Como integrar os familiares e os responsáveis na rotina e nas atividades da escola?
Por Rafa Ella Pinheiro / Fotos Divulgação
Conversa com o Gestor
Desenvolvimento pessoal e social, incentivo, afeto, segurança física e emocional, experiências e descobertas. A participação dos pais e/ou dos responsáveis na vida escolar dos filhos e das filhas, que pode ser estimulada de variadas formas e intensidades ao longo do ciclo estudantil, é um movimento fundamental que contribui diretamente para a formação integral de estudantes
O bom entrosamento entre família e escola é, de fato, algo positivo e imprescindível para o desenvolvimento integral de cada estudante. Esses dois polos, cada um com as suas particularidades, quando unidos, desenvolvem um trabalho primordial. A instituição escolar, por um lado, abre suas portas diariamente não apenas para o conhecimento, como também para a sociabilidade e para um universo múltiplo que envolve descobertas e vivências que constituem a jornada de experiências de cada aluno e aluna.
O núcleo familiar, por sua vez, é a representação mais poderosa na influência e no desenvolvimento da personalidade e formação de consciência da criança. A base estabelecida no âmbito familiar provoca uma sensação prazerosa às crianças, que encontram um espaço natural para seu desenvolvimento, cultivo de valores humanos, solidificação da responsabilidade e uma segurança inigualável. Consequentemente, a participação familiar influencia diretamente no processo de aprendizagem no cotidiano estudantil.
Estabelecer um vínculo entre pais/responsáveis e a vivência escolar de seus filhos e suas filhas não é tarefa fácil, embora possamos concluir que a relação família-escola, quando harmoniosa, potencializam uma formação com o cultivo de valores humanos, solidificação da responsabilidade e uma segurança inigualável. Para adentrar nesta temática, produzimos um especial com falas de especialistas de diversas áreas da educação comentando sobre como é possível integrar os familiares na rotina educacional de estudantes. Confira!
Maria Carolina Araújo – Diretora de ensino do Anglo Alante
“A participação ativa de pais e responsáveis no cotidiano escolar é um dos pilares para o sucesso acadêmico e o desenvolvimento integral dos alunos. Quando a família acompanha de forma contínua a trajetória educacional dos filhos, há ganhos concretos em aprendizagem, comportamento e engajamento escolar.
Para integrar efetivamente os familiares à rotina escolar, é fundamental estabelecer uma comunicação transparente, acolhedora e contínua. Reuniões pedagógicas, atendimentos individuais, canais digitais e agendas escolares são estratégias que fortalecem essa relação e promovem o acompanhamento próximo da evolução dos estudantes.
Além disso, a escola deve promover momentos de convivência que vão além do informativo, como eventos pedagógicos, ações culturais e projetos colaborativos, nos quais as famílias possam participar ativamente e compreender, na prática, o processo educativo vivido pelos filhos.
Por fim, cabe à escola valorizar a escuta das famílias e reconhecer suas contribuições. Quando escola e família atuam de forma corresponsável, cria-se uma rede de apoio sólida, que amplia as oportunidades de aprendizagem e favorece a formação de sujeitos autônomos, éticos e preparados para o futuro.”
Maria Carolina Araújo – Diretora de ensino do Anglo Alante
Fernanda Sobreira – Pedagoga, palestrante, psicopedagoga e Presidente da Associação Pró Educação Infantil de Minas Gerais
“Quando a escola e a família caminham juntas, a criança cresce com mais segurança, alegria e vontade de aprender. A participação dos pais e responsáveis no dia a dia escolar não precisa ser perfeita nem constante — mas precisa existir, com presença verdadeira, ainda que em pequenos gestos. Para a criança, saber que os adultos do seu mundo estão conectados entre si faz toda a diferença.
Aproximar esses dois universos pode (e deve) ser algo leve, criativo e real. Um convite para contar histórias, uma roda de conversa, uma tarde de brincadeiras, um bilhete na mochila ou até mesmo uma troca rápida de mensagem já ajudam a criar laços. Nenhuma criança cresce sozinha — e isso vale também para a escola: ela precisa da família por perto para ser um espaço completo de cuidado e formação.
