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Guia para Gestores de Escolas

Família & Escola: (Re)construindo as alianças no retorno às aulas presenciais

Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação

A instituição escolar e o núcleo familiar constituem, juntos, uma aliança de extrema importância para o desenvolvimento dos estudantes em diversos aspectos. Com a pandemia da Covid-19 e as suas repercussões, observamos uma intensificação no entrosamento entre família e escola. Atualmente, com o retorno das aulas presenciais em vários estados, como manter o denso entrosamento entre familiares e estudantes?

A relação família-escola, assim como diversas interações com/no cotidiano escolar, sofreu alterações significativas desde a instauração da pandemia do novo coronavírus no primeiro semestre de 2020. Após quase dois anos em aulas totalmente on-line, atualmente atravessamos um período de maior flexibilização e com grande parte das instituições de ensino operando em regime presencial.

Nesse processo de transições, é preciso estreitar o olhar para a preservação do elo família & escola. Se nos semestres anteriores tivemos uma alteração que atrelou a rotina de pais e/ou responsáveis no cotidiano direto dos/as estudantes, como manter essa relação família & escola no retorno às aulas presenciais? Para adentrar nessa discussão, conversamos com psicólogas, diretoras/diretores, coordenadoras e questionamos: Quais ações podem ser realizadas para manter o vínculo entre familiares e escola nesse momento de retorno das aulas presenciais?

Ana Paula Pontes de Castro

“No retorno às aulas presenciais, alunos e pais ficam ansiosos. Por isso, há a necessidade de permanência do vínculo escola-família, e acredito que os momentos de escuta e diálogo são os melhores caminhos para o retorno tranquilo. Nesse sentido, é fundamental uma preparação segura dos cuidados e regras para o retorno. É preciso momentos de reflexão com as famílias e garantir a comunicação contínua e o acesso à informação. Uma boa estratégia são os atendimentos individuais entre a escola e a família, pois fortalecem os laços e auxiliam em questões específicas do estudante, personalizando a orientação e o acompanhamento. A escola deve se manter acolhedora, proporcionando informação, parceria, segurança e empatia.”

Ana Paula Pontes de Castro – Orientadora educacional no Colégio Academia (Juiz de Fora)

Camila Cury

“O retorno às aulas presenciais está acompanhado de muitos desafios: recuperar o possível atraso de conteúdo, ter cuidado para que os protocolos de saúde sejam seguidos e, principalmente, lidar com as emoções de alunos, famílias e educadores. Por isso, mais do que nunca, o vínculo entre família e escola precisa ser fortalecido para que toda a comunidade escolar passe por esse período com inteligência emocional e leve na bagagem da vida competências e habilidades essenciais para este novo mundo. 

Nas primeiras semanas da retomada, é importante trabalhar práticas de acolhimento e fomentar ações para a saúde e segurança. Para isso, é fundamental criar momentos nos quais todos se sintam seguros para trocar ideias, verbalizar seus sentimentos e escutar o outro. Dinâmicas e rodas de conversas presenciais e atividades artísticas para casa que envolvam os familiares são algumas ideias para a escola acolher, demonstrar empatia e fortalecer o vínculo com as famílias.”

Camila Cury – Psicóloga e fundadora da Escola da Inteligência

Jacqueline Chiarello Daraia

“O principal vínculo é o olhar cuidadoso da equipe docente e pedagógica para o aluno, especialmente após um período extremamente atípico. Esse olhar, que deve ser feito de forma individual, avaliando cuidadosamente o desenvolvimento do aluno, precisa ser frequente, com oportunidades para aplicações de sondagens diagnósticas e estratégias imediatas. É importante que os educadores tenham a percepção de que é necessário entender o aluno como um ser único e, sendo dessa forma, as avaliações e impressões das análises não são restritas apenas ao desenvolvimento cognitivo, elas estendem-se para as áreas sociais, afetivas e emocionais. Tendo em mente essas ações, é possível criar vínculos e estabelecer parcerias com as famílias.”

