Trajetórias das desigualdades
Como o Brasil mudou nos últimos cinquenta anos
Esta obra desmonta a tese clássica segundo a qual o Brasil teria vivido uma “inaceitável estabilidade” da desigualdade. Em 14 ensaios, que abordam educação e renda, políticas públicas, demografia, mercado de trabalho e participação política, o livro demonstra que, na verdade, as desigualdades entre os brasileiros foram expressivamente reduzidas nas últimas décadas, embora o país continue entre os mais desiguais do planeta. Os textos ainda deixam claro que o processo esteve estreitamente vinculado a decisões políticas, das quais, portanto, depende sua continuidade.
O período analisado é um dos mais distintos econômica e politicamente já vivenciados no país, os 50 anos compreendidos entre 1960 e 2010. E as análises baseiam-se nos dados de seis Censos Demográficos realizados pelo IBGE naquele intervalo de tempo. Os textos evocam imagens que refletem uma transição acelerada de um país de perfil rural e homogeneamente empobrecido, em que apenas 20% dos jovens de até 15 anos concluíam os quatro anos de ensino básico, para um país urbano, que praticamente universalizou o acesso ao ensino fundamental, ampliou significativamente o alcance dos serviços públicos e aumentou em onze anos a expectativa de vida média de sua população.
Contudo, mulheres, pretos e pardos não tiveram o mesmo sucesso. Elas entraram de forma massiva no mercado de trabalho, mas em 2010, assim como os brasileiros do segundo grupo, obtinham menores rendimentos que os homens brancos, mesmo quando possuíam o mesmo nível de escolaridade. Os não brancos avançaram ainda menos, relativamente às mulheres, que se distribuem por todos os extratos sociais. Embora tenha aumentado o ingresso de pretos e pardos na universidade nas últimas décadas, em 2010 os brancos ainda eram 75% da população universitária, e estavam matriculados em geral nas carreiras de maior prestígio. Em consequência, a redução das desigualdades em relação aos não brancos dentro do sistema escolar permaneceu restrita ao nível de ensino em que o acesso tornou-se universal, isto é, no ensino fundamental.
Tal contraste reforça as conclusões da organizadora: “A trajetória de longo prazo das desigualdades no Brasil revela que não há determinismo – econômico ou político – nesse processo. Políticas importam! Mais que isso: deslocamentos nos padrões de desigualdade requerem políticas implementadas por um longo período de tempo”.
Trechos
“O crescimento do eleitorado brasileiro entre 1945 e 2010 é patente e pode ser reputado de extraordinário. Em 1945, o eleitorado total era composto apenas por 7,4 milhões de indivíduos, 18,2 vezes menor do que é hoje. A população, nesse mesmo período, quadruplicou” (“Participação política no Brasil”).
“Entre 1980 e 2010, a taxa de mortalidade infantil no Brasil caiu de 69 para 16 por mil nascidos vivos, e a esperança de vida passou de 62 para 73 anos.4 A população de mais de 18 anos que chegou ao ensino médio pulou de 6,2 milhões para 39,7 milhões; a que atingiu o ensino superior passou de 3,4 milhões para 21,5 milhões. Ambas aumentaram em mais de seis vezes no período.” (“Trazendo o conceito de cidadania de volta: a propósito das desigualdades territoriais”).
“No universo das ocupações manuais, as mulheres ocuparam maciçamente as posições mais baixas. O emprego industrial moderno era e permanece sendo um reduto masculino. Em 1960, praticamente todo o grupo de técnicos e supervisores do trabalho manual era composto de homens (mais de 95%) e, ao longo das cinco décadas em análise, a participação feminina nesse segmento aumentou lentamente, não chegando a 15% em 2010.” (“Desenvolvimento econômico e desigualdades no Brasil: 1960-2010”)
“Apesar da redução percentual das desigualdades de cor ou raça, ao se analisar em termos dos respectivos ritmos pelo qual o peso relativo de pessoas abaixo da Linha de Pobreza declinou, observa-se uma ampliação das assimetrias. Assim, em 1995, a proporção de pretos e pardos pobres era 93,9% superior à de brancos na mesma situação. Já, em 2006, a proporção de pretos e pardos abaixo da linha de pobreza era 99,5% superior à mesma proporção entre os brancos. (Paixão, 2009, p.9)”. (“Desigualdades raciais no Brasil: um desafio persistente”).
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Ficha técnica
Preço: R$ 69
ISBN: 978-85-393-0566-7
Assunto: Política, Economia
Idioma: Português
Páginas: 490
Edição: 1ª
Ano: 2015
Formato: 16 x 23
Acabamento: Brochura com orelhas
Sobre a organizadora
Marta Arretche é professora titular do Departamento de Ciência Política da USP, diretora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) e editora da Brazilian Political Science Review.