, investimento, capacitação de professores, mas não vejo os gestores quererem isso, somente uma coisa superficial, pontual”, afirmou logo após a sua palestra.
A sustentabilidade, segundo Miriam, pressupõe a articulação entre diferentes dimensões (econômica, social, ecológica, cultural, espacial e pedagógica), o que envolve, nas escolas, desde os aspectos da construção, da parte física, “que é muito conservadora”, até “a integração do currículo”. “As escolas privadas estão atrasadíssimas neste processo, mas chegará um momento em que será antinatural persistir no modelo antigo e elas terão buscar esse diferencial”, concluiu Miriam.
Saiba mais:
André Trigueiro
www.mundosustentavel.com.br
[email protected]
Instituto Akatu pelo Consumo Consciente
www.akatu.org.br/consumo_consciente/orientacoes
[email protected]
Instituto Alana
www.alana.org.br
[email protected]
Manual de Educação Para o Consumo Sustentável
www.idec.org.br (download gratuito no link Biblioteca Virtual)
Miriam Dualibi
www.ecoar.org.br
[email protected]
Ricardo Voltolini
www.ideiasustentavel.com.br
[email protected]
Expositores: serviços de apoio à gestão sustentável
Uma escola de educação básica privada e sem fins lucrativos, com 900 alunos, localizada em Campinas, São Paulo, vem desenvolvendo, em parceria com a Fundação L’Hermitage, um processo piloto de avaliação e implantação de um modelo de gestão de qualidade, inspirado no referencial de certificação da Fundación Chile. A partir de um diagnóstico de seis diferentes áreas do dia a dia escolar – comunicação com alunos e familiares; liderança diretiva; gestão das competências profissionais; dos processos; dos resultados; e planejamento institucional -, o trabalho propõe-se a indicar à instituição como viabilizar economicamente, por exemplo, a formação continuada dos professores e quais os tipos de incentivos oferecer a eles.
“O programa permite criar, nessas seis diferentes áreas, linhas de ação com metas articuladas aos prazos, aos profissionais responsáveis e à disponibilidade financeira”, afirma Tobias Ribeiro, gerente de projetos da L’Hermitage. E nem sempre, pondera o gerente, “isso representa custo”. “Para melhorar é preciso diagnosticar, analisar dados, tomar decisões, mudar a forma de agir”, mas não necessariamente “gastar”. Nesta escola, o processo indicou que havia um curso de capacitação de professores pouco utilizado, apesar de oferecido gratuitamente pelo sistema de ensino. “O interessante do diagnóstico é que muitas vezes a escola acha que faz e aí descobre que não faz ou não aproveita seu potencial de forma adequada.” Depois do trabalho, 33 docentes começaram a participar do curso.
A L’Hermitage lançou o programa baseado no referencial chileno em 2009, está capacitando 70 consultores, cada um atuando voluntariamente em instituições de ensino, e em 2011 pretende oferecer a experiência para as demais mantenedoras. O programa engloba três etapas, a do diagnóstico, a do desenvolvimento de um plano estratégico de melhoramento e a da implantação dessas ações. Ao final, a instituição poderá receber um selo de gestão de qualidade na área. Durante a fase do diagnóstico, que leva de seis a nove meses, a instituição é avaliada em 79 diferentes indicadores (ou descritores), cada um deles subdivididos em seis níveis. A partir deste levantamento, desenvolvem-se “perguntas críticas” a serem feitas aos pais, à equipe e aos alunos, para então se chegar à análise das informações e ao plano de melhoramento. Já sua a implantação demanda cerca de três anos.
Segundo Tobias Ribeiro, o propósito é melhorar o desempenho na aprendizagem dos alunos a partir de uma gestão de qualidade, buscando-se parâmetros de avaliação que extrapolem o sistema de ranking do ENEM e incluam instrumentos externos mais amplos, como o SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica do MEC) ou alguns oferecidos pelo segmento privado (INADE, AVALIA etc.). Esta foi a segunda vez que a Fundação levou seu programa de melhoria da qualidade da educação para a Feira Saber, agora com a expertise de sua implantação em 70 instituições piloto.
A Feira, organizada pelo Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo), apresentou aos gestores escolares inúmeros outros serviços educacionais, introduzindo novidades como no caso dos softwares da Flex Developers ou do sistema de cobrança de inadimplentes organizado pela Crie. A Flex, empresa com 15 anos de atuação e 35 clientes localizados das regiões de Piracicaba e Campinas, levou um software mais interativo, com disponibilidade de envio de mensagens de SMS ou de email para os pais e alunos, acerca de reuniões, eventos e demais atividades. A Crie, por sua vez, apresentou seu know-how de cobrança, o qual tem conseguido chegar a 90% de acordo com os inadimplentes, revela o empresário e advogado Saulo Dias Goes. “Nosso foco é a cobrança extrajudicial, não fazemos abordagem agressiva, pois queremos manter o aluno na escola. Na verdade, tiramos a instituição da linha de frente e promovemos essa mediação com o inadimplente ou o responsável pelo estudante”, explica Saulo Goes.
O próximo Congresso e Feira do Saber já está agendado, acontecerá entre os dias 8 e 10 de setembro do próximo ano, no mesmo local, com uma proposta que pretende desafiar ainda mais as empresas que oferecem suporte e serviços às instituições: “Escola de sucesso, educação de qualidade: o Saber rumo a uma gestão de excelência”. (R.F.)
Saiba mais
João Luiz Rocha
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Saulo Dias Goes
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Tobias Ribeiro
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