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Guia para Gestores de Escolas

Conversa com o Gestor – Mundo Digital: Ética, Segurança e Cuidado na Navegação

Matéria publicada na edição 118 | Maio 2016 – ver na edição online

A sociedade de informação, construída em nossa realidade, propõe diariamente uma seleção de entretenimento, consumo, conhecimento, ensino e tantas outras facilidades. Desfrutar das muitas oportunidades trazidas pela rápida evolução das tecnologias é imprescindível, porém, verificar as formas de utilização de navegação e a preocupação com a segurança de dados e informações são questões essenciais

Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação

Diariamente, como em um ritual social, somos atravessados por ações que ganharam aspectos inatos e instintivos, de tanto que a praticamos. Logo pela manhã somos despertados para um universo que, em um primeiro momento e em um olhar superficial, nos dá a impressão de espaço ilimitado, fantástico e repleto de realizações e alegrias.

Nesse espaço, os perfis são compartilhados, as buscas realizadas, as transações efetuadas, os estudos iniciados, as mensagens enviadas, as fotos publicadas, os vídeos assistidos e, todo esse movimento, acontece em trânsito – nas escolas, universidades, empresas, mobilidades urbanas e espaço domiciliar. E tudo, é claro, com um simples toque no smartphone, tablet ou notebook. Assim, não é difícil concluir que estamos inteiramente conectados às redes wi-fi e aos dados móveis.

A tecnologia possui um poder ímpar de facilitar, mobilizar e entreter a todos. Compreendendo, então, os avanços tecnológicos e a inserção precoce na vida social de crianças e adolescentes, a temática tecnológica nunca esteve tão em voga como agora – em nossa atual sociedade da informação digital. Olhar criteriosamente para estes avanços significa decodificar mecanismos que podem ser incorporados ou excluídos em rotinas pedagógicas ou de gestão administrativa em uma instituição de ensino.

A empresa norte-americana de pesquisa de mercado e consultoria Penn Schoen Berland, realizou um estudo encomendado pela Intel revelando expectativas em relação a inovações e recursos tecnológicos no âmbito educacional. Apurada entre julho e agosto de 2013, a pesquisa revelou alguns dados interessantes, como: 77% dos brasileiros acreditam que as escolas e os professores deveriam se apoiar mais na tecnologia para melhorar o sistema educacional; e 65% dos entrevistados acreditam que a tecnologia pode estreitar a relação entre professor e aluno.

Edmilson Paoletti, gerente de desenvolvimento de negócios para educação da Intel, comentou, em comunicado oficial, que havia “confirmado na primeira etapa da pesquisa que o brasileiro tem um perfil bastante otimista em relação à tecnologia. Essa atitude é positiva quando consideramos sua relação com a educação, pois por meio da tecnologia é possível atualizar as ferramentas disponíveis para ensino nas nossas escolas”.

Dentre as áreas analisadas da pesquisa, o estudo chamado “Classrooms of the Future”, dedicado à aplicação da tecnologia na educação, mostra que a grande maioria dos brasileiros (81%) acredita que o uso de tecnologia nas escolas é inevitável e que o país deve investir em um suporte tecnológico para a pedagogia. “Desenvolver tecnologias aplicadas à educação significa investir em uma próxima geração que será mais empreendedora e pautará a inovação dentro da nossa sociedade, desde a escola”, ressalta Edmilson.

FLUXOGRAMA

EDUCAÇÃO & TECNOLOGIA

Aliada ao uso crescente e constante de mídias e redes digitais, a tecnologia demonstra alternativa pedagógica para estabelecer uma aproximação desses alunos que, diferentemente do ensino tradicional, priorizam uma relação intensa com a internet e suas diversidades. O uso da internet em sala de aula, por exemplo, atravessa a questão tecnológica e envolve outros aspectos da vida escolar e, consequentemente, a vida pessoal do aluno e sua característica social.

“O uso da tecnologia está no DNA do colégio, que foi fundado por engenheiros e médicos que quiseram criar um curso de excelência e de ponta, com acesso a tudo que tinha de melhor”, diz Cristiana Mattos de Assumpção, coordenadora de tecnologia educacional do Colégio Bandeirantes, situado na região sul de São Paulo. O colégio não só adota a tecnologia como a incorpora de forma significativa no processo de ensino-aprendizagem. “Acreditamos sim no poder de potencializar a aprendizagem com as oportunidades que uma presença ubíqua que a tecnologia traz. A tecnologia tem que vir de mãos dadas com práticas pedagógicas diferenciadas e atuais”.

