Pensamos o futuro dos professores na mesma intensidade em que focamos o das crianças?
O calendário da educação em outubro é bastante intenso. Não apenas porque se aproxima a reta final do ano letivo, mas também por abrigar duas datas comemorativas marcantes: o Dia das Crianças e o Dia dos Professores. O curto intervalo entre as celebrações nos leva a uma reflexão também sobre o quão estreita é essa relação entre o público que ocupa as salas de aula nos anos iniciais do aprendizado com a sede de dominar o mundo e aqueles que utilizam o conhecimento como um super poder para ensiná-los a como sobreviver e ir além dos seus desafios. Entretanto, há uma distância que os separa. Será que nos preocupamos com o futuro a ser dado para os docentes na mesma intensidade que investimos no dos pequenos?
No Brasil vivenciamos um cenário educacional delicado e há uma série de fatores que poderíamos discorrer para encontrar todos os pontos de melhoria. Mas, uma das nossas maiores diferenças para nações que estão no topo do Pisa (Programme for International Student Assessment ou Internacional de Avaliação de Estudantes), por exemplo, está na valorização da carreira do magistério. Enquanto por aqui ela não é nada atrativa para os jovens formandos, em Cingapura, na China e no Japão, que ocupam as primeiras colocações da avaliação, ser professor é sinônimo de prestígio social.
Estamos diante de grandes revoluções educacionais. Se, por um lado, aumentar o acesso à educação básica continua a ser um importante desafio, por outro a atualização dos currículos também vem recebendo mais atenção do que nunca, com ênfase na importância de valores, atitudes e habilidades que extrapolam o aspecto cognitivo para atuar na relevância da compreensão e na capacidade de resolução de questões globais em suas dimensões sociais, políticas, culturais, econômicas e ambientais com o intuito de facilitar a cooperação internacional e promover as transformações que almejamos. E tudo isso é permeado pela influência da tecnologia, que transformou o perfil dos alunos e que representa ainda mais um desafio a ser vencido pelos professores: como incluí-la no programa de aulas como uma aliada?
Ou seja, para conquistar esse objetivo é preciso percorrer um caminho que abandona alguns antigos paradigmas e substituir a rotina calcada em acúmulo de informações, memorização e repetição por outra ativa, que conecta e articula conteúdos na missão de colocar os estudantes no protagonismo do seu aprendizado, aprendendo a aprender. Em outras palavras, a necessidade hoje é por docentes que transferem conhecimento não mais por ser a autoridade dele, mas sim por ser um facilitador que conduz o raciocínio interdisciplinar.
De acordo com uma pesquisa conduzida na Austrália, crianças que aprendem com professores bem preparados aprendem o equivalente a um ano e meio a mais de estudo em comparação com as que possuem aulas com profissionais medianos. Percebe o quanto precisamos olhar com mais atenção para o futuro daquele que tem participação crucial no futuro que desejamos para as nossas crianças? Mas, ao mesmo tempo, é preciso que as instituições fortaleçam mais seus investimentos em ações práticas de re-capacitação, desenvolvimento e educação continuada justamente daqueles que são os seus principais ativos e diferenciais.
Quando fazemos um recorte para a disciplina do inglês, isso se torna ainda mais latente, visto a necessidade de formarmos cidadãos globais, com indicação da própria Organização das Nações Unidas (ONU). Não é à toa, por exemplo, que o mercado de parcerias entre colégios particulares e empresas de programas didáticos, pedagógicos e de gestão que contribuem para fortalecer a língua inglesa dentro do currículo tenha passado a movimentar cerca de R$270 milhões anuais, segundo a Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (Abebi).
A reflexão nos ajuda a encontrar caminhos e estamos no tempo certo para isso. A atualização da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a obrigação da implementação até o final de 2019 é uma grande oportunidade para desviarmos do modo automático que as urgências do dia a dia nos colocam para revermos pontos centrais da nossa missão, que é entender o que o meu aluno deve aprender, de que forma e como mensurar esse processo de aprendizagem. E a partir disso, encontrar os espaços de melhoria para que esses objetivos de futuro sejam atingidos.
Por Alberto Costa, Senior Assessment Manager de Cambridge Assessment English, departamento da Universidade de Cambridge especializado em certificação internacional de língua inglesa e preparo de professores.