PERFIL DA ESCOLA
Matéria publicada na edição 02 | Março 2005
Uma escola em transformação
O Pueri Domus enfatiza a formação dos alunos, valorizando a sua participação crítica e criativa. É a cultura do conhecimento contra a cultura da nota.
No próximo ano, o Colégio Pueri Domus completa quarenta anos de história. O colégio surgiu na mesma época de diversas outras instituições de ensino, que buscavam uma educação movida por novos princípios, diferentes das escolas tradicionais: passou-se a acreditar que os alunos chegam à escola com conhecimentos prévios. De lá para cá, o Pueri Domus cresceu: são mais de 3.500 alunos distribuídos em seis unidades em São Paulo (Verbo Divino, Itaim, Paineiras, Aldeia da Serra/Barueri, Araraquara e Aruã/Mogi das Cruzes). A instituição oferece, da Educação Infantil ao Ensino Médio, a opção de dois currículos: o brasileiro e o americano. Há também o programa Escola Ampliada, uma proposta diferenciada de período integral, que visa a desenvolver a autonomia e a independência da criança dentro dea um contexto bilíngüe.
Na verdade, o Pueri Domus nasceu com uma linha pedagógica montessoriana. Até hoje, a escola conserva alguns resquícios desse método de ensino, por considerá-los importantes. Segundo Luis Antonio Laurelli, diretor de ensino da escola, um desses elementos é a roda nas salas de Educação Infantil. “A criança começa o dia falando das suas experiências, o que motiva o professor a puxar ganchos para o seu objetivo do dia. Quando a criança traz alguma informação, é porque aquilo é significativo para ela. E, se o professor parte dessa informação, ele tem maior probabilidade de obter sucesso”, avalia. Laurelli completa que deve haver competência do professor em vincular a contribuição do aluno com seus objetivos. “Senão, pode acontecer uma educação sem orientação, sem propósitos e objetivos claros”, diz.
Também com os alunos maiores há a preocupação em se utilizar os conhecimentos prévios do aluno. “O professor não parte do ponto zero, mas do ponto inicial em que um determinado grupo está. Cito o exemplo de um professor que iria falar de genética e encontrou na classe uma aluna que era uma expert no assunto. O avô da menina tinha uma fazenda onde era realizada inseminação artificial em vacas. Uma experiência como essa pode trazer à aula uma outra qualidade. Aquele aluno se transforma em professor”, aponta Laurelli.
Nas classes de Ensino Fundamental, a partir da segunda série, outro momento das aulas onde as crianças podem expor seus conhecimentos é a Tribuna Livre. A atividade começou pela quarta série, onde acontece semanalmente. Durante todo o ano, os alunos falam sobre um assunto que dominem, ou sobre o qual busquem informações. “O aluno quer mostrar seu conhecimento. Ele se prepara como se fosse fazer uma conferência. Na verdade, ele é o conferencista naquele momento. Nessa atividade, a escola está trabalhando o desenvolvimento da oralidade, a capacidade de síntese, a argumentação, itens essenciais para que os alunos tenham uma formação mais ampla”, define. O diretor ressalta a importância dessa atividade acontecer de maneira voluntária. “Em geral, temos uma fila de crianças para se apresentar. Alguns até se apresentam mais de uma vez durante o ano”, completa.
Mas, há outras iniciativas do colégio instituídas este ano em todas as unidades e que têm movimentado toda a comunidade escolar. Uma delas são as aulas em blocos de 90 minutos, a partir da quinta série. Outra novidade são as seções de tutoria. É definido um professor tutor por turma, de quinta série ao segundo ano do Ensino Médio: o tutor é um professor da turma que, além das suas aulas normais, tem mais quatro aulas de 45 minutos por semana com a classe. Por ter uma carga horária grande com os alunos, deve ser um professor com um bom relacionamento com a turma. “Percebemos que, na maioria dos colégios, as coisas vão muito bem até a quarta série. Por que os problemas começam a partir da quinta série? Nessa fase, além da adolescência, surge a divisão por disciplinas. Cada professor começa a olhar mais para o seu próprio umbigo e não para o conjunto das áreas. A disciplina passa a ser mais importante do que propriamente a formação do aluno, e somos uma instituição que privilegia a formação”, aponta.
