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Guia para Gestores de Escolas

Conversa com o Gestor — Inclusão/ Colégio Rio Branco (SP) – Experiência leva ao refinamento de todo processo de ensino

img47Uma das mais tradicionais instituições de ensino de São Paulo, com quase quatro mil alunos em duas unidades (Higienópolis e Granja Viana), o Colégio Rio Branco desenvolve um trabalho diferenciado em inclusão, destacando-se, por exemplo, a Escola para Crianças Surdas, com três décadas de atuação, além da estratégia própria que criou para atuar em face de distúrbios como déficit de atenção, dislexia e Síndrome de Asperger, entre outros. Acompanhe abaixo a entrevista de sua equipe sobre este trabalho, em respostas encaminhadas pela diretora geral Esther Carvalho, pelas orientadoras dos Núcleos de Apoio, Carla Marquart e Cinthya Nagasse, a supervisora pedagógica na unidade da Granja Viana, Carolina Sperandio, e a coordenadora de inclusão dos alunos surdos, Mirian Caxilé.

Revista Direcional Escolas – Como são feitos os processos de inclusão no Rio Branco?

Equipe Rio Branco – Aprender a trabalhar com dificuldades específicas tem sido um desafio para as instituições de ensino como um todo. Um dos princípios do trabalho é fundamentá-lo em diagnósticos de especialistas, pois a escola não tem competência para diagnosticar distúrbios de aprendizagem ou de outra natureza. Ao identificar algum elemento que possa sinalizar dificuldades específicas da criança ou jovem, a escola orienta a família para buscar especialistas.

Uma vez diagnosticado uma variável, procuramos aproximar, ao máximo, os alunos com necessidades especiais do contexto da turma, tanto em termos de desempenho acadêmico, como de socialização. Do contrário, tratar-se-ia apenas de integração e não, de inclusão.

A intenção não é substituir o papel dos especialistas que auxiliam o aluno fora da escola. Mas sim estudar, preparar os professores para atender às necessidades legítimas de cada aluno, dentro de um ambiente coletivo que é a sala de aula.

No caso da educação de surdos, nossa mantenedora, a Fundação de Rotarianos de São Paulo, tem experiência de mais de 30 anos na questão por meio da Escola para Crianças Surdas Rio Branco. O trabalho com os alunos é realizado a partir de um programa de estimulação de desenvolvimento para bebês e continua na Educação Infantil e Ensino Fundamental I em classes específicas para surdos. Nessas etapas o trabalho é bilíngue, em que a primeira língua trabalhada no ambiente escolar é a Libras (Língua Brasileira de Sinais), e a segunda é a Língua Portuguesa Escrita.  Todas as aulas são ministradas em Libras e o corpo docente é composto por professores surdos e ouvintes.

Quando os alunos da ECS Rio Branco terminam o 5º ano, são inseridos no Colégio Rio Branco na classe de ouvintes e são acompanhados, em todas as aulas e / ou atividades do Colégio, por um tradutor intérprete de Libras/Língua Portuguesa. Nesse ano de 2011 teremos, na Unidade Granja Vianna, nossa primeira formatura de Ensino Médio com alunos surdos.

Revista Direcional Escolas – Qual o perfil dos demais alunos com necessidades especiais atendidos em suas unidades?

Equipe Rio Branco – Na Unidade Granja Viana atendemos surdos e alunos com distúrbios de aprendizagem.  Como exemplo de distúrbios temos Déficit de Atenção, TDAH, Dislexia, Alteração do Processamento Auditivo, Síndrome de Asperger, Transtorno Invasivo do Desenvolvimento e Síndrome de Tourette.

Revista Direcional Escolas – Qual o suporte de formação oferecido aos professores?

Equipe Rio Branco – No caso do trabalho com os distúrbios de aprendizagem, os professores recebem informações sobre os quadros clínicos apresentados, bem como orientação de estratégia de intervenção em sala de aula. Contam, para isso, com um profissional denominado Orientador de Núcleo de Apoio que acolhe alunos, especialistas, familiares e professores para oferecer o melhor acompanhamento.

