Quais são os impactos da Educação Financeira na vida do estudantes?
Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação e Taíse Cortês
A estrutura educacional, especialmente nos últimos anos, passa por mudanças significativas. À luz da Base Nacional Comum Curricular e do Novo Ensino Médio, observamos que as rotas educacionais tentam se aproximar ao máximo da realidade dos estudantes e, consequentemente, tentam se adequar às necessidades que emergem na contemporaneidade. Dessa forma, a educação financeira adentra nas escolas como um tema transversal, necessário para os estudantes a médio e a longo prazos. A partir desta ideia, neste especial da Conversa com o Gestor, conversamos com profissionais da área educacional para compreendermos quais são os impactos da inclusão da educação financeira nas escolas.
“Quase 80% da população brasileira está endividada, 46% declaram que não tem controle do seu orçamento e 35% são analfabetos financeiros. Sabemos que problemas financeiros impactam psicológica e emocionalmente as pessoas: estresse, ansiedade, problemas de relacionamento e até divórcio!
Além disso, sabemos também que o ensino vem passando por uma transição, desde as normas do MEC-BNCC com novas matérias e carga horária até os próprios pais que buscam mais valor pela mensalidade paga, querem que a escola mescle digital e tradicional e tenham outras atividades que preparem seus filhos para a vida.
Com esse cenário, fica muito claro que já passamos da hora de ter a Educação Financeira como matéria nas escolas. Temos o dever de preparar uma nova geração de alfabetizados financeiros que saiam das escolas sabendo não só lidar com o dinheiro, juros, investimentos, inflação, mas que saibam controlar os seus orçamentos, lidar com as emoções frente ao dinheiro, evitem armadilhas financeiras e tenham uma mentalidade empreendedora. Somente assim veremos um futuro mais próspero, onde todos podem contribuir para a sociedade e realizar seus sonhos!”
Bruno Siqueira – Sócio & CMO Blocos Educação
“A inclusão da Educação Financeira nas escolas é importante por diversos aspectos, na medida em que passa a ser um pilar da formação das pessoas, para que elas direcionem conhecimentos para uma melhor gestão das suas finanças pessoais e do orçamento doméstico. Vejo que dispor de conhecimentos da Educação Financeira é fundamental em qualquer nível de renda familiar, pois uma má gestão dos recursos financeiros pode trazer consequências negativas para todos.
Além da gestão de finanças pessoais e do orçamento doméstico, a Educação Financeira nas escolas também é importante, pois contempla temas como conscientização a respeito de bons e maus hábitos de consumo e de poupança, conhecimentos sobre Economia e sobre o sistema financeiro nacional, entre outros. Com isso, vejo que um dos grandes impactos consiste em auxiliar o jovem, cidadão atuante na sociedade, a desenvolver metodologias de planejamento, administração e investimento financeiros para a vida!”
Ednei Leite de Araújo – Professor e coordenador editorial do SAE Digital
“Educação Financeira é um dos alicerces mais importantes na formação integral de um sujeito que esteja preparado para ter e perseguir seus sonhos. Não saber gerir adequadamente os recursos financeiros ou não saber planejar e poupar pode levar ao insucesso de uma empreitada. Como consequência, pode gerar situações de conflito ou mesmo sentimento de incompetência, além de outros problemas socioemocionais.
Saber gerir adequadamente é um processo educacional que começa na infância, por meio de pequenas ações que estimulam a criança a poupar e a comprar, buscando refletir sobre os limites e as possibilidades presentes a cada momento. À medida que elas vão crescendo, os desafios podem ser cada vez mais complexos, até que no Ensino Médio seja possível ao estudante utilizar este aprendizado para construir seu projeto de vida e planejar seus investimentos futuros.
Pessoas organizadas financeiramente têm uma vida mais equilibrada e saudável, conseguem manter melhor a harmonia familiar, se dedicar com mais tranquilidade aos desafios profissionais e colaborar para o crescimento de uma nação mais promissora economicamente. Se concordamos com essa ideia, temos que buscar reverter o resultado da pesquisa apresentada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC – 2021), a qual indicou que ¾ das famílias brasileiras estão endividadas.”
Dra. Luciana Allan – Diretora Técnica do Instituto Crescer
“Pensar a Educação Financeira nas escolas é promover a integração de estudantes na sociedade permitindo que eles estejam prontos para os desafios da administração de sua renda de forma eficiente, impactando diretamente na realidade de suas famílias.
Essa oportunidade, quando incluída no currículo, introduz nas crianças e nos adolescentes os conceitos fundamentais do mercado de trabalho, importantes para que possam compreender o real valor do dinheiro e como as suas emoções afetam sua vida financeira.
Essa iniciativa possibilita o acesso a conhecimentos que construam uma geração de valor que tende a tomar decisões baseadas em premissas como poupar, consumir consciente, investir e se tornar capaz de rentabilizar seus recursos escrevendo um futuro promissor de forma planejada.”
Mayara Lira – Responsável pelo Novo Ensino Médio no Departamento de Soluções Escolares da Rede Decisão
“A Educação Financeira nas escolas é de suma importância. Vivemos num mundo capitalista, onde o ‘ter’ é muito valorizado. Somos todos bombardeados por propagandas o tempo todo. As crianças também o são e não têm discernimento para tomar grandes decisões. Então, faz-se necessário apresentar os conceitos iniciais de finanças: dinheiro, troco, caro ou barato, e o que é esse tal de salário que os pais falam. Entender o que é orçamento, no que gastar, quanto sobra, para começar a atingir seus pequenos sonhos de consumo.