As seções de tutoria são focadas na aprendizagem. Elas têm 90 minutos e estão a serviço do conjunto das disciplinas. Nesse espaço, um grupo de alunos com dificuldade em alguma matéria pode estudar com o apoio de alunos que tenham bom desempenho naquela disciplina. “Quando estamos focados no ensino, pensamos independentemente de como o outro aprende. Quando colocamos o foco na aprendizagem, temos que pensar em ensinar para o outro aprender. Colocamos o aluno como protagonista e não como um agente passivo do processo”, esclarece Laurelli. Esse novo esquema de aulas fez com que a escola repensasse inclusive seu modelo de avaliação, tirando a força da prova. “A prova está absolutamente relativizada. Ela é apenas um dos três instrumentos de avaliação, que vale 1/3 da nota. O outro é um momento individual de avaliação do aluno, que não é prova e podem ser trabalhos, lições, produções individuais. Mais 1/3 da nota vem de produções coletivas, a grande parte feita dentro da própria escola. Hoje é importante tudo que o aluno faz dentro da escola”, explica.
Com a mudança, alunos que não ficavam de recuperação agora ficam, já que foi valorizado o trabalho constante do aluno, e não apenas seu bom desempenho na prova. A situação inversa também está ocorrendo: alunos que tinham notas baixas conseguem com o novo método de avaliação melhor desempenho. O peso dos trimestres também mudou: todos passaram a ter pesos iguais. “Essas mudanças implicam numa quebra de paradigma, inclusive com as famílias. Queremos que a cultura da nota passe a ser a cultura do aprendizado, valorizando o conhecimento. Quanto maior o aluno, mais difícil essa mudança, porque ele tem mais tempo acumulado de cultura da nota. Acreditamos que a médio prazo teremos alunos se formando com uma outra qualidade, com outra relação com o conhecimento, com as pessoas”, diz. A transformação tem motivado também os professores a estudar mais: com aulas de 90 minutos, eles precisam repensar a sua prática e pensar em novas estratégias e dinâmicas. “Mudamos a relação de tempo e espaço na escola e criamos outros espaços de aprendizagem”, resume.
Evolução
Atividades como as desenvolvidas pelo Pueri Domus diferem bastante do ritmo de escolas com um sistema de ensino tradicional. “Durante muitos anos a escola esteve preocupada com a Matemática e a Língua Portuguesa. Mas, as crianças não têm apenas essas duas inteligências. Algumas são mais desenvolvidas em um aluno do que em outro. Não podemos considerar um aluno muito bom em Arte, por exemplo, num segundo plano. Ele tem que estar no mesmo plano que um com bom desenvolvimento em Português, em Matemática ou em Educação Física”, constata o diretor.
A escola deve perceber qual o potencial do aluno, para que ele se aprimore na disciplina em que tem uma habilidade e uma competência maiores, e também para que possa desenvolver outros potenciais e abrir novas perspectivas. “Assim, o educador consegue ressaltar a qualidade desse aluno, o assunto que ele domina, e o grupo passa a olhá-lo com admiração, a percebe-lo de outra forma. Se a escola só privilegia a Língua Portuguesa ou a Matemática ele fica absolutamente inibido. Ele acredita que o seu conhecimento não tem importância, e sua auto-estima cai”, complementa.
Se o Pueri Domus trabalha hoje sob uma perspectiva construtivista foi, conforme Laurelli, uma evolução motivada pelas próprias exigências do mercado, das famílias e por um aprofundamento teórico dos próprios educadores. “Trabalhar com um método fechado pode colocar a escola numa espécie de camisa de força. As próprias crianças e as famílias nos trazem outras questões. O Pueri Domus passou por fases diferentes também em função das discussões que aconteciam dentro da escola”, conta Laurelli.