A comunicação entre escola e família precisa ir além dos recados. Precisa ter escuta, acolhimento e gentileza. Às vezes, um bom diálogo pode começar com um simples ‘como vocês estão?’. Palavras ditas com respeito aproximam, fortalecem vínculos e mostram que todos estão juntos no que mais importa: o bem-estar da criança.
Cada família tem seu ritmo e seu jeito de participar, e a escola como um espaço coletivo também tem seus limites e desafios. Mas quando existe abertura dos dois lados, o vínculo cresce — e isso reflete diretamente na criança, que se sente segura, valorizada e mais feliz na escola. Educação de verdade se constrói assim: com afeto, parceria e presença.”
Fernanda Sobreira – Pedagoga, palestrante, psicopedagoga e Presidente da Associação Pró Educação Infantil de Minas Gerais
Juliana Diniz – Diretora de Negócios da Start Anglo Bilingual School
“A participação ativa e engajada dos pais e responsáveis no cotidiano estudantil dos seus filhos é, sem dúvida, um pilar estratégico para o desenvolvimento integral do aluno. Na Start Anglo Bilingual School, entendemos que essa integração precisa ir além das reuniões tradicionais, estabelecendo uma verdadeira parceria de propósito. Nosso compromisso é com uma educação que equilibra o desenvolvimento cognitivo e socioemocional, preparando nossos estudantes para os desafios acadêmicos e para a vida. Para isso, a família é parte fundamental da construção da nossa cultura escolar, onde toda a comunidade deve viver e praticar essas competências essenciais.
Um exemplo prático e efetivo de como promovemos essa integração e diálogo estruturado é o Start Family Talks, evento idealizado para funcionar como uma verdadeira ‘escola de pais’, reunindo as famílias e os educadores em torno de temas do cotidiano que vão além do desempenho acadêmico e são essenciais para o desenvolvimento tanto dos alunos quanto dos responsáveis, como desenvolvimento socioemocional, disciplina, o papel da educação na prevenção ao bullying e formação do cidadão global. Nestes encontros, convidamos especialistas que fornecem conteúdos e ferramentas concretas para direcionar e inspirar os participantes. Isso fortalece a continuidade do aprendizado e das práticas escolares no ambiente familiar.
Para tangibilizar ainda mais essa participação, buscamos integrar a família em diversos pontos do cotidiano, desde eventos de boas-vindas no início do ano letivo, que são importantes para estreitar laços, passando por celebrações escolares com a família onde o contato é mais informal e próximo. Abrimos canais para feedback dos familiares para entender suas expectativas e coletar comentários. Além disso, incentivamos a participação em reuniões de pais bem planejadas e mantemos uma comunicação constante e transparente.
Acreditamos e prezamos por uma parceria que vai além de eventos pontuais, construindo um vínculo forte e duradouro, elevando a autoestima e confiança dos alunos e fomentando uma cultura de empatia e respeito que permeia todo o processo educacional. O envolvimento ativo dos familiares, que percebem a evolução do filho e que se envolvem na vida escolar, impulsiona o desenvolvimento integral e prepara nossos estudantes para se tornarem protagonistas de suas jornadas, capazes de entender emoções, se relacionar de forma saudável e tomar decisões responsáveis.”
Juliana Diniz – Diretora de Negócios da Start Anglo Bilingual School
Marcel Raminielli Costa – Professor e CEO da IntegralMind
“A participação ativa dos pais na vida escolar dos filhos é, de fato, essencial — mas, antes de tudo, precisa ser possível. E essa possibilidade começa com uma observação da realidade. Muitos pais, especialmente nas grandes cidades, enfrentam uma realidade dura: trabalham o dia inteiro, passam horas no trânsito, acumulam responsabilidades — e, quando percebem, já se foram dias, às vezes semanas, sem conseguirem conversar de verdade com seus filhos. Mesmo quando há boa vontade, muitas vezes falta tempo, energia ou até clareza sobre como se aproximar. E para piorar, vivemos uma época marcada por excesso de estímulos, notificações, agendas lotadas e pouco silêncio. Esse ritmo acelerado — tanto fora quanto dentro de casa — cria um ambiente que pouco favorece qualquer tipo de aproximação verdadeira entre pessoas. E é claro que isso também afeta (e muito) o vínculo entre pais e filhos.