Jacqueline Chiarello Daraia – Diretora do Colégio Stella Maris (Unidade Juvevê)

Rafael Sanchez

“Com relação ao retorno das aulas presenciais e ao fortalecimento do vínculo entre familiares e escolas, uma das principais ações que a escola pode fazer é cuidar da sua comunicação. Não basta a escola planejar o retorno com todo o cuidado e atenção sem que os pais consigam visualizar isso. É muito importante que a escola comunique o que ela vai fazer e porque ela vai fazer. Assim, a escola torna visível todo o seu cuidado e atenção com as crianças que estão chegando e permite que os pais se sintam mais seguros com esse processo.

Outra ação essencial é dar o feedback para os pais sobre como está sendo esse retorno às aulas presenciais: se o filho teve alguma dificuldade, se ele se adaptou bem, quais ações os pais podem fazer em casa; assim como perguntar aos pais o que os filhos têm falado em casa. Ter essas informações pode ajudar muito no planejamento, tanto para a reta final do ano quanto para o início do ano que vem, que está logo aí.”

Rafael Sanchez – Co-fundador e COO da Scaffold Education

Flávia Moreira Fragoso

“Neste momento, em que a volta às aulas não ocorre seguida das férias, mas após um longo período de estresse causado pela pandemia, toda a escola precisa estar atenta com os alunos, e também com seus familiares. A comunicação escola/família, assim como foi durante o isolamento, é primordial para manter o sucesso da educação. Para que isso aconteça, apostamos em reuniões on-line e em manter a escola aberta para torná-la a segunda casa de nossas crianças e jovens. Muitos passaram por perdas significativas desde o falecimento de entes queridos e até perdas materiais. É muito importante que se sintam seguras no retorno às aulas.

Durante o estudo remoto, tivemos que desenvolver estratégias e inovações para que todos entendessem os comandos de maneira harmoniosa e ninguém ficasse para trás, nem os alunos, nem os professores. Neste ponto, manteremos as unidades ativas nas redes sociais, atualizando os eventos da escola, com apps com comunicados, chat com a coordenação, palestras para alunos com temas relevantes em cada segmento, lives, parcerias com os pais para, cada vez mais, trazer para a escola a modernidade.”

Flávia Moreira Fragoso – Diretora pedagógica da Rede Daltro Educacional

Carolina Rodeghiero

“O vínculo entre escola e família pode se beneficiar da maneira com que a escola inclui na experiência de aprendizagem do aluno os seus interesses, suas paixões, sua trajetória e experiência familiar. Quando o estudante tem a oportunidade de vincular uma aula ou atividade da escola a algo que faz parte de sua vida fora dela, há aí uma chance preciosa de engajamento deste aluno no que é proposto pelo professor, bem como o incentivo para que este aluno compartilhe seus projetos e ideias fora da escola, com seus amigos e familiares.

Da mesma forma, em casa, é importante que os familiares, especialmente os adultos, demonstrem respeito pelas ideias, formas de expressão e criação dos estudantes. Uma criança ou um jovem que se sente ouvido dentro de casa tem muito mais chances de se sentir confortável para se expressar fora dela, na escola e na vida de forma geral. Pais que se permitem aprender com os filhos, avós que compartilham seu conhecimento e ouvem o que os netos têm a dizer, trocas constantes entre familiares de diferentes faixas etárias e experiências de vida são um ponto de partida e mesmo uma consequência do estreitamento das relações entre família e escola, em uma só comunidade.”

Carolina Rodeghiero – Coordenadora pedagógica da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa e pesquisadora do MIT | Lifelong Kindergarten Group

Antunes Rafael

“O retorno às aulas presenciais, por si só, já garante uma maior proximidade entre família e escola. Essa sempre foi uma das principais queixas do formato on-line das aulas. Por isso, todos estavam ansiosos para que esse retorno acontecesse. Diante dessa nova realidade, tendo os alunos presencialmente no ambiente escolar, é importante que haja ações para essa ressocialização. É necessário que ocorra a ressocialização não somente dos alunos como também da própria família, na retomada dos vínculos e comprometimento com as atividades escolares.

