Conversa com o Gestor – Educação em Transformação: Metodologia Híbrida e as Contribuições Tecnológicas ao Ensino Tradicional
Por Rafael Pinheiro / Fotos Vanessa Cunha-Divulgação
Vivemos, hoje, um circuito emaranhado de informação. Os tablets, computadores e smartphones conectam e diminuem distâncias, disponibilizam ferramentas e aplicativos (que variam do bem-estar até finanças bancárias), promovem entretenimento, diálogo, acesso à informação (seja ela de jornais/revistas locais como meios de comunicação espalhados pelo globo), educação a distância, educação através de vídeos, educação de diversas e amplas formas. A lista pertencente às funcionalidades digitais é extensa – e cresce a cada dia.
Dentro de um histórico que engloba atributos sociais e culturais, a educação instaura seu olhar à luz da contemporaneidade, questionando múltiplos fatores e sentidos, bem como a utilização de novas metodologias, abordagens e definições. Em um panorama digital, de experiência e vivência tecnológica, as problematizações que cercam o âmbito educacional e sua possível integração com o campo da linguagem tecnológica, suscitam debates e análises densas.
“O uso das tecnologias em sala de aula é uma tendência no cotidiano escolar, pois o currículo, cada vez mais, necessita dialogar com a cultura do aluno em suas práticas pedagógicas. Bem sabemos que nossas crianças e jovens possuem o acesso às tecnologias, isso faz parte de seu contexto social e cultural; vale refletirmos o quanto e como essas tecnologias podem contribuir com as novas aprendizagens dos alunos na educação formal”, aponta Lilian Cristina Gramorelli, Coordenadora Psicopedagógica do Colégio Marista Arquidiocesano, de São Paulo.
Nesse aspecto, visualizamos uma necessidade em aproximar de todos os alunos que adentram as salas de aula cotidianamente, um dado de sua realidade, ou seja, a interação da tecnologia. Dessa forma, o modelo tradicional de ensino-aprendizagem começa a apresentar rachaduras, demonstrando pontos críticos e ineficácia em alguns casos.
Algumas instituições de ensino começaram a utilizar uma metodologia pautada no ensino híbrido – mesclando o modo on-line (geralmente o aluno estuda sozinho através de ferramentas que podem, inclusive, guardar dados individuais dos alunos sobre características gerais do seu momento de estudo) e o modo off-line (o aluno estuda em grupo, com o professor ou colegas, valorizando a interação e o aprendizado coletivo e colaborativo). “Nesse sentido, o professor é o mediador do conhecimento e, muitas vezes, juntamente com os colegas de sala, contribui para a significação das informações. Com essa abordagem há a possibilidade de o ensino ser mais direcionado às características individuais do aluno”, ressalta Lilian.
Algumas vantagens podem ser encontradas nessa metodologia híbrida. De acordo com a coordenadora psicopedagógica, há maior adequação do ensino às características individuais dos alunos; O aluno se torna mais autor de suas aprendizagens, aprendendo a utilizar as tecnologias para pesquisas e estudos: aprende a selecionar as informações com foco no seu tema; Aulas mais participativas e menos expositivas; Mudança no tempo e espaço da aula mais adequado às características da turma e do aluno; O aluno se sente mais motivado no processo de ensino e aprendizagem, pois as estratégias de aula dialogam com a cultura digital em que ele já está inserido; Equilíbrio entre as aprendizagens pessoal e grupal. A escola prevê os tempos de aprendizagem pessoal e colaborativa.
Quanto à participação do gestor escolar frente ao ensino híbrido, Lilian enfatiza que o gestor e a instituição escolar têm o papel de investir na formação do corpo docente, procurando instrumentalizá-los para essa abordagem pedagógica. “É uma concepção de ensino que está se modificando, menos atrelada aos modelos tradicionais de educação. O espaço físico também necessita ser repensado para que inclua os materiais e ferramentas necessárias a essa abordagem de ensino e aprendizagem. Ressalto que não será suficiente inserir todo o aparato tecnológico no cotidiano escolar se o modo como os professores desenvolvem suas ações didáticas não forem revistos”.
ENSINO TRADICIONAL COM RECURSOS TECNOLÓGICOS
Puff, computador, videogame e televisão. Parece a descrição de um quarto de um adolescente ou de uma sala de estar, mas são os itens do mais novo espaço do Colégio Franciscano Sagrada Família, a sala de ensino híbrido. A ideia do colégio, localizado em Belo Horizonte (MG), é adaptar o ensino aos tempos atuais e aliar a tecnologia ao ensino tradicional, principal proposta do Ensino Híbrido. “A intenção dessa metodologia é aproximar a sala de aula do ambiente ao qual o aluno está familiarizado. É promover a motivação do aluno em aprender de uma maneira diferente. Utilizando uma linguagem que ele domina, a tecnologia”, destaca Ubiratan Nunes, Coordenador Pedagógico da instituição.