O resultado disso é que muitos pais, mesmo querendo estar presentes, não conseguem. Ou tentam e são recebidos com distanciamento, silêncio ou irritação. E a dor de ser rejeitado por alguém que se ama pode ser paralisante. A boa notícia é que essa aproximação não precisa ser difícil — nem invasiva, nem pesada. Na verdade, ela pode ser simples, respeitosa e, principalmente, transformadora. Na prática, o primeiro passo não está em chamar os pais para ‘participarem da escola’, mas, antes de mais nada, em entender como está o aluno. Na IntegralMind, começamos esse processo a partir de um diagnóstico inicial do aluno: entendemos onde ele está emocional e academicamente, o que está sentindo, o que o preocupa, o que o motiva. A partir desse ponto, nossa equipe (formada por professores especialistas, psicólogos, terapeutas e coordenadores) constrói com ele um espaço de confiança e escuta. E é dentro desse espaço que nasce uma abertura real para que a aproximação dos pais seja possível, natural e bem-vinda.
Mas aqui vai uma verdade que a gente precisa ter coragem de encarar, e digo isso com o máximo cuidado: não dá para fazer parte da vida escolar de um filho se não se está presente na vida dele como um todo. A escola é só uma das janelas que mostram como o jovem está por dentro. E muitas vezes, sem perceber, os pais vão sendo afastados da vida dos filhos, não por falta de amor, mas por falta de presença real. O trabalho da Engenharia Educacional é justamente esse: criar pontes. Pontes entre o aluno e seu aprendizado, entre ele e sua família, entre ele e seus próprios sentimentos. Uma vez que esse espaço está aberto e o vínculo com os profissionais é sólido, os pais passam a ser naturalmente convidados a entrar. Mesmo sem saber como agir no início, com escuta, carinho e orientação, eles vão encontrando formas de se aproximar. E é aí que o ciclo muda.
Porque quando essa ponte se estabelece, tudo muda. O aluno deixa de se sentir sozinho e passa a caminhar com apoio. Os pais deixam de se sentir de fora e passam a fazer parte — de verdade. E o que antes era tensão, vira confiança. O que era silêncio, vira conversa. E o que parecia uma distância impossível, vira um reencontro. Esse é o coração do que fazemos aqui. E por mais que pareça desafiador, nunca é tarde para começar. Porque no fim das contas, todo filho quer ser visto. Todo pai quer participar. E toda família, quando encontra um caminho possível, floresce.”
Marcel Raminielli Costa – Professor e CEO da IntegralMind
Sonia Maria Kaba Pardo – Diretora Escolar do Colégio Mão Amiga
“A participação ativa das famílias na vida escolar dos estudantes é um dos pilares do Colégio Mão Amiga, escola filantrópica localizada em Itapecerica da Serra (SP), que há quase duas décadas atua na promoção de uma educação acadêmica e humana de qualidade para romper o ciclo da pobreza em contextos de alta vulnerabilidade social. No Mão Amiga, acreditamos que educar é um projeto coletivo. Por isso, nossas ações são estrategicamente planejadas para integrar as famílias ao cotidiano escolar, desde um processo de matrícula acolhedor até atividades que promovem diálogo contínuo entre escola e comunidade.
Durante o ano letivo, realizamos diversas iniciativas que fortalecem essa parceria, como reuniões periódicas entre pais, professores e equipe gestora, além de eventos como a Feira Literária, Feira de Ciências e a tradicional Festa Junina, momentos que envolvem toda a comunidade escolar. Para aprofundar ainda mais essa relação, a escola conta com o Departamento de Desenvolvimento das Famílias, que estrutura e coordena uma série de projetos de aproximação com os responsáveis, tal como o projeto Escola de Formação de Pais, que promove encontros formativos com temas como inteligência emocional, comunicação positiva e o papel da família na formação integral das crianças e adolescentes; o Conectando Saberes, para ampliar o alcance da formação por meio de encontros online, facilitando o acesso às famílias que não conseguem comparecer presencialmente e o Famílias Atípicas, por meio do qual oferecemos acolhimento e apoio para famílias com filhos com deficiência ou diagnósticos atípicos, promovendo escuta, formação e práticas inclusivas.
