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Guia para Gestores de Escolas

O problema é que seu filho é loiro e possui olhos azuis

Imagine que a mãe, preocupada com o desempenho do filho em Ciências e Matemática, procure sua escola em busca de ajuda e orientação que ouça como resposta o título desta crônica.

Não é difícil perceber que ouviu um absurdo inominável. Afinal, qual a relação entre os traços genéticos da criança e seu desempenho escolar? Efetivamente, não se pode perceber nestes ou naqueles traços herdados, qualquer relação com a sua ação comportamental na escola. Não chega, entretanto, ser absurdo ouvir-se como orientação escolar, dizer-se que o problema de aprendizagem do aluno se deve ao fato do mesmo não prestar atenção.

Desde quando se conhece a estrutura e a plasticidade da mente humana, e esse conhecimento já vai para mais de sessenta anos, sabe-se que o problema da atenção não depende de esforço e desejo pessoal, tal como as características genéticas. Se o aluno não presta atenção nas aulas e nas lições, mas é atento na aprendizagem e uso de seu Celular, não se interessa pelas equações na lousa, mas se empolga com o futebol visto no campo ou em transmissão da TV, não há, é evidente, qualquer problema com o aluno, mas com a aula e com a maneira como é a lousa manipulada. A atenção de um caçador desarmado diante do leão prestes a saltar em direção a sua garganta está menos em ignora-lo ou não e muito mais, naturalmente no leão e sua sanha ou fome. Assim, culpar o aluno por seu desvio de atenção, equivale a contabiliza-lo pela cor de sua pele e de seus olhos.

O correto, dessa maneira, é mudar a aula que desestimula a atenção, alterar a maneira de passar conteúdos de forma competitiva com o Google, e treinar o uso e a materialização de habilidades e competências e não proclamar ou ameaçar sobre a sua importância na prova marcada. Elimine-se a ridícula aula discursiva ou expositiva, substituindo-a por situações de aprendizagens coerentes, desafiadoras e propositivas; elimine-se a exposição estática de conteúdos conceituais, apresentando-os como projetos a se construir e se pratique efetivamente habilidades e competência de forma concreta e a atenção do aluno se despertará, sem culpa ou sacrifício. Com entusiasmo e paixão.

Até quando a escola brasileira vai tratar alunos de amanhã, com metodologias de ontem, ministradas por professáuros que teimam em não querer mudar e que parecem emersos de savanas perdidas no Pleistoceno? Em muitos casos, a salvação do aluno inteligente é a hora do intervalo.

 

CELSO-ANTUNES-miniaturaCelso Antunes tem bacharelado e licenciatura em Geografia. É mestre em Ciências Humanas pela USP e é considerado um grande formador de opinião no mundo da educação. Tem mais de 280 publicações e suas obras forma traduzidas pra mais de seis países. Celso Antunes também ministra palestras em diversos países como Argentina, Uruguai, Peru, México, entre outros. 

 

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