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Guia para Gestores de Escolas

A importância da integração de profissionais de saúde e educação nas escolas

Imagino que algumas pessoas se perguntem qual a vantagem do trabalho conjunto entre educação e uma equipe multidisciplinar de saúde com o acompanhamento de Fisioterapeuta, Fonoaudióloga e Terapeuta Ocupacional. Outro questionamento comum é se realmente é importante para o professor aprender sobre assuntos relacionados à saúde, que não fazem parte da sua formação na esfera educacional. Afinal, ele não pode, nem deve fazer diagnósticos em sala de aula.

O início desta resposta está no fato de que grande parcela das crianças na primeira infância, em todas as classes sociais, passa grande parte do seu tempo na creche ou escola. Desta forma o professor, com um preparo especializado, observa e constata os primeiros balbucios, a primeira papinha, quando e como sentou, engatinhou, andou, entre os tantos acontecimentos neste tempo tão fértil dos primeiros dois anos da criança.  Sendo assim, o treinamento dos professores para identificar limitações nas crianças é de extrema importância para diagnosticar problemas que podem ter tratamento mais eficaz, se for feita a intervenção correta ainda na primeira fase da vida da criança. Eles são as pessoas mais indicadas, para, em parceria com a família, olhar para as dificuldades e pensar estratégias para enfrentá-las.

Nas últimas décadas, as neurociências ampliaram seu conceito sobre plasticidade neural (a capacidade de modificação do sistema nervoso, em função de suas experiências), constatando que esse processo ocorre durante toda a vida do indivíduo e não somente na infância. Porém, constatou-se também a existência de períodos de tempo em que o sujeito é mais suscetível à influência de alguns eventos, chamados de período crítico e período sensível. Período crítico é aquele período de tempo em que o processo é influenciado de forma irreversível. Período sensível é aquele no qual a aprendizagem de habilidades e o desenvolvimento de aptidões e competências acontece de forma facilitada.  Um dos exemplos de período crítico é o tempo de desenvolvimento da visão. Esse processo ocorre até os 7 anos. Após esse período, não existe mais desenvolvimento.  Um dos exemplos de período sensível é a aprendizagem de idiomas. Temos maior facilidade para aprender o idioma com fluência e sem sotaques na infância. Também é possível aprender depois, já adultos, porém a dificuldade é muito maior.

O conhecimento tanto da plasticidade neural, quanto dos períodos crítico e sensível são relevantes para os professores, pois esses podem ser o primeiro ou o único acesso de algumas crianças à resolução dos seus problemas. Quantos de nós descobrimos a necessidade do uso de óculos após o comentário da professora sobre nossa dificuldade para enxergar a lousa? Ou quantas crianças descobriram alterações auditivas após a professora identificar a dificuldade para ouvir a explicação?

Obviamente o trabalho do professor não substitui a avaliação médica ou terapêutica, mas quando o professor possui uma formação mais qualificada e a consciência da importância de uma intervenção precoce, ele pode ser um agente de mudança na realidade das crianças.

Acredito realmente que a utilização de recursos e conhecimentos de reabilitação podem ser úteis para sensibilizar o olhar do corpo docente para pontos que merecem atenção.  Adicionalmente, a partir deste olhar mais sensível e crítico, ele pode elaborar estratégias realistas e adequadas para a necessidade do aluno, promovendo uma inclusão justa não somente para aqueles com algum tipo de deficiência, mas para todos que de alguma forma enfrentam dificuldades no processo escolar. Acredito também que a área de educação alinhada a uma equipe multidisciplinar, especializada na capacitação de escolas para receber alunos com deficiência, possa fazer uma inclusão realmente assertiva, além de poder mudar o curso de vida de milhares de crianças, auxiliando a descobrir limitações a tempo de tratá-las ou solucioná-las.  Apesar de serem áreas distintas, possuem como ponto comum o bem estar da criança. Dessa forma, podem aliar forças e articular estratégias adequadas para ambos. Assim, mais e mais crianças podem receber estímulos e cuidados necessários para um desenvolvimento saudável e de maior qualidade na aprendizagem, aproveitando os períodos sensíveis e respeitando os períodos críticos.

Janaina Yoko Nascimento – Terapeuta ocupacional especializada no preparo de instituições de ensino para receber alunos com deficiência da HUMANAI.

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