O Colégio também conta com o Conselho de Pais e Educadores, um espaço permanente de escuta, diálogo e construção coletiva de ações alinhadas às realidades das famílias e ao projeto educativo da escola. Já nas ações ligadas ao nosso espaço, temos o Voluntariado Semanal, para envolver os pais em atividades práticas dentro da escola, como jardinagem, horta e apoio em oficinas, despertando protagonismo e corresponsabilidade. Realizamos também, quatro vezes ao ano, o Mutirão da Comunidade Escolar o qual reúne pais, alunos e equipe para melhorias no espaço físico e fortalecimento do senso de pertencimento e cooperação.
O envolvimento familiar nas atividades da nossa escola tem se fortalecido ano após ano. Observamos, na prática, que quando as famílias participam ativamente do ambiente escolar, os alunos se tornam mais confiantes, motivados e conscientes do seu papel na comunidade. Ao integrar as famílias à rotina da escola, o Colégio Mão Amiga transforma o espaço educativo em um ambiente vivo, afetivo e colaborativo. Mais do que ensinar conteúdos, queremos construir vínculos, formar cidadãos e, juntos, abrir caminhos para um futuro mais justo e esperançoso.”
Sonia Maria Kaba Pardo – Diretora Escolar do Colégio Mão Amiga
Maria Carolina Alves – Diretora Geral da Rede Alfa CEM Bilíngue
“A participação das famílias deverá ocorrer desde o seu início de contato com o Colégio; e esse início acontece nas primeiras visitas às instalações, na retirada de dúvidas acerca do Sistema de Ensino e Metodologia de Ensino, quando falamos da Filosofia Pedagógica e, até mesmo, no momento das informações financeiras.
Essa clareza de informações inicia a consolidação de uma parceria de sucesso. Afinal, quanto mais informações fidedignas e verdadeiras o responsável tem, mais confiante e seguro ele estará nos demais processos. Para além de todo o processo administrativo e de recepção, com os responsáveis fazendo parte da grande família, o objetivo agora é a integração deles no âmbito educacional e, para isso, a comunicação colégio-família é de suma importância, pois a comunicação clara aproxima a família ao dia a dia e de tudo que ocorre na rotina pedagógica do seu filho.
Estando integrado à todas as informações, tendo clareza de datas e eventos; a participação nas ações didático-pedagógica flui com mais tranquilidade, pois as famílias conseguem entender a sua atuação ante o processo ensino-aprendizagem do aluno. E, nesse momento, temos subsídio para os atendimentos e orientações individualizadas, focando na família e no aluno e em todas as suas necessidades, pois o acompanhamento do aprendizado é sempre individualizado.”
Maria Carolina Alves – Diretora Geral da Rede Alfa CEM Bilíngue
Christina Sabadell – Head das Escolas Premium do Grupo SEB (Pueri Domus, Carolina Patrício e Sphere International School)
“No Pueri Domus, a participação das famílias faz parte da estrutura do aprendizado bilíngue. Por isso, criamos canais e ações que aproximam pais e responsáveis do cotidiano escolar de forma clara e contínua. Realizamos reuniões frequentes com feedback detalhado e entregamos relatórios personalizados que contemplam tanto o desempenho acadêmico quanto o desenvolvimento socioemocional.
Além disso, mantemos comunicação ativa por meio de plataformas digitais, para que dúvidas e orientações sejam respondidas rapidamente, alinhando o trabalho entre casa e escola. Também oferecemos palestras e workshops com temas relevantes, como técnicas para estimular o bilinguismo e orientações para o uso equilibrado da tecnologia.
Contamos ainda com comitês de pais dedicados a temas como alimentação e convivência escolar, que promovem trocas construtivas e contribuições diretas para o dia a dia da escola. Essas iniciativas ajudam os familiares a apoiar o desenvolvimento dos estudantes. Eventos como o Family Day reúnem famílias e alunos em atividades que vão além da sala de aula, criando oportunidades para fortalecer vínculos e o envolvimento coletivo.