Uma sugestão importante é a realização de reuniões periódicas com as famílias, explicando esse retorno e os novos compromissos que devem ser assumidos por alunos e pais nesse processo. Outra ação importante é criar espaços de acolhimento e escuta para que eles possam apresentar suas dúvidas, anseios e queixas. Dessa forma, a escola poderá conhecer as demandas específicas de sua clientela e atuar de forma mais pontual, criando um local para atendimentos individualizados.”

Antunes Rafael – Diretor pedagógico geral do Colégio Oficina do Estudante de Campinas (São Paulo)

Helen Mavichian

“A tão esperada volta à escola depois de quase dois anos de isolamento pode não ser tão bem-vinda, apesar de ser tão aguardada. Após meses de isolamento, esse retorno será marcado por muita ansiedade, pois todos (família, professores e alunos) estão lidando com uma rotina nova que precisa de muito acolhimento. Portanto, o foco nesse contexto não deve ser o conteúdo programático previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mas sim essa readaptação repleta de compreensão e carinho. Precisamos lembrar também que existirão famílias que não aceitarão de forma alguma que seus filhos retornem para o ensino presencial. Com muito respeito e acolhimento a parceria da escola vai ser ainda mais forte e importante mostrando quão positivo é para a criança o ambiente escolar.”

Helen Mavichian – Psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

Anna Paula Jorge Jardim

“Para o retorno das aulas presenciais, aqui no colégio, o diálogo com os pais e alunos foi essencial. Colocamos em prática todos os protocolos sanitários e a transparência do nosso compromisso de zelo e cuidado com a vida. Estamos caminhando muito bem neste processo de adaptação e transmitindo a importância do ‘retomar ao espaço coletivo’. Escola e família precisam compreender que não somos os mesmos. Investir na formação integral dos alunos, trabalhando as habilidades socioemocionais é um dos caminhos. Nessa linha, estreitamos os laços com alunos e familiares. A atuação da família e da escola deve convergir para um mesmo objetivo: tornar o ambiente escolar seguro e acolhedor.”

Anna Paula Jorge Jardim – Vice-diretora do Colégio Nossa Senhora das Dores (Belo Horizonte)

Andrielle Petersen

“Não podemos, após um grande período de pandemia, deixar de destacar que nossas escolas passaram por uma grande reformulação. Porém, é extremamente necessário que, nesse retorno, consigamos diagnosticar as lacunas de aprendizagens deixadas durante o ensino remoto, visto que estávamos nos adaptando a essas novas formas de frequentar a escola, por hora virtualmente, para que seja possível identificar e auxiliar da melhor forma nossos educandos para que possamos avançar os conteúdos. Para isso, o apoio e a parceria entre escola e família é primordial, somente com esse vínculo forte vamos atingir os objetivos nesse retorno pós-pandêmico das escolas. Nós, da LUMA Ensino, prezamos muito por essa parceria com a família, consequentemente com aprendizado do aluno. Entendemos que o educando tem muito mais chances de desenvolver suas habilidades e competências com excelência, sabendo que possui uma forte rede de apoio familiar no seu percurso escolar.”

Andrielle Petersen – Professora de Anos Iniciais e responsável pelo setor pedagógico da LUMA Ensino Individualizado

Marina Nordi Castellani

“Para o retorno presencial, a comunicação precisa continuar sendo estreita e detalhada nos diversos canais que as escolas disponibilizam, transmitindo muita segurança em relação aos protocolos de abertura, com positividade para as mudanças e novas adaptações. É fundamental que a equipe esteja muito alinhada com cada passo e que foque no acolhimento dos alunos e famílias nesta retomada mais intensa, tentando antecipar possíveis situações entre os alunos, dando espaço para acolhimento de sentimentos e desafios relacionados à gestão das relações. Na Escola Mais, além do preparo da equipe para este acolhimento, já realizamos como parte da nossa proposta, a prática de mentoria, momento em que um professor-mentor dedica a uma turma atenção especial e mais individualizada.”

Marina Nordi Castellani – Diretora pedagógica da Escola Mais

Annelize de Farias Lenci

“Com o retorno presencial dos alunos após o período de isolamento social, uma das primeiras ações foi recebermos os estudantes de forma diferenciada já na entrada da escola. Não somente os funcionários da portaria, mas eu, como diretora, e a equipe pedagógica, esperamos os alunos na porta do colégio como um símbolo do reinício da aproximação. Retomamos também ações como sessões de café da manhã com as famílias de cada classe com o propósito de integrar a comunidade no ambiente escolar e engajar os novos pais aos grupos dos pais mais antigos.

