O planejamento que viabiliza sonhos
Por Luis Laurelli
Normalmente o planejamento escolar se concentra em duas grandes datas: no final e no meio do ano, antes de um novo semestre letivo. O problema de planejar as atividades apenas nesses dois períodos é que a escola torna-se mais rígida e acaba não enxergando novas possibilidades.
A escola é um organismo vivo, dinâmico e complexo e, por isso, temas estratégicos como planejamento financeiro e captação de alunos devem ser tratados de forma especial, ao longo de todo o ano. Cuidar da infraestrutura, do orçamento e da comunicação com as famílias, não pode ser uma tarefa do diretor escolar apenas em setembro.
Divulgar os benefícios, atividades e valores da sua instituição de ensino nos canais corretos (e-mail, redes sociais, site e etc.) deve ser algo recorrente, quase diário. Às vezes é difícil enxergar quais são os diferenciais da escola, pois nos acostumamos com o ambiente e com a infraestrutura, valorizamos o que é importante para nós sem levar em consideração o que os alunos e responsáveis enxergam como um benefício.
Pesquisas de satisfação são ótimas ferramentas para colher feedbacks e entender quais atributos são realmente percebidos como proposta de valor. Falar com as famílias e alunos de maneira informal também pode te ajudar a garantir que os problemas certos estão sendo endereçados. Entender o público e comunicar o que a escola faz de melhor deve ser uma preocupação do mantenedor todos os dias.
O mesmo deve ocorrer com o planejamento financeiro. Fazendo um acompanhamento contínuo do fluxo de caixa e orçamento, a escola tem mais segurança e autonomia. Já pensou em todas as festas escolares que vai organizar ao longo do ano? Quanto será gasto em material? Precisa de uma equipe especializada para montagem e desmontagem? Precisará de alimentos, bebidas e brindes? Qual a quantidade estimada de alunos e familiares? Respondendo a essas perguntas com antecedência, sua escola terá saúde financeira para fazer mais e ir além!
O ideal é que todos esses provisionamentos de verba sejam feitos no início do ano, mas é interessante que, mensalmente, a escola reveja o total previsto e o que foi realmente gasto – só assim você será capaz de fazer mudanças de rota e remanejar alguma atividade. Importante também que a escola tenha uma linha orçamentária para reservas de emergência, para conter eventuais imprevistos e não comprometer o que foi planejado.
As reservas também são importantes para atividades que demandem mais investimento e tempo, como uma reforma. Fazer uma reforma no meio do ano pode ajudar na captação de alunos, apresentando um espaço mais bonito e agradável aos visitantes. Mas para isso, o dinheiro precisa estar reservado e os funcionários contratados com alguns meses de antecedência. O que acontece hoje, na maioria dos casos, é um planejamento de curto prazo: a gestão aguarda o fim do ano para ter dinheiro em caixa e fazer reformas e, com isso, perde a oportunidade de usar esse novo espaço no período de captação e rematrícula do 2º semestre.
Também é importante pensar a longo prazo: onde minha escola pode chegar em 3 anos? E em 5? Qual seria o cenário ideal? Fazer planos é saudável e garante a sustentabilidade da instituição, mas o sonho nunca sairá do papel sem planejamento. As melhores escolas do futuro serão aquelas que se preocupam com suas finanças hoje. Vale lembrar que planejamento não é sinônimo de estabilidade garantida: algumas mudanças são positivas e necessárias. O mundo muda e a escola, como lugar que forma cidadãos, precisa se adaptar às novas formas de se relacionar, se comunicar, se locomover e aprender. Desaprender para reaprender.
Quando lembramos do que aconteceu em março de 2020, quando todo mundo teve que se adaptar de alguma maneira por conta da pandemia da Covid-19, tudo o que o educador queria era voltar ao modelo tradicional. Não percebemos que passamos a ser um organismo vivo, ou seja, passamos a ter um corpo e esse novo corpo (qualquer instituição de ensino) não pode mais ser aquele local amarrado por uma engrenagem. Passamos a ter uma noção clara de que todas as dimensões da gestão são interdependentes.
Uma escola fluida e dinâmica consegue se adaptar mais rápido aos novos cenários e ao imprevisto. Consegue remanejar atividades com antecedência e precisão porque se antecipou. Consegue sonhar e ir mais longe porque está viva e com a saúde financeira em dia. Por isso, além de se manter por dentro das novidades tecnológicas e acompanhar a evolução do mercado, é importante que as escolas se atentem às evoluções da sociedade para impulsionar a educação e transformar o amanhã.
Luis Laurelli É educador, gestor, consultor educacional, coaching apreciativo e diretor educacional do isaac. Possui muitos anos de experiência e atuação dentro do setor educacional. Recentemente realizou a Coordenação Geral da Coleção “Palavra Cantada na Escola”.