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Guia para Gestores de Escolas

Novo Ensino Médio: os desafios das escolas na implementação do novo modelo de aprendizagem

Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação

Protagonismo, flexibilização curricular, formações gerais e específicas, e uma atenção maior às necessidades dos jovens na atualidade: esses elementos contemplam os principais objetivos do Novo Ensino Médio, mudança estrutural que adentra a realidade dos estudantes e das escolas a partir deste ano. Diante dessas mudanças, quais são os desafios encontrados na implementação prática dessa nova configuração de ensino?

O Novo Ensino Médio é uma mudança significativa que adentra no sistema atual de ensino. A partir da Lei nº 13.415/2017, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e estabeleceu mudanças estruturais, a configuração do Novo Ensino Médio surge com um currículo flexível, aumento de carga horária e possibilidade de trilhar itinerários formativos com foco nas áreas de conhecimento de interesse e formações técnica e profissional.

A organização desse modelo de ensino está programada para ocorrer de forma gradativa, tendo a sua implementação prática com início neste ano e a conclusão do seu ciclo nas três séries do Ensino Médio até 2024. Para adentrar na temática da implementação e nos aspectos que surgem no decorrer do processo, trouxemos neste especial falas de especialistas, coordenadoras/es e diretoras/es que responderam o seguinte questionamento: quais são os desafios das escolas com a implantação do Novo Ensino Médio?

Talita Marcilia – Coordenadora pedagógica do Ensino Médio do Colégio Humboldt

“Alguns desafios da implementação do Novo Ensino Médio passam primeiro pelo ajuste na grade horária: as escolas precisam pensar em como elas vão dispor a formação geral básica, que é o núcleo comum e obrigatório a todos os alunos; e depois, os itinerários formativos, que são as matérias que eles poderão escolher para cursar.

Para a nossa escola, essa reestruturação de grade foi diferente, porque nós já temos uma quantidade de horas até superior: dessas 3.000 horas, nossas aulas chegam a 3.600 horas no total dos três anos do Ensino Médio. Então, nós devemos pensar exatamente em como distribuí-las, pois às vezes, se uma escola vai ampliar, não é tão problemático, é uma readequação de número de aulas. Mas nós do Colégio Humboldt pensamos em uma reestruturação. Então, já tínhamos iniciado em 2018 e fomos progressivamente ampliando a oferta de eletivas, ocupando, inicialmente, duas horas/aula na grade, o que significava uma eletiva por semestre, para com o novo Ensino Médio, hoje temos três eletivas por semestre, totalizando 10 horas/aula. Então, ampliamos bastante para esse ano. Foi uma escolha nossa fazer todas as eletivas autorais na crença que, dessa maneira, elas ficam muito mais envolvidas com o nosso projeto pedagógico. Isso, sem dúvida, é um grande desafio também, pois, primeiro: são cursos autorais; então, hoje nós temos 38 cursos autorais divididos em primeiro e segundo semestre de dois itinerários formativos: o primeiro é o MINT (sigla alemã para o STEM), que é baseado em uma proposta que agrega as áreas de Ciências da Natureza e Matemática; e o segundo é o Sociedade & Cultura, que agrega as áreas de Ciências Humanas, Artes e Música.

Há uma outra instância de gestão que é a logística de organização desses cursos, como por exemplo: como vai se dar a inscrição? Quem vai fazer esse controle de inscrição? E nós fomos para um modelo o mais disruptivo possível e o aluno pode escolher curso por curso. No Colégio Humboldt nós optamos por um modelo em que o aluno pode escolher todas as eletivas e que não precisam ficar só em um itinerário ou outro, ele pode misturar, e pode renovar essa escolha semestralmente. Então, todas essas regras que envolvem a escolha passam por uma logística, por exemplo, quem fará o registro, onde vai constar, como isso vai alimentar o sistema acadêmico da escola, e é também outro grande desafio de implantação do novo Ensino Médio.