No ambiente on-line mantivemos o projeto ‘Momento da Leitura’, implantado durante o sistema híbrido, com objetivo de estimular o hábito de leitura em família por 15 minutos diários. Nesse horário, da própria residência, estudantes e seus pais se conectam com a escola em uma chamada de vídeo e cada uma faz a leitura do seu livro de cabeceira ao som de uma música suave. Ficamos todos juntos, à distância, porém conectados por um hábito que cria vínculos e amplia o aprendizado. Além disso, um trabalho psicopedagógico também está disponível para aqueles que sentem necessidade de um apoio mais próximo em razão de diversos problemas que podem ter sido causados pela pandemia da Covid-19.”

Annelize de Farias Lenci – Diretora do Colégio Belo Futuro Internacional

Luciana Deutscher

“Promover uma visita guiada pelos próprios alunos onde mostrem como está funcionando este retorno, às medidas tomadas pela escola juntamente com atividades lúdicas conjuntas entre o corpo docente, alunos e familiares especialmente preparadas para essa integração em dia e horários fora do regular que possibilite às famílias estarem presentes e participando e que aconteça de forma regular não somente em datas festivas ou uma vez por ano!

O dia da família na escola deve acontecer com frequência: por exemplo, a cada dois ou três meses, atividades esportivas, palestras, gincanas com o conteúdo que os alunos estão aprendendo no momento; projetos executados em família no ambiente escolar com frequência fazem com que as famílias se sintam pertencentes à escola e mais próximos do que vivenciam seus filhos. Assim como faz com que professores e coordenadores conheçam e se aproximem das famílias.”

Luciana Deutscher – Psicóloga clínica

Ivonne Muniz

“É muito importante envolver a família toda com a cultura escolar, de forma que ela se sinta atraída a participar do desenvolvimento do estudante de uma forma mais global. Isso vai muito além de acompanhar as tarefas, notas e lições. Na Escola do Futuro promovemos eventos que estimulam a pensar sobre valores que reverberam positivamente na sociedade. Eventualmente fazemos imersões para os familiares entenderem a cultura escolar na qual os filhos estão inseridos. Anualmente promovemos convenções estudantis em que os pais acabam se envolvendo nas ações sociais propostas. Recentemente, os familiares de alunos da Educação Infantil se voluntariaram para fazer o Dia das Crianças de comunidades carentes. No fim do ano, os estudantes do Ensino Fundamental vão elaborar kits de higiene pessoal para doar. Essas ações atraem toda a família a se envolver – e sabemos que dar esse exemplo tem um efeito grandioso na vida de uma criança.”

Ivonne Muniz – Diretora Executiva da Escola do Futuro de São Paulo

Jaqueline Dias Cunha

“Cientes do quanto o ensino foi comprometido com a pandemia, todos compreendemos a necessidade do retorno às aulas. Para tanto, é importante que a escola e as famílias estejam alinhadas nesse retorno. Por se tratar de um movimento relativamente novo para todos, recomenda-se manter o máximo de cautela possível. É importante que os pais e a comunidade estejam atentos ao calendário escolar e às informações e medidas que cada escola adota como protocolo neste momento. Quanto à unidade escolar, é importante que haja uma comunicação que seja a mais clara e objetiva possível, com os pais e alunos. Disponibilizando, se for o caso, alguma cartilha ou canais de comunicação a fim de facilitar a comunicação e o vínculo entre a escola e a família e aberta a acolher as demandas dos alunos e seus familiares, oferecendo um espaço de escuta que contribuirá para a compreensão da necessidade de cada família neste momento que ainda inspira atenção e cuidado, bem como caso necessário, detecte a necessidade de um encaminhamento para um equipamento ou serviço mais especializado onde o aluno e/ou família será melhor assistido(a).”

Jaqueline Dias Cunha – Psicóloga MedicalSeer

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