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Guia para Gestores de Escolas

O que veio primeiro? O ovo ou a galinha? Uma reflexão sobre comprometimento do sistema nervoso e desenvolvimento cognitivo

Muito se fala, na interface de saúde e educação, sobre alguns transtornos ou doenças que relacionam comprometimento do sistema nervoso e cognição, como exemplo a paralisia infantil, doenças degenerativas,  Aids, entre outras. 

A AIDS é uma doença provocada pelos vírus da imunodeficiência humana (HIV), transmitidos pelo sangue e pelo contato sexual. Quando o HIV é adquirido na infância, período em que o sistema nervoso está em pleno desenvolvimento, pode causar danos muito maiores do quando ocorre na fase adulta. As manifestações podem ser de ordem física, como a demência; alterações de memória; lentidão motora e de raciocínio; dificuldade de atenção, concentração e para tomar decisões; e/ou de ordem psicológica, como por exemplo, sentimento de inferioridade, de impotência e de fracasso.

Como se isso não bastasse, muitas dessas crianças e adolescentes enfrentam condições de vida que nada ajudam para um melhor desenvolvimento, como pobreza, privações, baixa escolaridade dos pais, baixo nível social, subpeso e falta de estímulo intelectual.

Apesar de, atualmente, a terapia antirretroviral ter melhorado muito a expectativa de vida dos pacientes, com queda considerável no número de casos de Aids, ainda é uma importante preocupação de saúde pública. Desde o início da epidemia, segundo o último dado do Ministério da Saúde do Brasil, em 2013, houve mais de 15.000 novos casos em crianças menores de 12 anos de idade.

Pensando na interface entre saúde e educação, realizamos na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), um estudo pioneiro no Brasil, orientado pelo Professor Doutor Marcos Tadeu Nolasco da Silva, mostrando que as questões relacionadas com o baixo desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes infectados pelo HIV e clinicamente estáveis, recebem importante influência dos fatores psicossociais como a Qualidade de Vida.

O estudo avaliou, usando as provas piagetianas para diagnóstico do comportamento operatório, crianças de 7 a 12 anos infectadas precocemente pelo HIV, ou seja, no útero materno, acompanhadas pelo Serviço de Imunodeficiência Pediátrica do Hospital das Clínicas da Unicamp e crianças saudáveis, com condições socioeconômicas semelhantes ao grupo de pacientes, de duas escolas públicas de São Bernardo do Campo – SP.

Notamos na pesquisa que, independente da infecção pelo HIV, há uma defasagem cronológica na aquisição do estágio operatório concreto, ocorrendo por volta dos 10 anos de idade, demonstrando que as crianças do ensino fundamental ainda têm muita necessidade de materiais concretos, sendo difícil sem ele, responder questões que necessitam de raciocínio dedutivo por inferência.

Esse trabalho teve importante destaque no Fórum Mundial sobre Saúde da Criança e do Adolescente em Nova York, nos EUA, pois levantou a questão de que crianças infectadas pelo HIV e clinicamente estáveis apresentaram desenvolvimento cognitivo semelhante à população saudável de mesma faixa etária que vivem em condições sociais e culturais semelhantes. Os dados levantados pela Mestre Alessandra Sartori e pelo Professor Doutor Marcos Nolasco levaram a comunidade científica mundial a questionar a importante influência de fatores psicossociais como a Qualidade de Vida e vulnerabilidade social no desenvolvimento cognitivo, sendo necessário repensar a estimulação cognitiva dentro das escolas, o peso que as questões afetivas têm sobre o desenvolvimento, e que muito ajudaria a elaboração de um amplo acompanhamento multidisciplinar centrado na estrutura de vida comunitária e familiar.

Uma importante questão que reverbera entre os professores é como fazer para ajudar o aluno com algum comprometimento do sistema nervoso, e aqui não falo somente de crianças com o HIV, a se desenvolver intelectualmente e aprender os conteúdos ministrados em sala de aula.

Segundo Jean Piaget, conhecer não é reproduzir cópia do objeto, mas agir sobre ele, entender suas propriedades e ser capaz de transformá-lo, compreendendo este processo. Quando isso acontece, o sujeito está pronto para aprender, principalmente os conteúdos escolares. Muitas crianças e adolescentes ainda não estão preparados para assimilar o conteúdo programático proposto pelas escolas.

Faz-se necessárias ações que estimulem o pensamento da criança, que as escolas tenham um espaço dentro de sua grade curricular para trabalhar com jogos de raciocínio lógico e projetos interdisciplinares com objetivo de auxiliar o desenvolvimento cognitivo, social, afetivo e físico. Crie ambientes ricos em estímulos e que propiciem autonomia. Os exercícios propostos não devem ser  mecânicos e repetitivos, estimulando que as crianças e adolescentes reflitam e aprendam a elaborar suas próprias respostas com criatividade e autonomia e que as aulas sejam baseadas em atividades de desenvolvimento das habilidades necessárias para que haja aprendizagem.

 

Alessandra Bizeli Oliveira Sartori – pedagoga da Clia Psicologia, Saúde & Educação

Pedagoga, psicopedagoga, psicanalista, mediadora do Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI), mestre em saúde da criança e do adolescente pela Unicamp.

Experiência com estimulação e reabilitação cognitiva, psicanálise de criança, adolescente e adulto.  Atua na Clia psicologia, saúde e educação.

www.cliapisicologia.com.br

(11)4424-1284 / (11)2598-0732

 

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