Projetos como a FEITEK e o Estação Cultura conectam as famílias ao universo científico e tecnológico, tornando a participação delas mais concreta. Assim, construímos uma comunidade educativa comprometida com o desenvolvimento de cada criança e adolescente.”
Christina Sabadell – Head das Escolas Premium do Grupo SEB (Pueri Domus, Carolina Patrício e Sphere International School)
Maria Lucia Voto – Gerente de conteúdos educacionais do Instituto Ayrton Senna
“Realmente o envolvimento dos pais/responsáveis na vida escolar dos seus filhos traz resultados positivos e que são observados, inclusive, em contextos econômicos ou sociais mais vulneráveis. E esses resultados são observados tanto no envolvimento e acompanhamento da vida escolar, como incentivo em relação ao sucesso acadêmico e nas atitudes que fortalecem o desenvolvimento socioemocional desses estudantes. E para promover esse envolvimento, existem algumas ações que, baseadas em pesquisas e estudos, foram diretamente associadas à motivação para aprender dos estudantes, como: participar de espaços de discussão com professores; participar das atividades escolares no espaço escolar; acompanhar as notas e faltas com foco no aprendizado gerado; apoiar e participar efetivamente de atividades a serem realizadas em casa e em outros espaços; valorizar o esforço e os resultados; encorajar a busca por resolverem problemas, persistirem perante as dificuldades e a lidarem com suas emoções; entre outras.
Tais ações têm resultados relevantes no desempenho acadêmico e na promoção e fortalecimento socioemocional, observados através de maior engajamento dos estudantes nas atividades escolares, na análise e organização de seus aprendizados e na curiosidade do que está por vir, no entendimento de seus interesses e na proposição de metas, na forma como entendem e lidam com sentimentos e emoções ao persistirem em momentos de dificuldades e na crença em si próprio.
E também têm resultados observáveis nas atitudes continuadas dos pais/responsáveis, já que essas ações tendem a fazer com que eles encorajem mais seus filhos, estabeleçam limites e se enxerguem como um importante apoio para que lidem melhor com os desafios do dia a dia.
Vale destacar que muitas dessas ações não requerem a presença física dos pais/responsáveis na escola para gerarem impactos positivos na motivação para aprender dos estudantes. Algumas atitudes por si só, que demonstram a valorização do esforço e do sucesso acadêmico, mesmo que dentro do espaço doméstico, traduz-se às crianças e jovens como uma demonstração da importância que os pais/responsáveis dão a eles e à educação como ferramenta de transformação e oportunidades.”
Maria Lucia Voto – Gerente de conteúdos educacionais do Instituto Ayrton Senna
Milena Kendrick Fiuza Villani – Diretora Pedagógica do Sistema Positivo
“O desafio de promover uma educação de qualidade vai além de assegurar bons resultados acadêmicos. Implica criar uma cultura escolar colaborativa, na qual a família é reconhecida como parceira ativa no processo de aprendizagem. Em um contexto cada vez mais complexo e plural, integrar a família à rotina escolar deixou de ser um ideal abstrato para se tornar uma necessidade estratégica. Mais do que acompanhar notas ou comparecer a reuniões, integrar a família à rotina escolar significa criar uma rede de apoio que favorece o desenvolvimento acadêmico, emocional e social dos alunos. Essa integração precisa ser construída com intencionalidade, comunicação eficiente e abertura das instituições de ensino.
Estudos indicam que alunos cujas famílias estão presentes em sua trajetória escolar apresentam melhor desempenho acadêmico, menos problemas disciplinares e maior autoestima. Além disso, sentem-se mais comprometidos com os estudos e valorizam mais a educação como um todo. O primeiro passo para integrar a família é repensar o papel da escola como instituição acolhedora. Isso exige da gestão uma postura proativa, criando canais acessíveis, fortalecendo vínculos e desenvolvendo ações que considerem as realidades diversas das famílias.
