Tradição e Inovação nas escolas contemporâneas
Colunas e Opiniões
“Vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar” (ZygmuntBauman)
O tempo e o espaço tornaram- se relativos com o advento das novas tecnologias. Tudo aparenta ser temporário e efêmero e as escolas em sua maioria são espaços conservadores da tradição e necessitam estar abertas às inovações como ambiências de construção de conhecimentos.
Em tempos que os seres humanos podem se movimentar sem sair do lugar, a maior parte das escolas são modeladas por rigidez nas avaliações, clima organizacional pessimista, normas disciplinares ultrapassadas, “gestão” da sala de aula impositiva, didática enfadonha e uso precário das tecnologias.
A “sociedade sólida” contrasta com a “modernidade líquida” que molda o imaginário das crianças e jovens que frequentam as escolas contemporâneas chamados de Geração C do Coletivo Conectado.
Para os estudantes atuais, tudo é fluidez, leveza, presentismo, flexibilidade, hedonismo e imprevisibilidade. Encontramos um dilema na relação escola-estudante, pois a escola herdeira da solidez tradicional estrutura-se, teimosamente, fundamentada na transmissão-assimilação, no estabelecimento de uma rotina ordenadora, disciplinar que vai desde o uniforme à fala enfadonha dos funcionários, professores e gestores. Existe um “gap” de linguagens entre os dois mundos.
A “escola sólida” se assemelha como diria Michel Foucault a uma fábrica, hospital, quartel e prisão. Trata-se de uma “instituição de sequestro” que modela condutas e faz intervenções inadequadas. Porém, os estudantes, vivem numa sociedade em rede, onde a criatividade e a impermanência são latentes.
Quando os alunos falam sobre uma “aula diferente” estão pedindo algo como: gamificação, ensino híbrido, aulas invertidas, metodologias ativas, espaços de criatividade, trabalho voluntariado, inteligência coletiva onde a aprendizagem significativa se encontre com a Cultura da Paz e Solidariedade, Educação Patrimonial e Educação para a Sustentabilidade. O paradoxo se dá quando professores e gestores participam de congressos, seminários, conferências, palestras e mantém as coisas no mesmo lugar, alegando que cada um tem sua realidade.
Os gestores educacionais precisam criar situações onde o professor se perceba livre para ser um designer, buscando maneiras para que o educando sempre queira aprender mais, engajar-se e interagir com a escola e com o mundo real, utilizando habilidades aprendidas no virtual.
Em um mundo de “fronteiras móveis” e “alunos transmidiáticos” a instituição escola necessita lidar com a tecnologia como facilitadora e amiga e não o contrário. Isso engaja o estudante, o faz reconhecer a escola como um espaço parceiro e não um adversário na aquisição e tratamento da informação. Mobilidade é a vida dos “nativos digitais” da Geração C e a escola não pode ser uma múmia ou baú de velhas novidades.
Os celulares e a gamificação se confrontam com a falta de tempo pedagógico para planejamento de milhares de professores. Por causa desse “gap” (dessa lacuna), o cotidiano fica enfadonho e casos de indisciplina se multiplicam. O imaginário transmidiático estudantil acha tudo lento na escola se ela não inverter sua padronização de rotinas colocando o educando como centro.
Muitos coordenadores (e eu conheci vários, recentemente até me traumatizei) se negam a mudar as escolas como ambiências de metodologias ativas, onde os jovens são protagonistas. Tudo parece ser difícil e os estudantes estão a mil. Basta dar e construir limites e a aprendizagem se torna colaborativa e significativa.
Enquanto não mudam, as escolas chamam consultores para falar da Baleia Azul, bordado humano, borda pele, automutilação e autoextermínio. Conteúdos como: voluntariado e campanhas de cultura da paz na internet poderiam começar com aulas e provas diferentes. A pedagogia contemporânea constatou que os estudantes engajados em uma causa respondem ao processo de aprendizagem com maior entusiasmo.
Unir virtual e real é a grande demanda para as instituições que desejarem sobreviver no imaginário da cibercultura, onde a inteligência é coletiva e tudo se dá de maneira colaborativa. Escola off precisa se tornar on. Escola em mudança ou muda ou dança! Vamos?
Professor Paulo Henrique de Souza – Fundador do Movimento Educação é o Alvo – Doutorando em Educação e Tecnologia.
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