Para o Colégio Humboldt, há outros desafios que têm a ver com a nossa essência. Temos um currículo alemão e fizemos alinhamento com essa outra possibilidade que é de estudos na Alemanha e isso precisa de ajustes, já que a grade para esse currículo é um pouco diferente. E nós também pensamos em como os cursos extracurriculares, aqueles que os alunos fazem na nossa escola ou fora, poderiam figurar no histórico do aluno, pois, que eles contribuem para a formação do aluno nós já sabemos, mas como podem ser, de fato, explicitados depois que o estudante sai da escola. Esse foi um outro desafio que refletimos e decidimos então reconhecer esses cursos extras no histórico do aluno.”

Talita Marcilia – Coordenadora pedagógica do Ensino Médio do Colégio Humboldt

Alberto Serra – Diretor pedagógico do Poliedro Sistema de Ensino

“Hoje, quando trazemos o papel da escola no Novo Ensino Médio, atrelamos a necessidade da elaboração de um currículo de qualidade. Sabendo disso, a escola precisa ter clareza em seus propósitos. Definir quais são seus objetivos na formação do estudante, identificar e mensurar as expectativas da comunidade em relação à instituição (como saber os motivos pelos quais as pessoas procuram a sua escola e têm confiança de matricular àqueles os quais é de sua responsabilidade), conhecer as expectativas de mercado futuro, as novas profissões, as tendências, entre outros, para possibilitar uma formação integral para o jovem e que faça sentido com os desafios que ele encontrará.

O professor deve se preparar para esse Novo Ensino Médio e para todos os desafios que ele traz. E é importante que o aluno seja protagonista do seu aprendizado, que tenha autonomia. Um estudante autônomo também se torna mais criativo, desenvolve um pensamento mais crítico, adquire uma postura mais colaborativa, se torna mais responsável com tudo aquilo que envolve as suas atividades, além de adquirir inteligência emocional. E como o professor consegue transpor essa necessidade de tornar o aluno mais protagonista do seu saber? Utilizando metodologias diferentes, principalmente as metodologias ativas.

Também é preciso incentivar mais as descobertas do próprio estudante, ao invés de dar respostas prontas a ele; dar possibilidades para que faça suas próprias escolhas e seja responsável por elas, e envolver as famílias – o que é extremamente necessário para criar o protagonismo e a autonomia desse aluno. Além disso, os professores precisam incentivar a pesquisa, como, por exemplo, a metodologia de sala de aula invertida, algo que vem em encontro aos eixos estruturantes. O estudante é responsável também pelo seu aprendizado. Então, os professores precisam incentivar essas pesquisas dentro de suas salas, de suas aulas, além de outras metodologias ativas para envolver mais esse jovem e fazer uso desse objetivo que o Novo Ensino Médio traz.”

Alberto Serra – Diretor pedagógico do Poliedro Sistema de Ensino

Fábio Marçal Agostinho – Coordenador pedagógico do Ensino Médio do Colégio Anglo Morumbi

“Neste momento de adequação ao novo currículo, é fundamental que as escolas e toda a comunidade escolar estejam em constante sintonia, para que ocorra um correto alinhamento de expectativas quanto ao perfil de cada alunado. É muito importante lembrar que estamos tratando da última etapa na Educação Básica dos alunos, momento decisivo para que eles comecem a estruturar o seu projeto de vida, escolha profissional e que, para tanto, faz-se necessário que os jovens se sintam seguros na preparação acadêmica que receberão.

Contudo, a implantação do Novo Ensino Médio traz diversas possibilidades, novas metodologias de ensino, que permitem que os alunos participem cada vez mais do processo educacional, gerando uma aprendizagem significativa. Mas é determinante que todo o time pedagógico da escola (gestão, corpo docente…) esteja alinhado e preparado para este novo cenário, que exige formação continuada e mudança de paradigmas. Todos que trabalham com educação precisam entender que os jovens de hoje têm acesso à informação por vários meios. A inovação e tecnologia, quando bem utilizadas, podem ser um meio muito eficaz para que possamos transmitir conhecimento e valores para a nossa futura geração.”