Compreendendo a internet como uma ferramenta que possui diversos recursos, verificamos a necessidade em discutir e aprimorar não só a inclusão tecnológica nas escolas, mas a influência que esse novo meio de comunicação implica no desenvolvimento estudantil. A internet, assim como disponibiliza uma série de encantamentos e diversões, possui, infelizmente, diversos riscos à segurança.

O Colégio Bandeirantes oferece, há mais de 8 anos, palestras e cartilhas para professores e pais com o intuito de promover a conscientização sobre a segurança em tecnologias digitais e os incidentes que a má utilização podem acarretar. Para os alunos, há um curso disponível com uma parceira do colégio, advogada especializada em direito digital, para refletir sobre práticas na internet e discutir sua utilização.

“Hoje os valores necessários para estas boas práticas fazem parte de um projeto maior ainda, onde os alunos estão aprendendo a fazer círculos de diálogos e trabalhando valores e princípios que são necessários para a vida digital e real”, destaca Cristiana. E, além desse projeto, existem orientações específicas pela equipe de tecnologia educacional, que acompanha de perto o uso dos iPads – material didático utilizado no Ensino Fundamental. “As boas práticas são sempre trabalhadas na sala de aula”.

Integrar a tecnologia ao campo educacional, bem como instigar a segurança no acesso à internet é um fator crucial em nossa realidade virtual. Estabelecer um diálogo entre alunos, pais e gestores educacionais é uma das formas para erradicar ao máximo crimes nas redes sociais, como racismo, cyberbullying e pornografia infantil, por exemplo, que se multiplicam de maneira assustadora. Além da orientação, alguns mecanismos estratégicos começam a aparecer como forma de segurança eficiente e destinada a diversos segmentos específicos, como aspecto jurídico e responsabilidade social digital.

DIREITO DIGITAL

Patricia Peck, advogada especialista em Direito Digital, explica que, de forma resumida, o Direito Digital pode ser definido como a evolução do próprio Direito em um contexto social de economia, negócios e relações cada vez mais digitais. Portanto, ele abrange todos os princípios fundamentais e tradicionais do direito, mas que estão aplicados com uma visão que os renova, amplia ou ainda recria, levando em consideração que na sociedade atual os ativos de valor passaram a ser intangíveis.

“O Direito Digital é um direito muito mais costumeiro, baseado em valores éticos e melhores práticas que possam ir além dos limites dos países, já que a internet é global, acontece em tempo real, portanto é mais dinâmico e exige respostas mais rápidas, além de uma Justiça mais preparada e mais técnica”, afirma Patricia.

Devido a velocidade e o dinamismo que os fatos e movimentos ocorrem na atual sociedade de informação digital, a educação digital e a segurança da informação são dois fatores cruciais tornando-se medidas essenciais para evitar danos e prevenir condutas ilícitas e combater o crime digital.

“Sem isso é muito difícil alcançar um padrão de Sociedade Digital livre, onde as crianças possam brincar na internet, onde possa haver convivência social digital com segurança coletiva e garantindo a liberdade e a privacidade dos indivíduos. Isso depende muito mais de educação (que ajuda a focar no uso positivo e evitar danos colaterais que vêm com os abusos), do que de punição (que é depois que já aconteceu o mal)”, ressalta Patricia.

De acordo com a especialista, há dois tipos de crimes digitais: os que são oriundos de crimes tradicionais mas apenas o meio de ocorrência migrou para o a Internet ou outros canais eletrônicos (como ocorre com a difamação, o racismo, por exemplo), e os crimes digitais novos, surgidos de novos comportamentos devido ao uso das tecnologias informáticas e telemáticas (como ocorre com o crime de invasão de dispositivo, trazido com a Lei de Crimes Eletrônicos 12.737/2012, chamada de Lei Carolina Dieckmann, que atualizou o artigo 154-A do Código Penal).

