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Guia para Gestores de Escolas

Soluções arquitetônicas nas escolas: quais materiais utilizar e como trabalhar com harmonia e qualidade para assegurar rendimento dos estudantes

As arquitetas Cristina Corione e Yara Santucci Barreto apresentam, em entrevista a seguir, dicas de intervenção e critérios para escolha de materiais na ampliação ou decoração dos espaços físicos das escolas.

Revista Direcional Escolas Quando a escola decide pela construção ou reforma, ela tem que tomar como ponto de partida que qualquer projeto ou solução que venha a adotar deve buscar sempre uma harmonia estética?
Cristina Corione – As escolas destinam-se, em sua maioria, a crianças e adolescentes. Portanto, é necessário observar suas características comportamentais no momento da elaboração do projeto, tanto na adequação de ambientes, como na escolha de mobiliários e equipamentos.
Harmonia estética é apenas um dos itens a ser considerado. A qualidade arquitetônica deve ser levada em conta também. Na realidade, a somatória da harmonia estética e qualidade arquitetônica é que influenciará na satisfação e rendimento criativo dos estudantes que convivem dentro de uma escola.
O projeto arquitetônico deve ressaltar os valores a serem transmitidos pela escola no que se refere à imagem que ela deseja passar. E nesse ponto entram itens como a organização e interligação dos ambientes, a escolha adequada de materiais de acabamento, iluminação, paisagismo, valorização da área de convívio social, detalhes pontuais importantes como a escolha de móveis que atendam à parte de ergonomia, e atitudes como incentivo à sustentabilidade através de coleta seletiva, por exemplo, além de um projeto adequado de sinalização que faça fluir o caminhar entre espaços.
O resultado final é que os ambientes devem traduzir a alma da escola.

Revista Direcional Escolas Como a escola deve, então, trabalhar esses ambientes de forma a produzir sensações nas pessoas, seja de acolhimento, conforto, pertencimento etc.?
Cristina Corione – Um projeto de arquitetura para escolas deve ter um estudo criterioso em relação à luminosidade nas salas de aula. Um projeto de luminotecnia que promova um aproveitamento de iluminação natural garante o conforto visual dos alunos, aumentando o rendimento escolar, bem como a economia de energia elétrica. Alguns itens que ajudam nessa métrica são: colocação de janelas em paredes opostas para permitir a iluminação bilateral e evitar a colocação de janelas nas orientações Leste e Oeste. As aberturas de luz devem ser adotadas nos outros ambientes como forma de conectar as pessoas ao ambiente externo e a passagem do tempo (dia, noite, chuva).
Quando a questão é amplitude espacial, alguns elementos acabam por definir e influenciar a delimitação do espaço pessoal, como nichos, altura de pé direito, disposição de mobiliários, equipamentos, barreiras visuais e acústicas. Para áreas livres, por exemplo, de convívio social, é importante garantir a amplitude espacial, de contemplação, mas inserindo pequenos nichos e barreiras visuais onde grupos de pessoas passam conviver e interagir.
Já ambientes como salas de aula e auditórios que possuem outra necessidade, devem ter a amplitude trabalhada de outra forma, com limites de espaço para priorizar o aprendizado.
O uso da cor é um dos recursos mais econômicos para promover mudanças sensoriais em um ambiente. Cores mais intensas e estimulantes podem ser utilizadas em ambientes de pequena permanência como corredores, escadas, banheiros, mas de forma controlada. Observar que o mobiliário e decoração devem ser considerados como elementos de integração e contraste. Nas salas de aula priorizar o uso de cores claras, pois além de aumentar o ambiente, passam a sensação de tranquilidade aos estudantes.

Revista Direcional Escolas Podemos partir do princípio que todo e qualquer elemento visual comunica alguma coisa?
Cristina Corione – Sim, qualquer objeto carrega características que irão reforçar a imagem que se deseja passar sobre uma empresa, instituição, escola. O ser humano sempre raciocinou observando as imagens que primeiro são percebidas e depois analisadas. A imagem é constituída de forma a impressionar, expressar e construir uma emoção. Tudo que vemos tem alguma coisa a comunicar: cores, formas, texturas, materiais, dimensões, interatividade.

