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Guia para Gestores de Escolas

O QUE NÃO MUDA?

A primeira impressão que este título desperta é a resposta “nada”. Vivemos tempos fluidos em que nada permanece igual ao que era antes, mesmo que em uma anterioridade próxima.

Compare, por exemplo, tudo que se tem ao redor e se refaça a pergunta. Não é complicado perceber que governo, política, profissão, família, religião, valor ético, instrumento e tudo mais estão em permanente e fluída mudança. Quando se volta aos olhos para trás, bem distante, se percebe que as coisas pareciam sólidas, rígidas, inalteradas ou pouco mudadas de pais para filhos, de avós para netos. Dizer o que era bom ou o que não era, salvo para mentes doentias, representava consenso. Era possível reclamar que não se tinha um bom governo, que era sórdida a política corrupta, que todas as famílias tinham fantasmas ocultos em armários, que nem todas as religiões conduziam à integridade dos costumes, que os valores balançavam ao sabor das conveniências, mas incontestavelmente, ninguém punha em dúvida o que era o certo.

Hoje, certezas já não mais existem.

Vivem-se tempos fluídos onde prevalece à busca da individualidade das opiniões e, mesmo estas, mudam a cada instante, dependem de cada circunstância. Quem ousa proclamar o bom ou bem, o belo ou o justo sabe que proclama para alguns e que outros podem com igual validade proclamar pelo ruim, pelo mal, pelo feio que aos que o amam bonito parece e pela injustiça de se achar que existe justiça unânime. Por acaso, ao fazer estas ponderações estamos reclamando? Evocando uma volta ao passado? Clamando pela solidez que se diluiu em líquido e que assim se amolda ao formato de seu frasco? De maneira alguma.

Se tudo muda, se em nos mesmos sentimos a inevitável avalanche da mudança porque reclamar? Como não sorver a certeza de que a complexidade dos tempos de agora se faz densa, persistente e difícil para ser desfeita ou para ser ao menos compreendida? Prevalece à incapacidade em se escolher entre a atração e a repulsa, entre a esperança e o pragmatismo da certeza e tudo isso acaba por nos levar a tentar se adaptar a essa onda e viver os tempos que nos resta viver descobrindo que se tudo muda nada nos resta senão mudar. Mas, espera lá?

Surge no horizonte algo estável, imutável. Algo perfeitamente igual ao que era ontem. Prevalece assim a salas de aula com carteiras fixas, a lousa desenhada à frente e a frente da mesma o mestre expondo, falando, repetindo como se não mais existisse o Google, como se Internet tivesse sido proibida pelo Grande Irmão. Existe algo no horizonte que simboliza a solução para o problema da quadratura. Algo que garante que comer o bolo, equivale a preserva-ló, desfrutar das delicias do agora é se prender a imutabilidade do ontem. Esse algo é a risonha e franca escola brasileira. Afinal, muda o conceito de beleza, muda o valor do aprender e saber materializar o que aprendeu, muda o olhar sobre a arte, muda a sistemática que envolve os relacionamentos humanos e, é claro, nessa onda muda o governo, a política, o exercício da profissão, a família, a religião, os valores éticos, e principalmente os instrumentos que nos cercam. Só a escola brasileira não muda. Em suas mágicas salas o tempo se congela. Nada se altera.

 

CELSO-ANTUNES-miniaturaCelso Antunes tem bacharelado e licenciatura em Geografia. É mestre em Ciências Humanas pela USP e é considerado um grande formador de opinião no mundo da educação. Tem mais de 280 publicações e suas obras forma traduzidas pra mais de seis países. Celso Antunes também ministra palestras em diversos países como Argentina, Uruguai, Peru, México, entre outros. 

 

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