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Guia para Gestores de Escolas

Apoiar o professor na busca por disciplina e respeito em sala de aula: um desafio cada vez maior na gestão escolar

Por Roberta e Taís Bento

Ser gestor escolar é viver diariamente em meio a demandas intermináveis: o chamado dos professores por apoio, as expectativas das famílias por respostas a todos os desafios na educação dos filhos, a urgência dos alunos e a pressão dos resultados. Não existe manual que dê conta dessa complexidade, mas existem caminhos possíveis.

Recentemente pudemos ouvir de perto uma pesquisadora e escritora responsável por oferecer mentoria a líderes das mais bem sucedidas instituições ao redor do mundo: Brené Brown. Em seu recém-lançado livro, Brené chama o alicerce que vai apoiar a caminhada do gestor de “strong ground”: um chão forte, construído sobre valores claros, confiança e coragem. É nesse chão que a gestão pode se mover com firmeza, em vez de se apoiar em “músculos compensatórios” — improvisos, sobrecargas e protocolos inconsistentes que, cedo ou tarde, geram desconfiança, conflitos e exaustão.

Em nossos encontros frequentes com professores, ouvimos pedidos que revelam exatamente essa necessidade de chão. Em outras palavras, os professores não anseiam por soluções mágicas, mas carecem da segurança que só a consistência pode garantir. Pedem que a equipe de gestão escolar esteja presente não para apagar incêndios, mas para sustentar um cotidiano mais leve.

É nesse ponto que a vulnerabilidade se mostra como coragem. Ao invés de tentar esconder a dificuldade, o gestor que se coloca presente — mesmo sem todas as respostas — transmite segurança. Como no caso apresentado no episódio 17 do nosso podcast “SOS Gestor Escolar”. Quando uma professora foi injustamente acusada, não foi a ausência de conflito que definiu a força da escola, mas a forma como a liderança respondeu, com escuta ativa, investigação justa e comunicação transparente.

Precisamos cuidar, contudo, para que coragem não se confunda com heroísmo solitário. Ainda na presença marcante que teve no Festival de Inovação, ao qual estivemos presentes em Nova York, Brené Brown lembrou que toda transformação verdadeira é paradoxal: exige quebrar o que não funciona, sem medo, ao mesmo tempo em que se protege aquilo que serve e sustenta. No caso da educação formal, especialmente falando da escola, esse é um ponto de suma importância. Embora estejamos vivendo um período em que todos concordamos que a escola precisa mudar. Precisamos, porém, ter a consciência e o cuidado de proteger, manter e fazer melhor os valores e o propósito que dão sentido ao trabalho do profissional da educação e ao papel da escola.

Sem um compromisso sério com a formação de nossas crianças para que possam enfrentar os reais desafios que as aguardam, passamos a chamar de transformação o que, muitas vezes, é apenas mudança incremental — e isso mina a confiança. E, para tornar nosso trabalho ainda mais desafiador, isso também afasta aqueles com que precisamos formar parcerias que possam garantir força, energia e sabedoria para educar a geração nascida na era digital: famílias e professores.

A saída para tantos dilemas existe. E cabe a nós agir para seguir adiante sem que essa jornada seja tão desgastante para todos os envolvidos. Na prática, um exemplo de ação simples, embora nada fácil, é: o gestor precisa nomear com clareza o que deve ser abandonado. Ao mesmo tempo, precisamos definir o que precisa ser atualizado. E nomear quais valores serão operacionalizados em práticas observáveis no dia a dia da escola e da educação que nos propomos a oferecer.

Na escola, isso significa repensar rituais, alinhar a comunicação com os professores e com as famílias, simplificar registros pedagógicos, deixar explícito quem atende cada situação. São mudanças pequenas, consistentes, mas que evitam o risco de “construir disfunção”. É o equivalente pedagógico a fortalecer o eixo central de qualquer outra instituição. E vai exigir treino diário, prática e ajustes constantes, sem atalhos.

Por isso, liderança escolar é sempre poesia e estrutura. Poesia porque precisa inspirar — criar visões que façam professores, alunos e famílias acreditarem que vale a pena caminhar juntos. Estrutura porque precisa entregar sistemas, protocolos e rotinas que sustentem essa visão. Só a inspiração adoece. Só estrutura engessa. Juntos, formam o chão firme e encantador no qual a escola se apoia.

E talvez seja esse o maior chamado para o gestor: aparecer inteiro, sem medo de colocar toda a sua história como sua força e os valores da escola como norte. Estar no corredor, nos comunicados, nas reuniões difíceis com famílias, na devolutiva para professores, no cafezinho com os colaboradores. Mostrar que liderança pressupõe coragem de ser claro, consistente e humano. Quando o professor percebe que não está sozinho, quando há coerência entre discurso e prática, nasce o bem mais valioso que uma escola pode oferecer: relações de confiança. E confiança é o solo onde toda aprendizagem floresce.

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