Gestão de impacto nas escolas: Meritocracia versus contraculturas que barram as inovações
Matéria publicada na edição 88 | Maio 2013 – ver na edição online
Partindo do princípio que meritocracia é um sistema de reconhecimento através do mérito, podemos dizer que o Brasil utiliza esses princípios em algumas ocasiões, como em concursos públicos, no pagamento de comissões de vendas e em muitas empresas multinacionais. A área educacional também emprega estes princípios quando um aluno faz prova, presta vestibular ou é avaliado em instrumentos como a Prova Brasil, o IDEB e o ENEM.
Porém, o Brasil não utiliza a ideologia meritocrática de forma mais ampla e profunda, entendida como a análise do desempenho e, por consequência, o reconhecimento público através da capacidade e do esforço de cada indivíduo ou equipe, com o objetivo de estimulá-lo a continuar a evoluir, e assim criar protótipos, isto é, modelos que sirvam de exemplo para outros colaboradores.
O importante não é apresentar apenas tabelas de comissões e premiações, e sim utilizar a ideologia meritocrática para contrabalancear as várias contraculturas que atrapalham o dia a dia das escolas, como a procrastinação, infantilização das atitudes dos funcionários, a falta de moral, de responsabilidade, de esforço e de comprometimento. Enfim, que seja uma ferramenta que auxilie as instituições de ensino a melhorarem a sua qualidade pedagógica e seu atendimento.
Nosso foco é especialmente aquele funcionário reativo, acomodado, despreocupado de onde vem o seu salário e que espera sempre a ação do Estado, da Sociedade e da Empresa para a solução de seus problemas. Este tipo de colaborador representa a antítese do personagem que deve ser um professor de vanguarda: autônomo, competitivo, empreendedor, criativo, proativo, esforçado, tendo o trabalho como um dos valores centrais de sua existência, justamente por ser um educador.
A ideologia meritocrática tem que colocar em seus ombros a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso de sua vida, ignorando as outras variáveis para que estas não atuem como bodes expiatórios. Não à toa, a meritocracia é tão bem acolhida no meio empresarial que se baseia na empregabilidade e no autodesenvolvimento.
Diferente de algumas décadas atrás, quando ter um professor na família gerava orgulho, hoje em dia lecionar tornou-se sinônimo de ganhar mal e aguentar alunos agressivos, mal educados e mimados. O número de professores formados vem caindo ano a ano e os jovens, com melhor recurso socioeconômico e consequentemente melhor base educacional, pouco se interessam pela área pedagógica. A grande parcela dos professores que fica está despreparada e exigindo um trabalho de formação por conta da coordenação. O que acontece, então, é uma sobrecarga de trabalho e de estresse para esse gestor.
Na verdade, a coordenação tem que preencher esta lacuna educacional que o próprio sistema criou para transformar o professor em um educador qualificado. A dificuldade é grande porque a escola é uma organização que demanda muita energia, amor e concentração. “É como ensinar um piloto a dirigir um carro a 150 km por hora.”
Ao longo deste ano de 2013, abordamos justamente a maneira como as escolas podem fazer a gestão desses processos (Os artigos anteriores estão disponíveis em minha coluna no site da Revista Direcional Escolas, em www.direcionalescolas.com.br). E na próxima edição, do mês de junho/julho, iremos tratar sobre como transformar as escolas nesse ambiente qualificado, sem privilégios nem corporativismos, onde prevaleça a ideologia meritocrática.
Por Christian Rocha Coelho
Christian Rocha Coelho é especialista em andragogia e diretor de planejamento da maior empresa de gestão, pesquisa e comunicação pedagógica do Brasil, a Rabbit Partnership.
Mais informações: (11) 3862.2905 / www.rabbitmkt.com.br / [email protected]