Por que começar pelo Edmodo, entre tantas tecnologias em educação?
Escolhemos apresentar neste espaço o Edmodo, rede social dos educadores, por uma razão: ele valoriza a experiência do professor, ao contrário de plataformas e sites que propõem um aprendizado direto com a máquina, sem mediação. Muitos deles apenas inserem conteúdos tradicionais em ambientes virtuais, tendo como foco a divulgação pura e simples do conhecimento, numa espécie de novo enciclopedismo vulgar. Esse é o caso do Khan Academy, o imenso depósito de vídeo aulas fundado pelo indo-americano Salman Khan (www.khanacademy.org).
Claro, se o objetivo for levar conteúdo pronto a uma comunidade onde não exista escola para todos, tudo bem, mas, para além disso, não há muito o que celebrar. Por outro lado, há plataformas como o Grockit (https://grockit.com), que oferecem estratégias padronizadas de aprendizagem de conteúdo, por meio de exercícios modelados com base em teorias comportamentais. Sim, caro leitor, estamos diante de uma conjugação de (neo) behaviorismo, tecnologia e “mercado de saber” (ver a respeito do assunto emhttp://www.direcionalescolas.com.br/da-redacao-escolas/a-familia-na-escola-qual-o-modelo-de-educacao-que-a-sociedade-deseja), que vai corroer agressivamente o ofício dos educadores. Algo que causaria repúdio, ou mesmo motivo de piada nos anos 1980/90, passou a ser celebrado como uma panaceia que vai revolucionar a educação. Em plataformas como o Grockit, por exemplo, o professor sai da cena. O aluno paga um plano, e tem acesso a exercícios e conteúdos prêt-à-porter.
É preciso ter cuidado com esse tipo de recurso, em que o aprendizado ocorre fora de uma relação com o outro, pois o preço a se pagar pode ser alto. Não tenhamos ilusões, o princípio fundamental do aprendizado é a responsabilidade de uma geração sobre outra. O outro não é apenas aquele que instiga a curiosidade na busca pelo conhecimento, um argumento muito utilizado de fachada. Ele é, sobretudo, aquele que possibilita a inscrição de seu conhecimento em um mundo partilhado por outros. Fora deste contexto, reduzir o processo de aprendizagem a uma sequência se estímulo e resposta é uma ilusão perniciosa.
A implantação do Edmodo
Colegas que estão acompanhando nossa conversa sobre o Edmodo e mantiveram contato com as comunidades de suporte e de desenvolvimento profissional da rede, devem ter percebido que, logo no início das férias escolares de verão nos Estados Unidos, foram oferecidos treinamentos para usuários iniciantes, e para administradores. Um treinamento sobre os principais recursos do Edmodo possui um roteiro estimado em 90 minutos, dividido em quatro partes: visão geral; recursos básicos; desenvolvimento profissional; orientação sobre como obter ajuda; e suporte. Ao final de junho, realizamos este treinamento com um grupo de dez professores de uma escola privada de São Paulo, e achamos relevante pontuar alguns aspectos dessa experiência.
Em primeiro lugar, o treinamento durou o dobro do previsto, ou seja, três horas. Por um lado, isso ocorreu porque os computadores da sala de informática apresentaram problemas, e, por outro, porque alguns professores demandaram não apenas maior tempo de assimilação dos procedimentos, mas também careciam de noções de sistema operacional e manipulação de arquivos. Quanto a isso, para nossa surpresa, havia um professor que nunca havia usado email, e uma professora jovem sem noções básicas de inglês.
Nessas condições, ainda que tenhamos utilizado o dobro do tempo previsto, não pudemos abordar vários tópicos previstos em nosso roteiro, tais como: acesso mobile, desenvolvimento profissional nas comunidades, melhores práticas, e como dar continuidade ao processo de treinamento no interior do grupo do Edmodo.
Em suma, a escola que queira otimizar o treinamento de seus professores deve verificar as condições técnicas de seus computadores e de sua internet, assim como o nível de fluidez tecnológica de seus docentes. Em alguns casos, convém, de fato, abordar noções de sistema operacional, recursos de internet e gerenciamento de arquivos, que são pré-requisitos ao uso dos recursos da rede.
Por Rodrigo Abrantes
*Rodrigo Abrantes da Silva é historiador e professor. Especializou-se em História Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e atuou como pesquisador do Projeto Análise e do Núcleo de Pesquisas de Psicanálise e Educação (NUPPE) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Edita ainda o blog www.aulaplugada.com.
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