Hoje, a escola desenvolve elementos de diversos teóricos da educação para construir uma identidade própria, que atenda justamente pais que procuram um outro tipo de ensino. O diretor do Pueri Domus cita o livro “A terceira onda”, de Alvin Toffler, para ilustrar o momento pelo qual passam as escolas: a primeira onda foi a das civilizações agrárias; a segunda foi marcada pela Revolução Industrial, com um modelo de educação baseado na repetição, justamente para formar mão-de-obra; a terceira onda, que vivemos agora, é a da informação. Para Laurelli, ainda há espaço para a segunda onda, isto é, a das escolas tradicionais. “É uma perspectiva de escola que funcionou e ainda funciona mas que, ao meu ver, está com os dias contados. Hoje, as empresas precisam de um indivíduo que seja não apenas mão-de-obra mas um cérebro de obra. Para serem competitivas as empresas necessitam de novos profissionais, que sejam solidários entre si”, avalia.
A escola deve formar alunos flexíveis, que saibam trabalhar em equipe. “Muito mais do que os conhecimentos que são adquiridos durante a vida, são importantes as posturas: ser socialmente responsável, perceber que se está a serviço do coletivo. O aluno deve sair da escola com a perspectiva de ser um agente de transformações sociais”, afirma. Essas também têm sido exigências dos pais. Conforme o diretor, o colégio percebe com clareza a tendência de muitas famílias buscando outro tipo de educação para os filhos. “Antes, os pais queriam seu filho o mais competitivo possível, massacrado na escola para criar hábitos. Hoje, a escola não educa mais sozinha. A mídia virou escola e os pais têm um papel importante na educação, apesar de às vezes transferir essa responsabilidade toda para a escola. Temos que trazer a família novamente para o interior da escola, o que não é fácil”, constata.
Laurelli avalia que este é, justamente, o aspecto mais complexo da escola atualmente: trabalhar com questões interdisciplinares e não somente com conhecimentos estanques, compartimentalizados. Uma das iniciativas do Pueri Domus inclui estimular os alunos a participarem de projetos sociais. Através do Núcleo de Ação Social, os alunos trazem idéias que são levadas para discussões em assembléias. Na unidade do Itaim, a escola abriu espaço para pessoas da comunidade que são alfabetizadas pelos próprios alunos. Já os adolescentes da unidade Verbo Divino atuam como contadores de histórias em hospitais.
Escolas parceiras
O trabalho realizado no Pueri Domus extrapolou as fronteiras de suas unidades próprias. Mais de 150 escolas, localizadas em 20 estados do Brasil, utilizam o método da escola. Através do Pueri Domus Escolas Associadas, as instituições parceiras utilizam publicações pedagógicas especialmente elaboradas para adoção das escolas associadas, atendendo aos segmentos de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Além da utilização dos livros, os associados participam de encontros de formação contínua e recebem assessoria nas escolas, desenvolvendo a troca de experiências e a reflexão sobre suas práticas. São organizados, ainda, encontros com pais e alunos associados, com o objetivo de aproximá-los e de criar espaços para discussão de suas necessidades. O Pueri Domus acaba de lançar um novo veículo de comunicação entre as Escolas Associadas, a revista Super Escola, que pretende levar aos gestores e educadores parceiros, e indiretamente aos pais dos alunos, reportagens, entrevistas e artigos sobre o segmento educacional.
RAIO X DA ESCOLA
• Seis unidades: Verbo Divino, Itaim e Paineiras, em São Paulo, Aldeia da Serra (Barueri-SP), Araraquara (SP) e Aruã (Mogi das Cruzes-SP).
• 3500 alunos
• Aproximadamente 465 funcionários
• Cursos oferecidos:
*Currículo brasileiro: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.
*Currículo Americano – Global Education (Unidade Verbo Divino e Aldeia da Serra): formação em duas culturas e duas línguas: a brasileira e a americana. Programa criado em parceria com a Câmara Americana de Comércio de São Paulo (AMCHAM), que habilita uma escola brasileira a emitir diploma americano, atendendo não só a alunos brasileiros como a alunos de outras nacionalidades, a partir dos quatro anos de idade.
• Atividades extracurriculares (de acordo com a disponibilidade de cada unidade): natação, judô, ballet, ginástica olímpica.
• Internet: www.pueridomus.br