Na prática, é fundamental uma comunicação contínua e transparente. Boletins informativos, agendas digitais, grupos de mensagens e reuniões presenciais são recursos importantes. No entanto, mais do que informar, é preciso dialogar. Abrir as portas da escola para que as famílias participem de feiras, apresentações culturais, oficinas ou rodas de conversa é uma forma eficaz de envolvê-las no cotidiano. Isso reforça o sentimento de pertencimento e mostra aos alunos que seus responsáveis valorizam a educação.
A família pode e deve ajudar a organizar a rotina do estudante, criando horários regulares para estudo, descanso e lazer. Estabelecer esse equilíbrio, com o apoio da escola, contribui para a formação de hábitos saudáveis e melhora o rendimento escolar. Importante a instituição estar atenta que cada núcleo familiar tem sua dinâmica, cultura e estrutura. É fundamental que a escola respeite essas diferenças e promova uma integração inclusiva, sem julgamentos ou padronizações. Reconhecer a singularidade de cada família fortalece os laços e amplia a participação.”
Milena Kendrick Fiuza Villani – Diretora Pedagógica do Sistema Positivo
Júlio Furtado – Pedagogo, psicopedagogo, escritor, orientador educacional e doutor em Ciências da Educação
“Diversas pesquisas já comprovaram que o envolvimento da família no cotidiano escolar da criança tem impacto positivo na aprendizagem. O próprio SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) tem demonstrado que nas escolas onde há parceria com os pais e envolvimento das famílias na dinâmica escolar, o aprendizado dos alunos é melhor.
Embora pareça óbvio, esse processo não flui tão facilmente no dia a dia. Um estudo do Observatório do Universo Escolar, em parceira com o Ministério da Educação, evidenciou que, segundo professores brasileiros, só 13% das escolas têm um relacionamento próximo com as famílias. 43,7 % dos pais de alunos da rede pública afirmaram que participariam mais da vida escolar do filho se a escola promovesse encontros mais interessantes.
A integração dos familiares na rotina dos estudantes e nas atividades da escola precisa estar em constante movimento de inovação, já que algumas estratégias conhecidas e praticadas há vários anos, como reuniões periódicas de pais, atendimentos individuais agendados e o ‘Dia da família na escola’ tem mostrado sinais de esgotamento. Algumas ações, embora tradicionais, continuam se mostrando efetivas na tarefa de trazer a família para escola como festas juninas e feiras de conhecimento.
Precisamos, porém, investir em ações inovadoras que tem se mostrado eficaz nessa tarefa de, não apenas trazer a família para a escola, mas engajá-la nos processos escolares. Dentre essas ações, podemos citar:
Utilização de aplicativos específicos de comunicação escolar que possibilitam a comunicação direta com professores, coordenação, secretaria, direção, etc., além de viabilizar o acompanhamento da participação dos estudantes nas tarefas escolares;
Realização de workshops interativos entre pais e professores onde todos discutem e refletem juntos sobre estratégias de apoio aos estudos de crianças e adolescentes;
Programas de participação voluntária dos pais em atividades escolares como Feira de Empreendedorismo e Informação Profissional;
Projetos como a Escola de Pais, que promove a discussão sobre questões atuais que afetem o processo de educação familiar e escolar.”
Júlio Furtado – Pedagogo, psicopedagogo, escritor, orientador educacional e doutor em Ciências da Educação
Lais Carvalho – Coordenadora de Desenvolvimento Profissional da Beacon School
“É essencial intensificar o diálogo para esclarecer a importância do projeto e o papel fundamental do apoio familiar quando a família não dá continuidade a projetos de formação iniciados pela escola. Para isso, devemos identificar as barreiras que dificultam o engajamento e oferecer soluções, como a realização de reuniões online ou horários flexíveis. Essas ações podem facilitar a participação dos responsáveis legais. A principal responsabilidade do professor é fornecer informações claras e objetivas sobre o progresso educacional e socioemocional do aluno. Quando necessário, ele pode compartilhar estratégias úteis no ambiente familiar, sempre de forma respeitosa e colaborativa.
