ChatGPT – Herói ou Vilão?
Colunas e Opiniões
Há seis meses, a OpenAI, empresa que desenvolveu o ChatGPT, disponibilizou sua plataforma aos usuários na versão 3.5. Em menos de dois meses, já tinha mais de 100 milhões de usuários, um terço do tempo que o TikTok levou para atingir o mesmo número. Isso abriu caminho para que o mundo descobrisse, por meio deles e de outras plataformas de IA (inteligência artificial generativas), o poder desta tecnologia.
No entanto, o ChatGPT ainda possui limitações severas devido à forma como aprende e constrói respostas, uma vez que carrega conhecimento limitado de eventos após 2021. Suas respostas podem estar erradas e serem tóxicas ou tendenciosas em algumas vezes. Além disso, esta tecnologia tem isenções de responsabilidade explícitas sobre a imprecisão dos dados. Porém, por apresentar uma linguagem natural, produz uma falsa sensação de segurança aos usuários. Isso porque os sistemas de linguagem das plataformas de IA não sabem o que as palavras significam, mas apresentam uma linguagem coerente, educada e que transparece, muitas vezes, que você está conversando com um especialista no assunto. E este é o ponto: eles foram treinados para parecerem um especialista, não para serem um especialista.
Em março, a OpenAI lançou sua nova versão e o GPT-4 chegou levantando todo o debate novamente e abrindo uma maior vantagem em relação aos concorrentes. A Microsoft anunciou o Copilot, um assistente de criação de tarefas que será acoplado ao Word, Excel e PowerPoint. Em outras palavras, o ChatGPT estará dentro do Office. No PowerPoint, há a possibilidade de criar apresentações a partir de textos simples, podendo usar imagens e designs exclusivos, ou mesmo contando uma história e em poucos minutos a apresentação ficará pronta. No Excel, há a função de pedir para o algoritmo simplificar planilhas enormes, encontrando padrões, criando correlações, extraindo dados e criando análises profundas. Já no Word, é possível produzir textos a partir de diversos outros arquivos, compilar documentos a partir de notas e rascunhos, escrever e-mails e memorandos. Tudo isso impressiona, ainda mais porque a OpenAI não revelou como foi realizado o treinamento do GPT-4, provavelmente para não mostrar para a concorrência seus avanços ou mesmo se proteger de processos na justiça sobre direitos autorais.
Atualmente, as escolas particulares no Brasil vivem um paradoxo: algumas estão em busca de treinamentos para seus professores sobre o ChatGPT, para que tenham uma maior assertividade em seu uso e conheçam os impactos desta nova tecnologia na educação, enquanto outras estão proibindo seus professores e alunos de utilizarem. Se por um lado professores de artes estão pedindo para os alunos usarem a Dall-E (IA de imagens) para identificar e “desenhar” quadros no estilo de pintores, como Picasso, Monet e Van Gogh, que estimula bastante a criatividade, do outro lado, existe a discussão sobre problemas de manipulação dos dados que podem gerar desinformações disponibilizadas por estas plataformas de IA. São nestes momentos que o papel do professor se faz ainda mais necessário para direcionar o conhecimento de forma correta.
De maneira geral, devemos acreditar na IA como forma de conhecimento? Até aqui, a resposta é não, a menos que você seja um especialista no assunto. O papel do professor será de orientar os alunos para fazerem boas perguntas avaliativas, solicitar uma resposta melhor e, a partir destas informações, produzir um texto mais assertivo. Talvez esteja surgindo a pedagogia da pergunta e da resposta, que propõe justamente isso: encontrar soluções a partir de perguntas investigativas que estimulem o senso crítico.
A Universidade Stanford (1), nos Estados Unidos, realizou um simpósio com seus professores com a abordagem e impactos da IA na sala de aula e o resultado na formação dos novos profissionais. Para o seminário, foram levantados diversos questionamentos acerca de métodos atuais de ensino, como o ChatGPT irá ditar as habilidades que os alunos precisarão para um futuro de sucesso, como a inteligência artificial mudará a profissão do professor, dentre outros. Claro que, nesse momento, temos mais perguntas do que respostas, mas minha sugestão para os professores é que usem e testem muito as plataformas de IA – e não apenas as mais conhecidas e divulgadas na imprensa. Faça seu conteúdo evoluir junto e seja transparente com seus alunos, pois estamos todos aprendendo juntos essa nova evolução das máquinas. Aproveito o espaço para convidá-los a assistir na Bett Brasil (maior feira de educação da América Latina) um debate que participarei sobre todas estas novas tecnologias. Dia 12/5, às 15h30.