No Brasil, “tanto houve atualização de algumas leis para trazer um novo rol de crimes eletrônicos, como ocorreu com o Estatuto da Criança e do Adolescente, com o ajuste do tipo do artigo 241, para trazer as situações de crime de pornografia infantil quando há armazenagem de conteúdo deste tipo (o que antes não era previsto e dificultava a punição desta conduta). Por último, a nova lei de Combate ao Bullying 13.185/2015 que trouxe o conceito do que é cyberbullying, o que apoia a aplicação dos crimes contra a honra do Código Penal, além do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente”, completa a advogada.

Em caso de incidente digital, existem maneiras adequadas de agir, como preservar a prova e logo em seguida notificar quem de direito possa ajudar a conter o incidente, que significa diminuir suas consequências. O primeiro passo caso ocorra algum incidente na escola é o registro da ocorrência e, logo após, o aviso documentado para o responsável legal cadastrado (mesmo realizando o contato por telefone, é importante documentar por torpedo, e-mail, no prontuário do aluno, via portal escolar). Dependendo da gravidade, se houver risco para o menor, a lei prevê o dever da escola também informar o Conselho Tutelar.

“O que a Escola deve sempre evitar é a situação de omissão, quer seja no sentido educativo-preventivo ou no sentido da contenção do incidente, no momento da ocorrência, em que age para proteção do menor, no limite do que está a seu alcance e informar imediatamente ao responsável legal que deve, a partir da ciência, dar andamento nas medidas, pois o dever de agir é da família”, completa Patricia.

FLUXOGRAMA

ESCOLA DIGITAL SEGURA

Atentas às necessidades de acompanhar as intensas mudanças da nova Sociedade Digital e visando melhorar a governança escolar no que diz respeito ao uso dos recursos tecnológicos, dentro e fora da sala de aula, diversas instituições de ensino nacionais já aderiram à certificação “Escola Digital Segura” – que integra o Instituto iStart, criado em 2010 pela advogada Patricia Peck, com o intuito de disseminar a educação em Ética e Segurança Digital para as famílias brasileiras.

Composto de quatro níveis (Tecnológico, Normativo, Pedagógico e Social), o selo exclusivo e inédito existe há mais de quatro anos e se consagrou como importante diferencial para colégios interessados em garantir que a tecnologia seja aliada no processo educacional, e comprometidos com a construção um Brasil Digital sustentável através da Educação Digital.

O Colégio Dante Alighieri recebeu, em 2014, o selo “Escola Digital Segura” pelo iStart após um minucioso relatório comprobatório identificando os processos que fortalecem ou fragilizam a escola no tema digital. A escola possui diferentes ações no contexto de prevenção e conscientização sobre a segurança em tecnologias digitais, considerando o corpo de funcionários, pais e alunos. “No âmbito pedagógico, o Departamento de Orientação Educacional, juntamente com a Tecnologia Educacional tem um papel preponderante nestas ações. Entendemos que a família deve ser parceira e emanar juntamente com a escola, bons exemplos de utilização dos recursos digitais. Algumas de nossas ações: aulas, vídeos, palestras, campanhas, rodas de conversa, atendimento individualizado, sempre tendo o diálogo como premissa”, diz Valdenice Minatel Melo de Cerqueira, coordenadora-geral de tecnologia do Colégio Dante.

Segundo Valdenice, o conhecimento sobre ética e segurança na internet possibilita que os alunos e também os adultos construam um processo autorregulado de uso dos recursos digitais e, ao mesmo, tempo traz qualidade individual de vida digital impactando, por assim dizer, no coletivo.

A segurança no mundo virtual torna-se cada vez mais presente (e necessário) em palestras, debates, orientações, cartilhas e discussões. O tema, tão em voga em nossa atualidade, mostra que existem diversos desafios na relação entre usuário e internet, assim como os meios digitais impactam, de maneira significativa, as relações interpessoais e sociais. “Vamos começar a educar hoje! E colocar em prática imediatamente a lição que aprendermos. O futuro de toda esta geração digital depende disso, depende de nós, tanto como pais como educadores e gestores”, finaliza Patricia Peck.

Saiba mais:

Cristiana Mattos de Assumpção – [email protected]
Patricia Peck Pinheiro – [email protected]
Valdenice Minatel Melo de Cerqueira – [email protected]
Pesquisa Penn Schoen Berland – http://goo.gl/muHjUU (inglês)

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