Além disso, é fundamental que os alunos desenvolvam sua autonomia, independência e autoconfiança ao realizar tarefas, pois isso não apenas fortalece suas habilidades, mas também otimiza o momento em que o apoio dos pais é necessário. Para estimular ainda mais a participação das famílias em atividades escolares, é ideal que a escola proponha atividades acessíveis e práticas com objetivos bem definidos, comunicando de forma clara e didática os benefícios desse envolvimento.
A parceria entre escola e família é necessária para oferecer aos jovens uma base sólida que os prepare para os desafios futuros e permita o desenvolvimento pleno de seu potencial.
No entanto, a participação deve ser de qualidade, envolvendo ações como acompanhar o processo educativo, participar de reuniões e eventos e promover coerência entre os valores da escola e da família. Essa relação precisa ser construída com colaboração e entendimento mútuo, garantindo que ambos trabalhem juntos em prol do sucesso acadêmico e pessoal dos alunos.”
Lais Carvalho – Coordenadora de Desenvolvimento Profissional da Beacon School
Patrick Quadros – Coordenador Geral no Poliedro Colégio – Unidade Perdizes
“A integração entre famílias e escola precisa acontecer desde o primeiro contato, no ato da matrícula. Mais do que uma etapa burocrática, esse momento marca o início de uma relação que será determinante para o sucesso da trajetória escolar do estudante. É ali que começa a construção de um vínculo de confiança mútua, essencial para que a instituição de ensino possa caminhar ao lado das famílias na educação do bem mais precioso de suas vidas.
Desde o início, é fundamental que os acordos com os responsáveis sejam claros, bem estabelecidos e sobretudo cumpridos. Essa coerência constrói a base de um relacionamento duradouro, pautado em confiança, transparência e escuta ativa. Como os pais e responsáveis não estão fisicamente presentes no dia a dia da escola, é papel da instituição garantir uma comunicação constante e eficiente, que os mantenha informados e integrados aos processos escolares.
Nesse sentido, ferramentas como e-mails, aplicativos e portais digitais tornam-se aliadas estratégicas para o compartilhamento de informações sobre a rotina pedagógica, eventos e necessidades específicas de cada aluno. Essa proximidade contribui para que as famílias possam se organizar, incentivar e acompanhar os estudos em casa, promovendo uma rotina pós-aula produtiva e conectada ao plano de estudos proposto pela escola. Nessa etapa, os responsáveis exercem um papel fundamental como parceiros ativos no processo de aprendizagem.
Mais do que informadas, as famílias precisam se sentir parte da escola. Convidá-las a participar das atividades escolares amplia a percepção de pertencimento e fortalece o vínculo com a comunidade educativa. Reuniões pedagógicas, encontros formativos, palestras temáticas e eventos como a Festa Junina, o Dia da Família e o Dia do PET são oportunidades valiosas para essa aproximação.
Um exemplo recente que temos experimentado com bons resultados na unidade que coordeno é o Dialogando sobre Filhos, uma roda de conversa entre pais e responsáveis, mediada por integrantes da equipe pedagógica, que promove a troca de experiências, reflexões sobre os desafios de cada faixa etária e a descoberta coletiva de novas abordagens educacionais. Essa iniciativa tem se mostrado uma experiência muito positiva, fortalecendo o vínculo entre escola e famílias por meio do diálogo aberto e respeitoso.
Paralelamente às ações coletivas, o atendimento individualizado também é indispensável. A atuação das orientadoras educacionais permite um acompanhamento próximo dos alunos e oferece às famílias um canal direto para esclarecimentos, alinhamento de estratégias e apoio na condução de conversas difíceis. Esses momentos personalizados fortalecem a confiança das famílias na escola e na proposta pedagógica adotada, além de contribuírem diretamente para o desenvolvimento acadêmico e emocional dos estudantes.
Incluir as famílias na rotina escolar não é apenas uma boa prática, é uma necessidade. Para que a jornada educativa seja leve, consistente e significativa, é fundamental que escola, pais e filhos caminhem juntos. Uma educação baseada no diálogo aberto, em metas compartilhadas e em relações de confiança potencializa o aprendizado e transforma a vivência escolar em uma experiência verdadeiramente formativa.”
Patrick Quadros – Coordenador Geral no Poliedro Colégio – Unidade Perdizes
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