O colégio, integrante da Rede Clarissas Franciscanas, oferece uma educação integral baseada nos princípios da ética, da solidariedade e do espírito de família, trabalhando com uma proposta pedagógica contextualizada e comprometida com o saber científico e cultural. Desenvolvendo uma prática pedagógica à luz da Educação Libertadora, que preconiza a discussão dos temas sociais e políticos como forma de atuação para transformar a realidade política social, a instituição disponibiliza aos seus alunos a mescla do ensino online com o ensino presencial – promovendo a autonomia do próprio conhecimento.
“É trabalhar a personalização do ensino e da aprendizagem. Nem todo mundo aprende da mesma forma, por isso é essencial investir em novos métodos de ensino e usar os recursos tecnológicos em prol da educação. De maneira que o aluno compreenda e assimile o tema que está em debate”, diz Ubiratan. De acordo com o coordenador, não há uma forma única de aprender. “A aprendizagem é um processo contínuo. E, por isso, precisamos descentralizar os métodos de ensino e apostar em coisas novas”. Assim, o objetivo da instituição é usar o novo espaço para as aulas interdisciplinares e também oficinas de cinema, teatro, meditação, palestras e debates, onde os alunos podem sugerir temas para trabalharem com os professores na Sala de Ensino Híbrido.
O modelo do Ensino Híbrido propõe a mescla de dois modos de aprendizagem, o online e o off-line. No online, é o período em que o aluno estuda sozinho com o auxílio dos recursos tecnológicos. Já no off-line, é o momento em que o estudante desenvolve trabalhos em grupo com os professores e demais colegas da turma, valorizando o aprendizado coletivo e colaborativo. Na Sala de Ensino Híbrido do Colégio Franciscano Sagrada Família serão trabalhos em conjunto os dois métodos de forma complementar e simultânea, desenvolvendo e estimulando o pensamento crítico dos alunos.
Uma das primeiras atividades desenvolvidas com os estudantes foi a aula de criação, para escolher o nome da sala de estudos híbridos. Hoje, o espaço é conhecido no colégio como “Sala Verde”, uma referência a decoração do local. Após participarem da aula, os estudantes ainda estão definindo o nome do novo espaço de estudos.
ALFABETIZAÇÃO CONECTADA
O PALMA (Programa de Alfabetização na Língua Materna), aplicativo gratuito que combina letras, imagens e áudios em atividades autoinstrucionais, tem por objetivo desenvolver, por meio digital, habilidades de leitura, escrita e compreensão de pequenos textos, tanto em crianças, quanto em adultos em processo de aprendizagem do ler e do escrever.
Em Itatiba (SP), uma das cidades onde o projeto piloto do aplicativo foi testado no Ensino Fundamental I e nas turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), os professores da rede constataram uma melhora de 30% no aprendizado e uma redução de 50% na evasão em um ano de uso da ferramenta. “A motivação dos alunos é notada pela satisfação que eles demonstram em utilizar uma tecnologia, de que muitos só tinham ouvido falar que era algo de que os adolescentes e jovens gostam. Houve aumento de motivação também entre os discentes em relação à aprendizagem”, argumenta Fatima Polesi Lukjanenko, secretária municipal de Educação de Itatiba.
O Palma foi idealizado pelo matemático José Luís Poli, cofundador da Instituição de Ensino Superior Anhanguera Educacional, em parceria com acadêmicos na área de educação, analistas de sistemas e designers digitais. Segundo Poli, o programa tem como princípio estruturante os estudos na neurociência acerca do funcionamento da leitura, por meio de atividades de compreensão dos sons da fala. “O Palma não é uma metodologia de ensino e não substitui o método de alfabetização adotado pelas escolas. Ele complementa o aprendizado ao oferecer práticas pedagógicas que exploram as possibilidades e facilidades da tecnologia”, explica o matemático.
O professor justifica que a melhora no desempenho dos estudantes com o uso do Palma é atingida pela interação do aluno – seja adulto ou criança – com o mundo da tecnologia. “As crianças ‘nascem sabendo’ mexer em telas in touch e dificilmente um jovem adulto de hoje não tem um celular ou tablet. Essa inovação aproxima o aluno dos estudos e o aluno da escola”, argumenta.
O aplicativo está estruturado em cinco níveis que vão desde a apresentação da grafia e som das letras do alfabeto até a compreensão de frases e pequenos textos. Cada nível está organizado em módulos de conteúdos que possuem atividades de aprendizagem e de fixação de conteúdo. Todas essas atividades possuem comandos que orientam o aluno no que deve ser realizado. Além disso, há atividades de caligrafia e jogos para integrar os conteúdos e, ao final, uma avaliação de nível. Ao término das atividades o aluno recebe uma nota que fica guardada na área administrativa do aplicativo, onde o professor pode acompanhar o desempenho do aluno.
Saiba mais:
Colégio Franciscano Sagrada Família – [email protected]
Colégio Marista Arquidiocesano – [email protected]