Empoderar sim
Outro dia eu escutei que sou uma mulher empoderada. Lógico que fui tecer meus pontos sobre tal palavra. Lembrei que sou até madrinha de um blog sobre empoderamento feminino: direcionalescolas.com.br/empoderamento-feminino-nas-escolas. Trabalho lindo de um grupo que ousa pensar o ponto de vista do outro.
Fui, então, tecer a palavra que tem seu berço na língua inglesa ‘empowerment’, que significa: “dar poder a alguém para realizar uma tarefa sem precisar da permissão de outras pessoas”. Se isso é empoderar, sim, eu sou empoderada. E ainda complemento que não tive tanta sorte no meu percurso, o que eu tive foi (e é) MUITO TRABALHO, muito plantio e hoje eu colho e (re)planto minhas CAUSAS.
Paulo Freire foi um dos primeiros brasileiros a usar o conceito como um neologismo; empoderamento. Para ele, a pessoa, grupo ou instituição empoderada é aquela que realiza, por si mesma, as mudanças e ações que visam a evolução, o fortalecimento do grupo e, principalmente, a conscientização de cada um e seu reflexo no grupo social. Portanto, logo entendi o empoderamento como um grande tear, com pontos, nós e possibilidades de costuras além da possibilidade de desatar os nós da vida.
Fiquei imaginando, então, crianças e jovens falando de suas histórias, falando de seus medos e do tanto que não se sentem bonitos, felizes e inteligentes. Fiquei imaginando pessoas comuns falando sobre suas histórias, pais podendo falar dos seus medos de errar. Fiquei sonhando com uma educação da ESCUTA, da escuta cuidadosa de cada um, do UM A UM.
Então fiquei tecendo retalhos de vidas que escuto em meu consultório, retalhos de dores, de sofrimentos, de medos, de não conseguir corresponder as expectativas dos outros. Ah, empoderar-se é restituir a si mesmo e ao outro o movimento de suas ideias, posições (econômica, física, política, cultural, social) e seus desejos “adormecidos”, de poder escolher suas convicções e sustentá-las sem serem tão julgados. É urgente empoderarmos os jovens que nunca foram sonhados[1]. Talvez dessa forma, conseguiremos reduzir o último relatório divulgado em fevereiro de 2017 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) onde a DEPRESSÃO vem afetando 4,4% da população mundial e 5,8% dos brasileiros.
Atualmente, o crescimento do número de suicídios na adolescência, é considerado como a segunda causa da morte de jovens entre 15 e 19 anos. Estaríamos diante de alguma comunicação “SILENCIOSA” por parte desses jovens que sofrem e falam sobre uma ausência de sentido de vida? Como aprendiz da vida que tenho sido, venho exercitando e aprimorando a arte de escutar aqueles que falam de diversas formas, ora em palavras, ora em ATOS, ora em doenças e ora em suas ausências. É na arte de ESCUTAR – lenta e constante – que sinto o FIAR do CON-FIAR dos mais jovens, daqueles que sofrem em sua dor de existir, daqueles que sofrem em busca de suas histórias invisíveis em um mundo visível de ausência de sentido.
E termino com as palavras daquele que tanto nos faz falta, daquele que me inspirou em escutar e tecer as palavras.
“Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes”. (Rubem Alves)
Que o empoderar-se nos possibilite a experiência da BELEZA dessa ESCOLA chamada VIDA.
[1] Ver meu artigo na coluna do mês passado.