Revista Direcional Escolas Em termos de sinalização, as escolas devem estar atentas a quê? Por exemplo: identificação de seus espaços, orientação para itinerário, horários e regras de funcionamento desses espaços etc.?
Cristina Corione – Todo projeto de sinalização deve levar em conta alguns critérios fundamentais que interferem bastante na questão do ‘encontrar-se’, como o tipo de planta, os fluxos de pessoas dentro dos espaços, a circulação propriamente dita e as características arquitetônicas. É nossa função tornar o espaço social mais legível, traduzido, permitindo que o usuário possa circular facilmente pelos espaços. E para isso é necessário que o projeto utilize tipos de letras visualmente adequados em suas mensagens, com formas e tamanhos compatíveis para uma resposta à distância de leitura.
Uma família de pictogramas – símbolos gráficos que identificam espaços – deve ser especialmente criada para locais como banheiros, cantina, laboratórios e salas específicas. Placas e totens devem ser afixados de acordo com a localização e podem variar entre suportes suspensos, sobrepostos a paredes, em bandeira – perpendiculares à parede, ou apoiados no chão. Para sua eficiência, teremos placas indicativas de ambientes, direcionais – que regulam o fluxo e, dependendo do tamanho do local, é interessante prever um grande diretório com a planta do local simplificada, mostrando ao usuário o espaço como um todo para um entendimento e apoio maior.
Dependendo do público (infantil ou adolescente) deve-se escolher uma gama de cores a ser trabalhada, novamente reforçando a ideia de passar o conceito educacional da instituição.
Na questão da ambientação, que também faz parte da sinalização, grandes áreas são trabalhadas – portas, paredes inteiras ou apenas faixas – para dar mais personalidade e domínio do espaço. Mas antes de tudo, como passo inicial, é fundamental que exista uma inteiração e conhecimento do que é o cotidiano e rotina da escola. Uma instituição, por exemplo, pode necessitar de uma sinalização flexível, onde salas de aula podem mudar de função de acordo com a necessidade e tempo, e isso vira escopo imprescindível na parte criativa.

Revista Direcional Escolas Quais os materiais que elas podem utilizar para placas, totens etc., que sejam funcionais, bonitos e fáceis de trabalhar?
Cristina Corione – Atualmente existem diversos materiais que podem ser trabalhados em sinalização. Há desde os mais práticos, funcionais e acessíveis, como o vinil adesivo, que pode ser utilizado em padrões criados de forma personalizada e aplicados em superfícies variadas como paredes, portas, vidros. Existem muitas opções entre os opacos, brilhantes, perfurados em forma de retícula, texturizados.
Áreas maiores como portas podem ser revestidas com fórmica impressa, também se transformando em elemento comunicador. Para placas podem ser utilizados o PVC expandido, MDF, que podem receber pintura ou não, dependendo do resultado que se deseja. O acrílico também é um material interessante, pois já é encontrado em cores bem diferenciadas e vibrantes, além de ser transparente.
A acessibilidade é outro aspecto fundamental que deve fazer parte do projeto, para atender aos deficientes visuais e físicos, e temos no mercado uma série de pisos podotáteis em borracha ou PVC, para viabilizar essa questão, claro que mediante um projeto perfeitamente calculado.
Algumas escolas já despertaram para a questão da sustentabilidade, por exemplo, e querem difundir o tema desde cedo na escola, e já utilizam projetos de sinalização com materiais verdes sustentáveis, como chapas feitas de PET reciclado, tubo de pasta dental prensado, madeira reutilizada, bambu, e outros.

Revista Direcional Escolas Quanto aos revestimentos em pisos e paredes, aos elementos de decoração, à remoção ou acréscimo de paredes e baias, quais os critérios devem ser levados em conta para a escolha das soluções e materiais, de forma a proporcionar conforto estético, térmico, acústico etc.?
Yara Santucci Barreto – Revestimentos de pisos devem atender prioritariamente à segurança, apresentando qualquer tipo de rugosidade que evite acidentes, além da sinalização de degraus e soleiras, e também uma boa absorção acústica para as áreas internas. Mantas vinílicas, emborrachadas ou mantas de linoleum (fibras naturais) são indicados. Para as áreas externas, o piso cimentício desempenado com juntas de dilatação pode ficar charmoso, se diagramado e misturado com cimento branco ou corante. Pisos drenantes representam uma solução excelente também para ao menos trechos de pisos externos.
Paredes necessitam dar isolamento acústico às salas de aula, e por isso devem ser constituídas por alvenarias maciças de tijolos ou de blocos cerâmicos, embora seja possível, no caso de paredes internas, adquirir ótimos resultados com o uso de drywalls preenchidos com lã de rocha ou de pet. As drywalls podem ser facilmente desmontadas e deslocadas. Revestimentos internos texturizados para uma ou outra parede podem ser grandes aliados do conforto acústico e estético.
Elementos decorativos, sim, podem ser um diferencial bacana, desde que relacionados ao conceito pedagógico da escola, tais como armários, quadros de avisos, prateleiras, mobiliários, lixeiras, cabides. Utilitários estes, enfim, que podem receber um tratamento que alie conceito estético, funcionalidade, durabilidade.
Conforto térmico e de iluminação também são fundamentais para os ambientes de salas de aula, laboratórios, bibliotecas, salas de atividades diversas. Além de considerar a insolação das edificações que comportam esses ambientes para dimensionar a inércia térmica das alvenarias (ainda em fase de projeto, preferencialmente), é extremamente relevante saber também dimensionar as aberturas, tanto por questões de ventilação como de iluminação. Quanto maior possibilidade de aproveitar a luz natural, e apenas complementá-la com a artificial por meio de circuitos automatizados ou dimerizados, maior a economia e melhor conforto para os alunos e professores, que sempre permanecerão ali por longos períodos.

Por Rosali Figueiredo


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Cristina Corione
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Yara Santucci Barreto
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