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Guia para Gestores de Escolas

Falta de regulamentação de escolas bilíngues no Brasil gera dúvidas para pais

Por Rone Costa

Crianças e jovens hoje estão crescendo em um mundo totalmente pluricultural e interligado. Com isso, os pais cada vez mais veem a necessidade de proporcionar aos filhos uma educação alinhada com esse cenário globalizado matriculando os pequenos em escolas bilíngues. O domínio de outras línguas, principalmente do inglês, idioma mais falado em todo o mundo, atualmente é essencial para que essa geração tenha acesso a todas as oportunidades ao longo de sua vida pessoal e profissional. Começar cedo também é importante, já que até os 10 anos a criança está na melhor fase para aquisição de línguas no que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo.

O setor educacional privado passa por uma transformação para atender as atuais demandas do mercado, oferecendo uma educação bilíngue e inserindo o idioma no dia a dia do estudante desde muito cedo. No entanto, diante dos diversos benefícios proporcionados pela fluência na língua inglesa, muitos pais ficam em dúvida entre matricular seus filhos em um curso de inglês com aulas ministradas por uma escola de idiomas, seja em suas instalações ou dentro dos próprios colégios, ou em instituições que trabalhem com um programa específico e estruturado de educação bilíngue.

No entanto, segundo o MEC, hoje, no Brasil somente as escolas para deficientes auditivos, de fronteiras e indígenas são consideradas escolas bilíngues. Essa falta de regulamentação gera uma confusão ainda maior na cabeça de pais, alunos e até mesmo da comunidade escolar. Como o conceito de bilinguismo é muito amplo, muitas instituições se auto intitulam bilíngues por pura falta de informação.

Especialistas, como Mônica Padroni, diretora da Escola Projeto Vida, referência brasileira em construtivismo e que já conta com um programa de educação bilíngue há quatro anos, esse é um questionamento constante que a escola recebe dos pais no momento de matricular os filhos. Ela afirma que os pais chegam à escola com dúvida sobre as diferenças entre sistemas de cursos de inglês, escolas internacionais e programas bilíngues. Em seu ponto de vista, o programa de educação bilíngue entrega os resultados prometidos, pois o aluno adquire o segundo idioma de forma natural, “enquanto as escolas internacionais, por exemplo, oferecem ‘pseudovantagens’, já que o aluno conquista a fluência no inglês, mas, por outro lado, deixa a língua materna um pouco de lado durante o processo de aprendizado, o que acreditamos ser também muito importante para a formação de nossos alunos”.

De fato, as diferenças entre os métodos são bastante distintas e começam desde o objetivo geral e carga horária dos cursos. A finalidade principal de um programa de educação bilíngue é mediar a construção da língua inglesa por meio de uma educação global e significativa, com foco na fluência, por isso tem uma carga horária maior se comparada a do curso de inglês, que se baseia em desenvolver a competência linguística com foco na estrutura do idioma.

Reproduzimos as palavras de Rita Ladeia, outra referência nacional, do curso de pós-graduação bilíngue do Instituto Singularidades: “o programa bilíngue em escolas bilíngues tira a preocupação do aluno com a língua e chama a atenção para os conteúdos acadêmicos utilizando o idioma, ou seja, o foco é o conhecimento adquirido nas disciplinas através da língua. Desta forma e com este envolvimento, o aluno aprende a língua, sem ter que se preocupar em estudá-la diretamente. Já os cursos de inglês comuns se preocupam mais com a estrutura do idioma e tendem, na maioria das vezes, a abordar assuntos mais leves, do dia a dia, não contribuindo com a formação acadêmica do aluno” A proposta pedagógica do programa de educação bilíngue é justamente que o inglês seja utilizado como meio de instrução para ensinar conteúdo de outras matérias, como matemática, estudos sociais, ciências, artes, educação física e culinária. Durante o decorrer das aulas, conteúdo e língua são trabalhados de maneira integrada, norteados pelo princípio de estimular a expressão livre do aluno. Desta forma, com o uso e construção natural do idioma, o aluno adquire de forma subconsciente a segunda língua.

Já em um curso de inglês, geralmente, o idioma é ensinado como uma matéria e o uso de conteúdo é superficial, já que o foco principal é a língua em si, com ênfase na hierarquia gramatical dentro de um contexto comunicativo. Além disso, o escopo de produção do aluno costuma ser definido, cabendo ao professor fazer a mediação entre produção e estrutura linguística.

Diante de todas essas diferenças, o resultado final do ponto de vista linguístico também é distinto em relação aos cursos. No curso de inglês o aluno dependerá muito da sua aptidão linguística e esforço para atingir a fluência, enquanto no programa de educação bilíngue o aluno “se apropria” do segundo idioma, utilizando-o fluentemente e com naturalidade.

Rita Ladeia afirma que, em ambos os modelos, o aluno consegue alcançar a fluência no idioma, porém, a educação bilíngue circula por esferas do discurso que a escola de inglês não consegue. Por isso, a criança bilíngue consegue se expressar com mais profundidade e tem um amplo repertório temático que permeia diversas áreas da ciência, humanas e matemática.

Por se preocupar com a formação acadêmica do aluno em sua proposta pedagógica, utilizando a língua como uma forma de melhor interação com o mundo e como entendimento da diversidade, o aluno de educação bilíngue não só aprende outro idioma, como também adquire outros benefícios proporcionados pelo bilinguismo, como maior flexibilidade, confiança, independência, tolerância, respeito a diversidade e ainda a fácil transição e entendimento de outras culturas.

Este lado cultural da educação bilíngue é outro aspecto importante em relação ao aprendizado. Rita Ladeia diz que na escola de línguas, na maioria das vezes, se trabalha com o estereótipo de cultura, ou seja, como é a vida na Indonésia, como as pessoas se casam na Índia, como determinada data é comemorada nos EUA etc. Já a educação bilíngue se preocupa em ensinar a conviver com a diferença e a história por trás da formação do sujeito em diferentes lugares, abordando suas crenças, expectativas e singularidades. Assim, o aluno é preparado para conviver com o diferente sem estranhamento, com respeito e ética, entendendo que o outro tem direito de ser daquele jeito.

O aprendizado de outro idioma também é a primeira etapa para o ingresso futuro em uma instituição fora do País e a experiência acadêmica internacional tem sido cada vez mais valorizada devido as atuais demandas do mercado de trabalho e das dinâmicas de um mundo mais globalizado. Fátima e Vanessa Tenório, fundadoras de uma programa de educação bilíngue pioneiro no Brasil, quanto mais cedo o aluno tiver contato com o novo idioma, mais bem preparado ele estará para uma vivência internacional.

Fazer uma graduação, pós-graduação ou cursar o High School (o Ensino Médio) fora do Brasil são opções cada vez mais procuradas. De acordo com dados da Brazilian Educational & Language Travel Association (Belta), somente em 2015 cerca de 220 mil estudantes viajaram ao exterior e a previsão é de crescimento no número de intercambistas brasileiros. No entanto, para estudar no exterior é preciso estar preparado para as exigências que as instituições demandam, principalmente em relação ao domínio do idioma e, ao adquiri-lo desde a infância em escolas bilíngues, os jovens conseguem abrir diversas portas em seu futuro profissional.

Sobre o autor: Rone Costa é especialista em educação bilíngue e Development Manager no Systemic Bilingual

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