Quando os pais falam sobre o dinheiro, explicam a dinâmica financeira de seu núcleo familiar, a criança cria um sentimento de pertencimento. Ela vai entender como as decisões são tomadas, e não precisa mais ser enganada com um ‘na volta a gente compra’. Num ambiente saudável, ela vai entender que pode conseguir muitas coisas, sem mágica, e com muita matemática, planejamento e controle.
Essa criança vai crescer e virar um adulto que sabe lidar com o dinheiro, sabe tomar decisões de consumo e investimento e tem suas metas de curto, médio e longo prazos, sem ser levada por arroubos e atitudes impensadas. Não será enganado por propagandas e levado a gastar desnecessariamente. Não criará um mundo de ilusões com padrões de vida que não correspondem ao seu, para depois pagar muito caro por isso. Uma vida onde o dinheiro não é o problema, e sim uma ferramenta para atingimento de sonhos, pessoais e profissionais, com inteligência e honestidade, é uma vida feliz. Que é o desejo de qualquer ser humano.”
Mara Cortez – Administradora, autora do livro “Mãe, a gente pode levar?” e Diretora da Cortez Editora
“Desde cedo devemos ensinar as crianças e os adolescentes a gerirem adequadamente o seu dinheiro e ensinar que lidar com o dinheiro implica em tomada de decisões mais conscientes e seguras. Visto isto, a Educação Financeira nas escolas não significa apenas ensinar a não gastar mais do que ganha nem a ganhar mais dinheiro para ter mais dinheiro, e sim aprender a se planejar e administrar adequadamente o dinheiro, traçar metas e conquistar objetivos. A Educação Financeira sendo ensinada nas escolas ajuda a criar gerações mais responsáveis com o dinheiro. Isso acaba interferindo positivamente em outros contextos, como o consumo consciente, auto-organização, respeito ao meio ambiente, entre outros. Ensinar crianças financeiramente educadas é preparar adultos conscientes da importância do dinheiro na vida.”
Rafaella Borsatti – Professora de matemática financeira do Colégio Stella Maris unidade Juvevê-Curitiba/PR
“É necessário perceber que o futuro econômico de qualquer nação depende das habilidades financeiras e de negócios que oferecemos hoje aos jovens. A escola e sua estrutura pedagógica devem estar alinhadas com as novas demandas de formação que os alunos devem ter em suas vidas para concretizarem seus sonhos. É fato que a alfabetização financeira é uma dessas habilidades, essencial ao empreendedorismo e a novos tempos, nos quais o desenvolvimento econômico e tecnológico tornou a conectividade global um fator importante nas relações sociais e de consumo.
Quanto mais cedo as crianças tiverem acesso aos conceitos de finanças, principalmente de projetos, melhor será a absorção, que ocorrerá naturalmente para o aluno ao longo do período escolar. A Educação Financeira, porém, jamais deve ser tratada em um contexto particular e isolado. Profissionais da educação devem ser preparados de forma adequada e contínua para reforçar o conceito de interdisciplinaridade, bem como trabalhos temáticos em todos os âmbitos da Educação Básica ao Ensino Médio.
A abordagem de finanças, portanto, deve estar inserida nos itinerários formativos e do projeto de vida dos estudantes. A família também é importante nesse contexto de aprendizado de finanças, pois a concretização das oportunidades assimiladas na escola se dará com a aplicação dos conceitos dentro do núcleo familiar. Em 2023, nossas unidades Novo e Alvorada terão atividades extras sobre empreendedorismo e finanças com esse foco, pois acreditamos que em um mundo altamente complexo, as crianças precisam assumir controle de seu futuro, inclusive o financeiro.”
Jhony Yamada – Diretor do Colégio Novo
“Mesmo não existindo instrução formal relacionada a Economia e Finanças no currículo escolar regular do Ensino Fundamental e Médio no Brasil, devido à natureza onipresente das relações financeiras em nossas vidas, compreender os conceitos básicos de economia e finanças é fundamental para uma vida equilibrada e próspera.
Em um mundo em constante mudança e evolução, as instituições de ensino precisam estar atentas e preparadas para acompanhar as necessidades da sociedade. A Educação Financeira, assim como o ensino obrigatório das hard skills, como português e matemática, tem sua importância cada vez mais reconhecida e contribuirá positivamente para a formação de jovens mais conscientes e preparados para lidar com seu próprio dinheiro e de suas famílias.
Na rede particular de ensino, as iniciativas têm sido tratadas com atenção e destaque. Na Sphere International School, temas como ‘orçamento, impacto dos juros, impostos, crédito e dívida, preservação e crescimento da riqueza’, já estão sendo apresentados para estudantes do Ensino Fundamental 2. O curso de Educação Financeira oferecido pela escola possui dois módulos de 12 horas cada. Ao todo, são 32 aulas de 45 minutos com o objetivo de conscientizar os estudantes sobre a importância da Educação Financeira e seu impacto na vida de uma pessoa.”
Victor Hugo Santana – Diretor da Rede Sphere International School