Fábio Marçal Agostinho – Coordenador pedagógico do Ensino Médio do Colégio Anglo Morumbi

Renata Vassoler – Coordenadora pedagógica do Colégio SER

“Nosso primeiro desafio (enquanto escola) foi optar por currículos nos quais as habilidades e competências expressas na BNCC sejam desenvolvidas na Formação Geral Básica. Com o objetivo de ser o mais rico possível para todos os nossos alunos obterem uma formação sólida e estarem aptos para tomarem as melhores escolhas, o currículo precisou ser cuidadosamente reelaborado. Em seguida, tomar a decisão de quais Itinerários Formativos oferecer, e ao mesmo tempo garantir que pelo um dos quatro eixos estruturantes (Investigação Científica; Processos Criativos; Mediação e Intervenção Sociocultural; e Empreendedorismo) fossem contemplados para garantir o direito dos alunos ao escolher qual (ou quais) áreas eles irão cursar, de acordo com seus projetos de vida e interesses pessoais.

Além da ação de escolher o currículo do Novo Ensino Médio, não se pode negar que o preparo que a escola precisou ter para se adaptar a essa nova realidade também foi – e continuará sendo – um desafio ao longo deste ano. A escola, embora já estivesse ciente das alterações que estavam por vir, também passou por um processo de transformação bem significativo ao longo dos dois últimos anos, devido a pandemia. Dessa forma, para a equipe pedagógica, desde a direção escolar até os professores, vem sendo um momento de muito aprendizado e troca de experiências, montar e aplicar este novo currículo na vida dos estudantes. Por esse motivo, o Colégio Ser acredita e aplica em seu dia a dia a formação continuada de toda equipe. Palestras, cursos e reuniões têm sido fundamentais para sustentar este novo momento do Ensino Médio.

Por fim, mas não menos importante, não se pode esquecer que os alunos do Ensino Médio continuam sendo jovens em total transformação e explosão de hormônios, que precisam não apenas de um olhar atencioso para o campo pedagógico, mas também e, principalmente, um olhar para o campo emocional. É fundamental que toda a equipe escolar esteja atenta ao momento dos jovens dando atenção, apoio e acolhimento. Toda transformação tem um período de adaptação e para os nossos estudantes a realidade é a mesma. É necessário ter muita sensibilidade para conseguirmos atender e equilibrar todas as necessidades dos nossos jovens neste momento. Afinal, preparo emocional e social, assim como o acadêmico, são pilares fundamentais para a formação integral do indivíduo.”

Renata Vassoler – Coordenadora pedagógica do Colégio SER

Caio Fernando de Oliveira – Diretor acadêmico do Colégio Eniac

“O Novo Ensino Médio conjuga uma Formação Geral Básica a aprofundamentos curriculares por meio dos Itinerários Formativos. Para 2022, as escolas brasileiras devem oferecer ao menos duas opções de itinerários para os alunos. No Colégio Eniac, em Guarulhos, o aluno tem a oportunidade de escolher entre seis opções de trilhas: dois itinerários acadêmicos que aprofundam os conhecimentos nas áreas das Ciências da Natureza e das Ciências Humanas, ou outros quatro itinerários profissionalizantes, como Administração de Empresas, Tecnologias da Informação, Mecatrônica e Enfermagem.

Na vanguarda das inovações acadêmicas, o Colégio Eniac já adota as determinações da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), desde 2018, ano em que o texto da BNCC foi homologado pelo MEC. Aqui, no Eniac, implantamos as Trilhas de Aprendizagem para que os alunos pudessem escolher suas jornadas acadêmicas e, desde então, notamos uma melhora significativa no engajamento deles e no envolvimento com as práticas acadêmicas.”

Caio Fernando de Oliveira – Diretor acadêmico do Colégio Eniac

Thiago Zola – Gerente de projetos estratégicos na Mind Lab

“Os desafios para implantação do Novo Ensino Médio no Brasil podem ser observados por vários espectros, em diferentes níveis de complexidades. A começar pela heterogeneidade das redes, com realidades – em termos de estrutura, gestão, formação de professores e coordenação – distintas e, muitas vezes, desiguais. Mas se olharmos apenas para o aspecto prático, pensando no que essas mudanças vão representar no dia a dia das escolas, é importante lembrar o que de fato muda, para entender melhor as dificuldades e os desafios. 