No trabalho com surdos, a Escola para Crianças Surdas Rio Branco assessora o trabalho dos professores e equipe técnica, por meio de oficinas, palestras, dinâmicas e reuniões mensais do grupo de Inclusão. A Inclusão é um dos eixos de aprimoramento definidos pelo Colégio e tem como objetivo tratar da inclusão dos alunos surdos no que diz respeito à adequação das aulas, adaptação das avaliações, integração dos alunos surdos com os alunos ouvintes, adaptação do espaço físico com sinais luminosos, telefone para surdos, placas de sinalização, cadeira ergonômica para os intérpretes, aula de Língua Portuguesa como segunda língua e oficinas de Libras para os funcionários e alunos.

O trabalho com os alunos surdos tem feito a equipe evoluir muito, não somente nos aspectos da cultura surda como no refinamento da  visão sobre o processo de ensino e aprendizagem como um todo.

Revista Direcional Escolas – Como atuam os profissionais de apoio?

Equipe Rio Branco – As Orientadoras Educacionais do Núcleo de Apoio, em parceria com os demais Orientadores, são as principais responsáveis pelo acompanhamento aos alunos com dificuldades de aprendizagem.  Os procedimentos de apoio variam de acordo com cada necessidade e demanda. Alguns exemplos: posição preferencial em sala de aula (próxima ao professor), tempo a mais para a realização de atividades ou provas, leitura das questões para os alunos com Dislexia, adaptação de atividades no computador para o aluno com Transtorno Invasivo do Desenvolvimento.

Entendemos que as intervenções só são efetivas se forem realizadas em parceria com as famílias, profissionais especialistas (psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos, neurologistas etc.) e a equipe escolar. Por isso, a comunicação direta entre todos é uma constante.

Para o trabalho com alunos surdos, na Unidade Granja Viana, contamos com uma coordenadora de inclusão de alunos surdos que atua com docentes, intérpretes e alunos. Contamos também com um estúdio de gravação para dar suporte à produção de materiais e provas com suporte visual. Coerentemente com o trabalho realizado com as crianças até o 5º ano, em que a educação de surdos é bilíngue, tendo Libras como primeira língua, o aluno, ao ingressar no 6º ano, passa a fazer o curso de Português como segunda língua. Esse curso é ministrado por duas professoras ouvintes especialistas em Língua Portuguesa.

Revista Direcional Escolas – Qual o tipo de abordagem é feita com o grupo de crianças, com o coletivo, em torno das diferenças?

Equipe Rio Branco – Temos o cuidado de não expor esses alunos perante o grupo, desnecessariamente, pois sabemos que isso afeta o aspecto emocional. No entanto, quando isso se faz necessário, procuramos esclarecer ao grupo sobre a dificuldade que o aluno apresenta, trabalhando com o respeito à diversidade de características que os seres humanos apresentam. No caso dos alunos surdos são realizadas oficinas para promover a troca de experiências e conhecimento da cultura surda, momentos de sensibilização e apresentações. Além disso, a própria convivência diária em sala de aula, inclusive com a realização de trabalhos em equipe, promove uma integração que torna o convívio natural.

Revista Direcional Escolas – Há situações (tipos de dificuldades de aprendizagem) que se tornam impossíveis de serem atendidas em um ambiente coletivo de aprendizagem? Equipe Rio Branco –Com o passar do tempo temos vencido desafios com o auxílio das equipes envolvidas que se debruçam na busca de soluções para os problemas que surgem e discutem estratégias para aprimorar cada vez mais o trabalho.

O Projeto Político Pedagógico, que se orienta por um fazer cotidiano que objetiva a aquisição de conhecimentos e competências permeados pelo diálogo, respeito à diversidade, atitude crítica e edificada em princípios éticos e de solidariedade; os Eixos de Aprimoramento (com o Trabalho em Equipe, Ensino Estruturado, Ler para Aprender e Inclusão); o Núcleo de Apoio e a própria formação da equipe técnica e docente trabalham em prol da inclusão.

A estrutura do Colégio Rio Branco favorece esse trabalho tendo como princípios norteadores da ação educativa: mente aberta, acolher e educar, diversidade, flexibilidade curricular, conteúdos como meios, responsabilidade sobre a aprendizagem do aluno, portanto, acolhe a diversidade reconhecendo nela uma oportunidade.

Tem sido um aprendizado constante com as dificuldades de aprendizagem ou com portadores de deficiência. Há sempre uma análise profunda de nossa parte, se nós temos condições de fazer o melhor pelo aluno e, quando nos vemos nessas condições, somos muito gratos pela oportunidade em desenvolver o trabalho com eles.

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Esther Carvalho
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