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Guia para Gestores de Escolas

Especial Educação — Babás Eletrônicas: Uma questão de bom senso

A TV e a Internet não foram criadas para servirem de “babás”. O uso que as crianças e jovens fazem desses meios de comunicação depende em grande parte das orientações das famílias e também dos professores. Desenvolver o gosto por aquilo que tem valor cultural depende da supervisão de um adulto e do exemplo, das opções e orientações que este oferece às crianças em muitas e diferentes ocasiões.

A o apontarmos sistematicamente os meios de comunicação, especialmente a TV e a Internet, como disparadores da crescente violência e do consumismo exagerado no comportamento atual de boa parte de nossas crianças e jovens, cometemos, a meu ver, dois sérios equívocos.

Primeiro, como diz o ditado, ”o feijão não é culpado pela fome”: a TV e o computador são apenas veículos de informação. Ambos, aliás, são meios de comunicação que espelham as mudanças sociais globais, além (mais sério ainda) das preferências populares, já que os programas mais sensacionalistas são também os de maior audiência.

Segundo, como também diz o ditado, “toma (conta) que o filho é teu”, ou seja, a tecnologia não veio para cuidar de crianças, apesar de haverem bons programas infantis transmitidos pela TV e de haverem sites excelentes que são feitos especialmente para os mais jovens.

Pais ou outros adultos responsáveis são presenças forçosas quando se trata de abrir a casa e a escola para o mundo e expor os mais jovens a todo tipo de informação que esteja disponível para entrar. Independentemente da idade de quem olha a telinha e do programa ou do site escolhido, a TV e a Internet, assim como os jornais, as revistas, o rádio, etc., não conseguem atender a todas as linhas educativas ou adequá-las a todas as faixas etárias. Talvez por isso a multiplicidade tenha sido favorecida nesse meio: há clientela para tudo! E esta nem sempre usa de seu direito de mudar de canal, de reclamar dos abusos a quem é responsável, de orientar os menos avisados e de limitar, escolher ou recusar o que lhe parece de má qualidade.

Podemos e devemos obrigatoriamente selecionar o que nós e as crianças vemos, ouvimos ou lemos e o fazer cada vez mais criteriosamente, pois a quantidade, a velocidade e o tipo das informações que nos chegam são constituídos também (mas não exclusivamente, é bom lembrar) por toda ordem de violência, de menosprezo aos valores sociais e morais, de forma praticamente instantânea e de tal modo que mal dá tempo de se entender uma notícia, há outra e mais outra chegando. Acompanhamos, sentados no sofá de casa, às guerras, às catástrofes naturais, aos atentados e tudo em tempo real, assim como uma série de noticiosos e programas especulativos que em nada acrescentam de construtivo ao desenvolvimento e aprendizagem das crianças. Mas também podemos assistir a concertos, programas educativos, documentários, entrevistas, filmes interessantes: é só eleger o programa, o horário e tratar de estimular a curiosidade das crianças. Selecionar e ensinar a escolher com responsabilidade é uma tarefa difícil mas indispensável nos dias de hoje!

A postura assumida por algumas pessoas, de que toda violência é disseminada pela TV e pela Internet, jornais e revistas, parece-me simplista e até tendenciosa, pois a rudeza da vida nas grandes cidades não permite que a criança fique indiferente ao que vê e vivencia nas ruas a caminho da própria escola e até dentro de seus muros! Isso, se não falarmos dos atos de violência física e psicológica que acontecem em casa, em um número crescente, assustador e alarmante, justamente porque se espera que nesses locais esteja presente a afetividade, a segurança, e predomine o precioso exemplo de conduta digna dos adultos em relação aos mais jovens.

Crianças devem ter diariamente tempo para estudar em um local adequado e brincar, se possível, ao ar livre, correndo, pulando, jogando. Devem ouvir música, aprender a tocar um instrumento, a cantar, a dançar. Devem ir à escola, fazer a lição de casa, ler bons livros, pesquisar, usar da mais moderna tecnologia para se informarem e atualizarem, mas para tudo isso precisam da orientação de um adulto, pois as novas gerações não prescindem da supervisão, da proteção e da experiência dos mais velhos em nenhuma atividade, pois em tudo podem haver excessos prejudiciais. E não apenas à frente do controle remoto ou do mouse…

Por Maria Irene Maluf

 

Maria Irene Maluf é Pedagoga especialista em Educação Especial e Psicopedagogia, editora da revista Psicopedagogia da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), Coordenadora do Núcleo de Aperfeiçoamento Profissional e Estudos Avançados em Dificuldades de Aprendizagem e Psicopedagogia-SP e Coordenadora SP do Curso de Especialização em Neuropedagogia e Psicanálise-Instituto SaberCultura.

E-mail: [email protected]

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