Em um país tão desigual como o Brasil, onde uma parte importante dos jovens precisa trabalhar para ajudar nas contas de casa, questiono alguns pontos: como ficarão esses jovens? Vão optar pela escola, ou vão evadir? O Estado prestará algum tipo de apoio para essas famílias mais carentes? Sobre os itinerários em si, as redes vão conseguir conectar os ensinamentos ao projeto de vida do estudante, ajudando-o a fazer boas e conscientes escolhas? Gestores e professores estão qualificados para auxiliar os alunos nesses processos de aprendizagens que serão tão diversos, para além dos conteúdos propedêuticos e tradicionais? No ponto de vista macro, o país terá condições econômicas para receber profissionais oriundos do Ensino Médio? Essa formação será de fato de qualidade e conectada à demanda do mercado?

Esses são alguns dos inúmeros questionamentos que ainda não foram esclarecidos. Embora uma reestruturação no Ensino Médio seja necessária, fica a impressão de que não havia um plano de execução bem elaborado. Por isso, haverá um esforço heroico dos profissionais da educação para se adequarem a essa nova realidade. Nas duas últimas décadas, observando os indicadores da educação básica, sobretudo do Ensino Médio, notamos que os resultados não são satisfatórios. Precisaremos buscar essas respostas e auxiliar as redes para que tenham currículos bem estruturados e organizados para receberem os estudantes, contemplando também aspectos socioemocionais, diferente do Ensino Técnico conteudista, que vem sendo sistematicamente implementado.”

Thiago Zola – Gerente de projetos estratégicos na Mind Lab

Lucas Madsen – Diretor regional e de soluções pedagógicas da Rede Decisão

“Embora o Novo Ensino Médio tenha entrado em pauta há mais tempo, em 2017, muitas dúvidas sobre como fazer a implementação permaneceram durante esse período. Tínhamos conceitos e definições gerais, mas existe uma parte legal e de secretaria escolar que precisa de muita atenção das escolas. Estamos falando de adequação das matrizes com uma distribuição correta da carga horária entre as frentes de Formação Geral Básica e os Itinerários Formativos. A escola já precisa se organizar e planejar para informar, desde agora, como serão organizados os percursos curriculares dos estudantes ingressantes no Ensino Médio, de forma a cumprir a distribuição de carga horária prevista na legislação.

Isso leva a um segundo desafio, que é a organização dos cursos que serão ofertados, principalmente no que toca à disponibilização de materiais didáticos e formações para as equipes docentes. Nem todas as editoras e sistemas de ensino dispõem de materiais didáticos com propostas maduras sobre os Itinerários Formativos, de forma que há uma necessidade​ da escola estar muito atenta ao acompanhamento dos professores e da construção das propostas de cada disciplina que compõem os novos percursos propostos pelas escolas.

É importante considerar também a complexidade da operação escolar para a nova proposta. Com a maior autonomia do estudante, é preciso organizar as grades horárias de forma a otimizar não só o dia a dia do estudante como também da equipe docente da escola. Nesse processo, a escola precisa fazer opções muito conscientes sobre quando adotará soluções que são on-line, e quando vai utilizar os espaços já disponíveis em sua infraestrutura para organizar as atividades didáticas com turmas mistas de cada itinerário implementado.

Isso nos leva a um quarto ponto que é fundamental e desafiador: comunicar adequadamente a comunidade escolar e informar bem os estudantes, de forma que tirem o máximo proveito desse modelo. Em média, os estudantes não estão acostumados a fazer escolhas sobre seus estudos, de forma que é necessário ensiná-los a fazer boas decisões e a aproveitar as melhores oportunidades que a nova proposta da instituição apresenta. Para isso, o investimento em um bom planejamento para a disciplina de Projeto de Vida se tornou essencial.”

