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Guia para Gestores de Escolas

O vento e a nau dos criativos: importância e riscos da BNCC

Navegadores a vela dizem que o melhor vento não é o vento de popa, aquele que empurra o barco. Bom mesmo é o vento de través, que atravessa a vela e faz o barco avançar com velocidade e firmeza. Assim parece o conhecimento criativo: ele se torna conhecimento pleno de significado e potência, não quando o guardamos, mas quando ele nos atravessa.

Bons professores são como navegadores, sabem que aprendemos quando criamos e refletimos sobre nossas criações. Compartilhar o florescer do conhecimento traz a cumplicidade que deve ser própria das relações na escola, questionadora em face ao desconhecido e ao imponderável que faz da aprendizagem algo significativo e dinâmico: uma travessia.

Alguns de nós que participamos da elaboração da nova Base Nacional Comum Curricular sustentamos essa visão. Imaginamos a BNCC como um “sopro de possibilidades” para o processo crítico e criativo de professores, estudantes e escolas. Por isso, insistimos que Base não é currículo único, tampouco currículo mínimo, e jamais deve ser tomada como receita pronta e modelo obrigatório. Desde a sua origem, a Base sempre foi pensada como uma enunciação dos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento escolar.

Muitos profissionais da educação sentem a falta de referenciais, atuando de forma dispersa e em meio a precárias condições de trabalho. Isso precisa mudar. Estudantes são portadores de direitos de aprendizagem que estão enunciados na BNCC. Direitos que evocam os nossos deveres de proporcionar o necessário e não apenas o possível. A Base pode representar um estímulo à uma consciência mais profunda dos educadores e ao seu empoderamento como profissionais.

Da Educação Infantil até o Ensino Médio, o Brasil já tem a sua BNCC. Contudo, sem a participação dos professores e o envolvimento das escolas, o processo criativo imaginado na gênese da BNCC pode se perder e a Base vir a se transformar numa “camisa de força”. Os educadores devem reagir contra qualquer imposição usurpadora de sua potência autoral e defender projetos que sejam a expressão do pensamento colaborativo.

Os novos tempos cobram de professores e escolas a capacidade de desenvolver propostas curriculares que superem a fragmentação disciplinar. Exigem dos educadores a coragem e a disposição de participar dos processos políticos e sociais. Essa é a luta necessária em defesa de uma educação que atravesse professores, estudantes e suas famílias, e inspire a todos nós na construção de uma sociedade global democrática, humanista, plural, desenvolvida, sustentável e socialmente justa.

Mais informações sobre esse tema estarão disponíveis na publicação “Criatividade – mudar a educação, transformar o mundo”, que está disponível gratuitamente para download no site Escolas Transformadoras, realizado no Brasil pela Ashoka e pelo Instituto Alana. https://escolastransformadoras.com.br/

Cesar Callegari é sociólogo, professor e consultor educacional. É presidente do Instituto Brasileiro de Sociologia Aplicada (IBSA). Foi membro do Conselho Nacional de Educação e presidiu a Comissão de Elaboração da BNCC. Foi Secretário de Educação Básica do MEC e Secretário de Educação do Município de São Paulo. É autor de várias obras sobre educação, ciência e cultura. www.ibsa.org.br

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