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Guia para Gestores de Escolas

Professor precisa ser reflexivo

Li algumas analogias em torno do que é ser professor e do que é preciso para o mesmo fazer um bom trabalho, mas uma das escolas onde dou consultoria me chamou a atenção e analisei durante toda a semana a situação e outras escolas. Muitos não gostarão do que eu falarei aqui, mas a ideia de meus artigos não é fazer com que gostem, mas que reflitam. “Gasto” um pouquinho de meu tempo todas as semanas, porque tenho a convicção de que não está sendo desnecessário e quero ajudar a transformar a Educação.

Mas o que se vê são alunos com analfabetismo funcional chegando ao fim do ciclo escolar sem conseguir analisar, compreender e refletir, além de muitos não saberem as regras básicas das quatro operações em Matemática. E a pergunta é, por que isso está acontecendo?

Muitos especialistas, que estão fora da sala de aula ou que nunca enfrentaram uma, trazem as ideias que professores estão sem formação adequada ou que a escola não está se atualizando para acompanhar as tecnologias utilizadas e precisas no dia a dia das pessoas. E cabe a pergunta, eles estão certos?

Antes de responder, quero dizer que em nosso Brasil há vários níveis de professores e Educação. Há várias discrepâncias entre escolas e realidades. Há várias situações iguais ou diferentes que desafiam o profissional da Educação a dar conta do recado sem reclamar ou sem apontar as falhas que começam desde o cargo de alto escalão até ao mais baixo, mas há algo em comum: A FALTA DE REFLEXÃO.

Dando uma sondagem básica aos professores do Ensino Infantil, verifiquei que a maioria que estava ali não sabia ao certo o que fazer com as crianças e não sabem como engajá-las em um caminho prévio para o Ensino Fundamental, por isso acabam servindo apenas de cuidadores. Outro ponto identificado é que muitos, que estão no Infantil, são funcionários com desvio de funções e raramente se encontra alguém com um nível médio. Então, a visão de que a Creche serve apenas para “cuidar” das crianças vem dos próprios gestores municipais. Se houvesse realmente um comprometimento na área, saberiam que a fase infantil é “o ponta pé” chave e essencial para a criança se transformar em um cidadão crítico no futuro.  Mas alguém está pensando? Ninguém. Desde os funcionários que querem apenas ganhar seus salários, dos pais que querem apenas um lugar para deixar seus filhos, dos governantes municipais que não têm funcionários e pais reclamando, pois todos estão indo à creche, agora, aprender, já é outra história.

Quando chegamos ao Ensino Fundamental nos deparamos com a fase crucial para o aluno conseguir progredir na linha crítica e se transformar em um cidadão que poderá mudar a realidade onde vive. Mas a realidade é outra. Temos professores, e muitos, com níveis básicos e outros não querendo se atualizar para caminhar junto da evolução humana e pedagógica, como são concursados, fazem do ano letivo uma guerra com coordenadores e diretores.

O Governo Federal lançou o Pacto da Alfabetização e os municípios que aderiram precisam cumprir o acordo de entregar os alunos do terceiro ano sabendo ler, escrever e efetuando operações. Em várias escolas isso acontece, mas de forma errônea, em outras, além do professor “brigar” para não fazer o aperfeiçoamento, ainda não cumpre o pacto, entregando os alunos sem as habilidades e competências necessárias. Agora, eu não sei qual é a pior, se é aquele que não cumpre ou o que cumpre, pois ambas estão entregando alunos sem senso de direção, criticidade e de avanços significativos.

Muitos irão dizer que o que escrevi é bobeira, pois entendem que seus alunos estão sabendo ler e escrever na idade certa e que minha visão está equivocada. Pode até ser, mas são poucas as escolas que compreendem que quando se diz Ler e Escrever, quer dizer que o aluno sabe fazer isso de forma lúcida e compreensiva, pois o que se vê são alfabetizações mecânicas e que não levam o aluno ao campo das ideias.

Quando este aluno cai no ciclo II, Fundamental II, vem com defasagens de compreensão textual. E quando se diz Compreensão, quero dizer ler, compreender, refletir e levar ao campo das ideias para uma prática de crescimento pessoal, intelectual e cidadã. Não acontece isso. Então, o professor deste momento escolar não está acostumado em alfabetizar, fica com o educando em poucas horas e ainda necessita passar o conteúdo para que vejam o que se é esperado naquela série, sem se preocupar se o aluno entendeu o conteúdo, refletiu sobre ele, e se fará uso dele. Vira um efeito dominó. Quando ele chega ao Ensino Médio, as matérias chaves para uma compreensão de vida e de trabalho como Literatura, Filosofia, Sociologia e História são as mais atingidas, rejeitadas e abandonadas por ele, pois se trata de reflexões textuais, históricos e filosóficos. E daí? Ele sai sem treino de raciocínio, sem percepção de caminhos que podem seguir e surgir de acordo com os obstáculos. O resultado são médicos matando pacientes, pois não refletiu sobre o medicamento. Policial agressivo sem sinal de segurança, mostrando que a reflexão não cabe a ele, pois segue ordem e assim se prolifera uma sociedade sem reflexão, sem ideologia, sem percepção e sem rumo. Quatro adjetivos cruciais que mostram o nosso Brasil de hoje.

Entendo que o professor do Fundamental I é o profissional que deveria ganhar mais, desde que faça realmente o trabalho de alfabetizar no senso crítico e não no comum. Mas como fazer isso se os nossos próprios profissionais não estão acostumados em pensar? Perceberam que é um efeito circular? Onde todos passam pelas mesmas maneiras e aprendizagens e caem nas mesmices de uma sociedade sem direcionamento. Como exigir de um aluno uma compreensão mais detalhada, se eu, como professor, não faço e não sei. Pensar dói; pensar sangra. Mas este provérbio deveria ser para a massa, não para profissionais que carregam o saber e sabem que o seu trabalho se reflete diretamente na sociedade onde vivem.

Especialistas defendem uma formação continuada aos professores, dizendo que só a graduação não basta e se faz necessário o caminho acadêmico e cursos inventados pelos governantes para “adequar” e “situar” o professor no processo de ensino. Digo que conheço muito profissionais nas escolas de mestrado e doutorado que não conseguem dominar uma sala de aula e não tem perfil para mobilizar, de forma crítica, seus alunos. Eu vou além, digo que não precisamos de mestres e doutores em salas, precisamos de pessoas reflexivas que consigam encontrar maneiras para alfabetizar de forma eficiente e mais abrangente do que ler palavras, precisamos de professores que façam os alunos lerem o mundo.

miniatura-alex-de-frança Alex de França Aleluia é formado em Letras. Escritor de obras sobre Educação, as quais já foram elogiadas por especialistas na área. Foi coordenador pedagógico de franquias de multidisciplinaridades. Já trabalhou como Coordenador do Programa Escola da Família. Trabalhou em cursinhos e Faculdades. Hoje faz palestras voltadas à motivação educacional. Capacitação para professores e articulistas de portais voltados à Educação. É membro da Academia de Letras do Brasil. Acesse seu site: www.professoralexdefranca.wordpress.com Facebook: Prof. E Escritor Alex de França Aleluia Twitter: @escritoralexf

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