Transexualidade, educação e cidadania
Matéria publicada na edição 116 | Março 2016 – ver na edição online
Cabelos loiros e curto, camiseta preta, calça larga, tênis e boné. Assim se veste Shiloh, filha biológica de Angelina Jolie e Brad Pitt. Desde os dois anos de idade, a pequena se comporta como menino. Recentemente, a seu pedido, Shiloh passou a ser chamada de John. Além de poder escolher as roupas e corte de cabelo, sempre masculinos, a decisão de trocar o nome também foi acatada com muita naturalidade pelos pais. Hoje, além de defender causas como a adoção de crianças de terceiro mundo, Pitt e Jolie também passaram a disseminar a questão da transexualidade infantil.
No Brasil, a discussão começou a tomar corpo há pouco tempo. Recentemente, o Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (CNCD/LGBT) publicou uma resolução recomendando às instituições de ensino a adoção de práticas de respeito aos estudantes transgêneros.
Na prática, a decisão garante aos alunos o direito de escolher o banheiro, o uniforme e o nome social que se identificam. Embora não tenha força de lei, a medida anuncia avanços para a inclusão, principalmente porque fomenta o diálogo e a discussão de um tema ainda muito novo no Brasil.
Não vejo ferramenta mais eficiente que a informação para difundir novos conceitos. E as escolas têm papel fundamental neste processo, formando cidadãos preparados para entender não só as nomenclaturas que envolvem o conceito ‘transgênero’, como também o respeito à diversidade humana. Isso evitará abusos no ambiente escolar e impactos na vida adulta do transexual, que muitas vezes é vitima de violência. Infelizmente, o Brasil é um dos países com maior número de mortes de transexuais no mundo.
Nascer em um corpo que não corresponde a sua identidade não é uma doença. Mas as pessoas que optam e desejam essa transição precisam de apoio psicológico para lidar com o impacto que essa transformação acarretará em todos os setores de sua vida.
Costumo muito dizer que não há problema em ter um preconceito e assumir sua existência. O problema está em não fazer nada para mudar essa condição. A sociedade ainda encontra barreiras para compreender estilos de vida e relações que fogem do dito “padrão natural das coisas”. Entender que o sexo de nascimento de uma pessoa pode não definir o seu gênero, tampouco sua sexualidade, é uma questão complexa e precisa ser discutida. Mais que isso, precisa ser compreendida e respeitada.
Quando podemos nos expressar como realmente somos, nos tornamos muito mais confiantes para oferecer à sociedade o que temos de melhor. É nossa missão permitir a cada pessoa o direito de crescer com expectativas de um futuro sem discriminação, com liberdade e respeito para ser o que se é.
Mara Gabrilli é publicitária, psicóloga, foi secretária da Pessoa com Deficiência da Prefeitura de São Paulo, vereadora na Câmara Municipal de São Paulo e atualmente é Deputada Federal pelo PSDB. Empreendedora social, fundou em 1997 o Instituto Mara Gabrilli, ONG que apoia atletas com deficiência, promove o Desenho Universal e fomenta pesquisas científicas e projetos sociais.