Lucas Madsen – Diretor regional e de soluções pedagógicas da Rede Decisão

Ecia Maria Rubini Sales – Especialista pedagógica da rede de colégios Luminova

“A implantação de um projeto novo sempre traz implicações significativas para professores, famílias e estudantes. Para os nossos alunos o primeiro desafio é a compreensão da necessidade de ter novas disciplinas no currículo e a possibilidade de escolher seu próprio caminho de acordo com suas afinidades e necessidades. Nossos estudantes têm a oportunidade de fazer algo inédito na educação no Brasil: escolher as áreas de conhecimentos que desejam conhecer e experimentar.

Sabemos que não é tão simples escolher, logo no primeiro ano do Ensino Médio, qual a área de conhecimento que se quer aprofundar, e esse é o segundo grande desafio. Por isso, a Luminova optou por iniciar o 1º trimestre letivo com uma disciplina pertinente e importante para toda e qualquer escolha profissional: A Expressão Oral e Escrita. Entendemos que Comunicação Assertiva é fator primordial para o sucesso pessoal e profissional independente da área escolhida.

Ainda no 1º trimestre o aluno inicia o processo de autoconhecimento com a disciplina Projeto de Vida e com isso terá uma base para que possa escolher entre os três Itinerários Formativos que ofereceremos a partir do 2º Trimestre: Real Math, Food and Health ou Business.

Outro desafio considerável é preparar os professores para as novas disciplinas e conteúdos que serão aprofundados nos itinerários. Como não há um currículo único estabelecido, estamos seguindo as competências e habilidades previstas na BNCC para criar itinerários que sejam desafiadores e motivantes para os nossos alunos. Para isso, o diálogo com as equipes, coordenadores e professores, e o investimento na formação profissional deve ser constante.”

Ecia Maria Rubini Sales – Especialista pedagógica da rede de colégios Luminova

Thiago Cachatori – Coordenador de Ensino Médio do Colégio Marista Arquidiocesano

“O Novo Ensino Médio pretende atender as necessidades e as expectativas dos jovens, fortalecendo o protagonismo juvenil. Isso é possível na medida em que possibilita aos estudantes escolher o Itinerário Formativo no qual desejam aprofundar seus conhecimentos ou, ainda, em cursos ou habilitações de formação técnica e profissional.

No Colégio Marista Arquidiocesano, localizado em São Paulo, o projeto implementado no Ensino Médio é chamado de Future Skills, e visa desenvolver habilidades humanas e digitais, cada vez mais exigidas no mundo atual. Os estudantes cursam disciplinas como pensamento criativo, gamificação, inteligência emocional e programação, por exemplo. Outro itinerário ofertado por esta unidade é o Hub, no qual os estudantes dividem-se nas quatro áreas do conhecimento e utilizam-se dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis da ONU (ODS) para a resolução de problemas complexos com foco em transformações socioambientais, sempre pensando global e agindo local.

A BNCC tem como objetivo tornar a educação brasileira menos desigual e com mais equidade. Dessa forma, busca reduzir as disparidades, no que tange a qualidade da educação, encontradas entre os diferentes estados brasileiros. O direito de aprender conteúdos e desenvolver habilidades ao mesmo tempo é o eixo norteador da base, contemplando escolas públicas e particulares. Não se trata somente das aprendizagens de cada componente, e sim da capacidade de ação e reflexão críticas, necessárias à prática da cidadania: são os conteúdos das diferentes áreas do conhecimento a serviço do desenvolvimento de competências e habilidades.” 

Thiago Cachatori – Coordenador de Ensino Médio do Colégio Marista Arquidiocesano

Caroline Lucena – Professora e coordenadora do Ensino Médio do Elite Rede de Ensino

“A lei do Novo Ensino Médio trouxe inúmeros desafios às escolas. Como atender as variadas intenções dos alunos, construindo inúmeros Itinerários Formativos, tendo em vista a infraestrutura, por vezes, limitada da escola? Como construir um material que dê conta de um conteúdo forte, que prepare para concursos, e que seja contextualizado, atraente e que dialogue com a vivência dos alunos? Como o professor, principal agente desse processo de ensino-aprendizagem, se atualizaria para conseguir executar as mudanças necessárias? Como construir avaliações que sejam capazes de verificar a aprendizagem para além do conteúdo exposto em sala? O que esperar dos vestibulares estaduais e federais que não adotam o Enem como forma de ingresso? Como um aluno, entrando no Ensino Médio, por vezes tão imaturo, vai ter discernimento para escolher esta ou aquela área do conhecimento como diretriz do seu IF?

