fbpx
Guia para Gestores de Escolas

Férias para quem mesmo?

Por Fernanda King

Vai chegando o final do ano e tanto os alunos quanto os professores começam a contagem regressiva para as tão sonhadas férias. No entanto, para alguns gestores de escolas, é só o início de um período de grande reflexão sobre quais são os melhores rumos a tomar para o futuro ano letivo.

Nas creches particulares, então, nem se fala… muitas não têm nem essa pausa! Emendam seus calendários ano após ano com cursos de férias para atenderem as demandas das famílias, que pedem que a escola não feche com o argumento de que eles precisam trabalhar. E, reféns da necessidade de manter alunos, as chamadas “escolinhas” concedem o benefício.

Bom, o fato é que enquanto de um lado as famílias dos alunos se desesperam com o dilema “o que fazer com esta criança em casa por tanto tempo?”, de outro, os mantenedores quebram a cabeça com contas a pagar, qual sistema de ensino escolher, ou até mesmo pensando em quem demitirão ou manterão no quadro de funcionários para 2025.

É óbvio que todo ser humano precisa de uma pausa no trabalho para o bem da sua saúde mental. Entretanto, em muitos casos, os processos ainda dependem do trabalho do proprietário, especialmente se a escola for de pequeno porte. E esta é a grande realidade de muitas instituições de ensino no Brasil. É como diz o ditado: o olho do dono é que engorda o boi. Mas será que os diretores não merecem ter seus dias de descanso em paz? Podem e devem, mas os medos costumam rondar a cabeça agitada destes líderes. Hoje, mais de 70% dos empreendedores sofrem com algum tipo de transtorno de saúde mental, segundo matéria recente do SEBRAE.

A pressão financeira é o principal fator para a mente do empreendedor não descansar nunca. Contas a pagar e a responsabilidade de ter muitas famílias dependendo do seu negócio certamente são motivos suficientes para muita gente perder o sono. Lembram da pandemia? Eu não gosto nem de lembrar… as matrículas caindo e todo mundo sem saber como seria o dia de amanhã. No mínimo desesperador! E a preocupação com a perda de clientes vive em muitos até hoje. Um estudo feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) demonstrou que, apenas no período da pandemia, 30% dos empreendedores brasileiros buscaram apoio psicológico e iniciaram tratamento para Síndrome de Burnout.

Além disso, a falta de uma equipe confiável também faz com que muitos mantenedores não descansem nunca. Achar gente boa no mercado, treinar e delegar tarefas é um grande desafio – que ainda esbarra em conflitos geracionais, como a diferença de pensamento e visão de mundo das gerações Y e Z. A primeira tem mais “paixão” pelo trabalho, tendo dificuldade de estabelecer as fronteiras entre a vida pessoal e a profissional, enquanto a segunda é mais instável, trocando de emprego com muita facilidade. O convívio entre tantas diferenças no dia a dia não é nada fácil! E será que a geração Z está certa em não querer liderar e não gostar de assumir tantas responsabilidades que às vezes financeiramente nem compensam tanto assim? Ou será que são simplesmente adultos que “não cresceram” porque seus pais foram permissivos? Fica o eterno questionamento…

E para além destas questões existenciais, temos que focar no caminho para conseguirmos ter merecidos dias de folga em paz – o que, apesar de clichê, é sempre o mesmo: planejar, delegar e criar processos. Não tem como fugir disso. O primeiro passo é buscar ajuda para entender que não somos eternos, tampouco insubstituíveis. Se livrar do medo da perda do controle é o primeiro passo para muitos empreendedores que têm dificuldade em delegar tarefas e que só confiam em sua própria capacidade de tomar decisões.

Lembre-se que tudo que escolhemos na vida gera efeitos a curto, médio e longo prazos. O empreendedor é mais resiliente e muito mais apto a lidar com as incertezas e frustrações da vida do que a grande maioria dos seres humanos – mas precisa entender que não é super-herói! Carregar o mundo nas costas vai trazer consequências à saúde cedo ou tarde. Muitos empresários não veem a necessidade de tirar férias, mas elas são imprescindíveis para aumentar inclusive a produtividade.

Muito se fala sobre o líder ser uma inspiração para os seus liderados. Mas no fim das contas, quem cuida de quem cuida? Muitas vezes, ninguém. Somos nós por nós mesmos. A liderança é extremamente solitária. Então, se você está nessa de viver só para a empresa, tente se priorizar um pouquinho e dizer um “eu mereço” de vez em quando. Treine sua equipe gradativamente para não depender de você. Seja o líder que forma novos líderes e assim, quem sabe, leve a vida de forma um pouco mais leve.

Receba nossas matérias no seu e-mail


    Relacionados