O desafio do meio do caminho na Gestão Escolar
Por Roberta e Taís Bento

Eis que piscamos os olhos e cá estamos, já começando o segundo semestre letivo. Afinal, será possível comemorar a metade do ano vencida, com todos os avanços que os alunos tiveram, ou fala mais alto o sofrimento pela metade que falta, quando ainda há tanto a ser feito, exatamente quando o cansaço vai começar a bater?
O meio do caminho é sempre um desafio, em todos os aspectos da nossa vida, seja nos relacionamentos afetivos, no desenvolvimento de um projeto, durante uma viagem ou na vida pessoal. Isso porque as pessoas envolvidas já não têm a expectativa pelo novo, a energia pós-férias, as animações de um novo começo. E também ainda não conseguem enxergar a reta final, a linha de chegada. Ao chegar no meio do caminho, você já conheceu as pessoas novas e matou a saudade daquelas com quem já convivia. Nesse momento, o cansaço faz com que você, no piloto automático, passe a focar nos defeitos dessas pessoas, ao invés de buscar ou lembrar das qualidades. Raramente paramos para refletir sobre isso, especialmente em relação ao ano letivo e ao ciclo de um ano dentro da escola. A realidade é que, se conseguirmos entender esse fenômeno, chamado “meio do caminho” e tivermos consciência de como ele afeta a escola, atingindo de forma diferente a família, os professores, a equipe de gestão e, especialmente, nossas crianças e adolescentes, todos ganharemos e estaremos inteiros na linha de chegada.
Professores
O meio do caminho está mais desafiador do que em qualquer outra época para os Professores. Ao mesmo tempo que existe mais segurança e recursos para preparar as aulas, pois o relacionamento com os alunos já foi criado e as famílias já são conhecidas, há também o cansaço acumulado. Infelizmente, nenhuma faculdade ensina ao professor técnicas para lidar com o estresse físico e emocional que ser responsável pelo desenvolvimento de tantos estudantes traz. As demandas tão diversas e o desafio da convivência com estudantes e famílias em tempos de individualismo e imediatismo são muitas vezes exaustivos. Em algum aspecto da vida desses professores o estresse vai aflorar. Recuperar a energia do início do ano não é possível e nem necessário. Sentir-se apoiada na travessia entre o meio do caminho e a linha de chegada é o que de fato faz diferença, tanto para o aprendizado, quanto para que possamos todos chegar ao final do ano com o tão sonhado equilíbrio emocional e sentimento do dever cumprido.
Equipe de Gestão da Escola
Essa é a equipe que mais sofre o impacto de todo o estresse e angústia velada que permeia essa fase do ano letivo. A pressão vem de todos os lados: alunos, famílias, professores, fornecedores, mantenedores. E a equipe de Coordenação firme, tentando manter todos os “pratos”, todos os componentes da orquestra tocando e sentindo o tempo escorrer entre os dedos, diante de tantas demandas. As famílias ainda esperando resultados positivos em termos do aprendizado dos filhos e cobrando comunicação mais eficaz por parte da escola. Os professores se dividindo entre aqueles que se manifestam e aqueles que silenciam diante dos prazos para entrega de relatórios, boletins e planejamentos. É um lidar com falta de professor, funcionário da limpeza, monitor e equipe da recepção, tudo junto e misturado, ao longo da semana. Mas a equipe de Gestão está lá, focada no propósito e juntando seus próprios pedaços para dar conta da própria família, quando, já esgotada, chega em casa. Quando mesmo que vem uma oportunidade para dar uma respirada mais profunda? Ah, está longe ainda: olhando para trás, faz um século que esse ano letivo começou. Olhando para a frente, ainda não dá para enxergar a luz no fim do túnel.
Tem saída para tanta angústia? Sim: organizar o tempo para que cada membro da equipe possa se cuidar e para que todos compartilhem os desafios a serem enfrentados. Lembrar e verbalizar para os professores e funcionários que o trecho que representa a metade de uma maratona é sempre o mais desafiador. Ficou para trás a sensação boa do recomeço. Ainda está fora do campo a visão de linha que marca o final de mais um ano. E jamais esquecer de que as famílias dos alunos também estão nesse mesmo ponto da caminhada. Nomear os sentimentos que tomam conta dessa fase e deixar que esse assunto esteja nas conversas entre vocês também ajuda a seguir em frente de forma mais leve. Sim, em frente, porque desse ponto, não há retorno. Já foi uma longa caminhada e você conseguiu chegar até aqui: você merece reconhecer cada pequena vitória para que possa reabastecer a energia que vai levar toda a equipe até o final de mais um ano de sucesso.