Essas são algumas das inquietações que tomaram as escolas de assalto ao longo do processo de construção e de implementação do Novo Ensino Médio. A razão das dúvidas gira em torno de um ponto central: é uma novidade e toda novidade gera incerteza e medo. Isso é esperado, é natural. Mas há outro ponto que ganha relevo nessa equação: a falta de referências concretas, de exemplos, de direcionamentos assertivos do que fazer e do que não fazer pelos órgãos de educação do país. Nesse sentido, o processo de implementação foi feito a partir de experimentação, de tentativas e erros. Ao não ter essa orientação de como proceder, as escolas visualizaram diferentes modelos de execução e estão cumprindo a lei, mas cada uma a seu jeito.

Por exemplo, algumas escolas construíram a carga horária dos itinerários formativos, distribuindo-a ao longo dos três anos de formação dos alunos; outras concentraram essa carga na terceira série. Algumas escolas assumiram o foco em Itinerários Formativos de uma área específica de conhecimento; outras conseguiram montar IF de mais de uma área. Diante do cenário, a conclusão que se chega é que a mudança trouxe desafios que forçaram as escolas a saírem das suas zonas de conforto, obrigando-as a repensarem educação. Nesse sentido, esses desafios são extremamente bem-vindos, uma vez que significam uma reformulação do fazer pedagógico. Afinal, tendo em sala alunos conectados com tecnologia, antenados com o novo, afoitos por novas aprendizagens e experiências, que lhes façam sentido, não cabe à escola outra saída se não abandonar o modelo de educação do passado e mergulhar de vez na educação do futuro.”

Caroline Lucena – Professora e coordenadora do Ensino Médio do Elite Rede de Ensino

Melina Garcia Cunha Sanjar – Gerente de desenvolvimento e responsável pelo Ensino Médio Técnico no Senac São Paulo

“Os desafios transformacionais trazidos pelas mudanças do Novo Ensino Médio às escolas são inúmeros, mas acreditamos que uma forma de iniciar esse processo de transição seja considerar aspectos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para que esse novo ambiente escolar que buscamos realmente ofereça a construção de um projeto de vida com mais protagonismo e responsabilidade aos jovens.

A integração entre os saberes e os conteúdos técnicos também são uma forma de despertar nos estudantes interesses que transbordem seus universos, abordando questões sociais e profissionais, de forma prática e palpável para que desenvolvam competências tão disputadas no mundo do trabalho, como resiliência, senso de coletividade, liderança, resolução de conflitos e, sobretudo, cidadãos conscientes de sua própria importância para a comunidade.

O Senac São Paulo, onde o Ensino Médio Técnico já nasceu alinhado às diretrizes da Lei 13.415, esse modelo já vem demonstrando resultados positivos: acabamos de celebrar a formatura dos primeiros 60 jovens que apostaram na instituição para cumprirem essa etapa tão decisiva da vida escolar. Eles se formaram no Senac de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo e, com a conclusão do Ensino Médio Técnico em Informática, agora estão totalmente aptos a ingressarem em uma carreira de forma mais sustentável e preparados para o futuro.

Notamos, tanto nesta primeira turma de formandos como nas que ainda estão em andamento, muitos casos de adolescentes já exercendo papéis em grandes empresas, multinacionais, instituições financeiras, entre outros. Essas histórias reforçam para nós o quanto é essencial o acesso a uma formação profissional e cidadã de qualidade, que coloque os jovens no centro de suas trajetórias de vida e escolhas.”

Melina Garcia Cunha Sanjar – Gerente de desenvolvimento e responsável pelo Ensino Médio Técnico no Senac São Paulo

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