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Guia para Gestores de Escolas

Gestão: Empreendedorismo na Escola

Matéria publicada na edição 56 | Março 2010 – ver na edição online

Tema conquista espaço no currículo e introduz ideia do “protagonismo”.

Os líderes natos representam grandes modelos a serem copiados. Mas é possível aprender atitudes e valores que formam, juntamente com o conhecimento, a base sobre os quais os estudantes poderão construir seu futuro.

Por Rosali Figueiredo.

Um novo conceito toma corpo já há algum tempo no trabalho dos educadores entre os jovens e adolescentes, o “protagonismo”, inspirado no substantivo “protagonista” e em regra tomado como sinônimo de uma ação construtiva diante da vida. Pois o empreendedorismo figura hoje não apenas como postura obrigatória de gestão de negócio, mas também como proposta didática. “As características do empreendedorismo estão mais conectadas com as atitudes do que com o conhecimento, por isso é tão importante que pais e educadores apóiem nossas crianças e adolescentes a desenvolver estes comportamentos”, defende o consultor Marco Fabossi, administrador e autor do livro “Coração de Líder: A Essência do Líder -Coach” (Editora Press Abba).

No Colégio Dom Bosco, localizado na zona Norte de São Paulo, o empreendedorismo faz parte da própria missão da escola e está presente no trabalho com os alunos desde 2006. Diferente de instituições que optaram pela criação de uma disciplina específica, o Dom Bosco desenvolve o tema por meio de um projeto anual, conduzido por um professor e com enfoque interdisciplinar, afirma a diretora Rosilene Teixeira Rodrigues. “Os alunos trabalham em sala, em grupo ou dupla, com um determinado projeto ao longo do ano letivo. A avaliação é bimestral, temos a nota Dom Empreendedor, composta pela participação mais apresentação”, observa Rosilene. A metodologia foi desenvolvida pelo sistema Dom Bosco, de Curitiba, no Paraná.

Neste ano, os estudantes estão trabalhando sobre o tema da Copa do Mundo e terão que apresentar os resultados dos projetos na Feira do Empreendedorismo da escola, agendada para o final de maio. Todas as séries estão envolvidas, desde a Educação Infantil, que terá contato com a cultura africana e a linguagem visual das máscaras, ao Ensino Médio, que trabalhará plano de negócios e a geopolítica do continente. A escola pretende, no entanto, associar todo o evento à Copa de 2014 no Brasil, levando os estudantes a observarem de que forma o país está se preparando, especialmente o setor público na área de transportes e saúde. Outras questões estão colocadas: eles devem observar, dentro do contexto da competição, “quem são os líderes da Copa, os estilos de liderança que estão presentes, as formas de negociação e trabalho em equipe, o comércio, as vantagens e novas oportunidades criadas pelo evento”, pontua Rosilene. Na prática, alguns dos projetos do Fundamental II resultarão na montagem de lojas durante a realização da feira, que irão comercializar produtos relacionados à Copa. “As empresas que eles criam e montam no dia são cuidadosamente planejadas, com nome, fachada, propaganda e marketing”, enfatiza a diretora.

Trabalhando habilidades, conceitos e valores

Em 2009, lembra Rosilene, os estudantes criaram um café, atendendo a uma demanda apresentada pelos pais, que queriam um espaço para confraternização e happening no ambiente da feira. Desenvolveram ainda uma homepage para a venda de trufas, “observando como funciona toda a logística do comércio virtual”. Entretanto, a finalidade do projeto não recai sobre a criação de um produto ou negócio e sim “no desenvolvimento de habilidades e competências”, destaca a diretora. Assim, o tema é trabalhado desde muito cedo, iniciando-se no Fundamental I pela abordagem de valores como o trabalho em equipe, a solidariedade, o compartilhamento, a negociação e a liderança. Outras questões entram em pauta no Fundamental II, como sustentabilidade e meio ambiente (consumo racional dos recursos naturais e fontes alternativas de energia) e responsabilidade social (revertendo a arrecadação da venda dos produtos a entidades assistenciais), entre outros.

Segundo o consultor Marco Fabossi, as habilidades e competências relacionadas ao empreendedorismo e, por extensão, ao protagonismo, podem ou não ser inatas. De qualquer maneira, é possível desenvolvê-las paralelamente ao processo de aquisição do conhecimento. Nesse sentido, a primeira missão dos pais e educadores, defende o consultor, é ajudar os filhos e alunos “a compreender que o futuro não é o lugar para onde estamos indo, mas o lugar que estamos construindo e que eles fazem parte disso”. “Portanto, como pais e educadores, é preciso estar conscientes do nosso papel no desenvolvimento e formação de futuros empreendedores e líderes; homens e mulheres que estarão construindo o futuro”, focados na sustentabilidade, comprometidos com o ser humano, “que vivam uma vida com sentido, propósito e equilíbrio”. O consultor diz que oferece gratuitamente às escolas a palestra “Como ajudar seu filho a se tornar um Líder”.

Outro conceito pertinente ao empreendedorismo diz respeito à “transpiração”. Ou seja, mais do que “inspiração”, a construção do futuro exige muito empenho, dedicação e trabalho, destaca Fabossi. “Os novos líderes são fruto da combinação de fatores como o ambiente em que foram criados, os estímulos recebidos durante a vida, experiências pessoais, necessidades supridas ou suprimidas, conhecimentos e habilidades adquiridos, formação, treinamento e, principalmente, do empenho e da motivação de cada um em tornar-se um verdadeiro líder, liderando primeiro a si mesmo para só então liderar a outros”, observa.

Primeiros passos

O tema deve ser abordado desde o início do Ensino Fundamental, quando “as crianças podem ser convidadas a desenvolver atividades, jogos e reflexões sobre os comportamentos empreendedores e a conhecer aspectos do plano de negócios de forma integrada aos conteúdos pragmáticos de cada ano”, afirma Ana Paula Sefton, Gestora Estadual do Programa de Educação Empreendedora do SEBRAE em São Paulo. Desde 2002, o órgão desenvolve projetos de formação empreendedora junto aos estudantes do Fundamental, Ensino Médio e Técnico e Superior. No próprio Colégio Dom Bosco, foi a parceria com o SEBRAE que o ajudou a capacitar os professores e a organizar o processo, lembra a diretora Rosilene. Mas em 2009 a escola optou pela metodologia desenvolvida pela rede de ensino ao qual está associada.

São três os projetos que o SEBRAE desenvolve, mas um dos destaques é o “Jovens Empreendedores – Primeiros Passos” (relativo ao Ensino Fundamental), por meio do qual celebra parceria com as escolas públicas e privadas para a capacitação dos professores. “Somente através da capacitação eles compreenderão como e o porquê de se trabalhar com esta metodologia, uma vez que os próprios educadores vivenciarão dinâmicas de empreendedorismo e farão reflexões acerca dos conceitos trabalhados”, observa Ana Paula. Posteriormente, a metodologia pode ser introduzida como disciplina curricular ou atividade extracurricular.

O “Jovens Empreendedores” passou por atualizações 2009 e ganhou mais um tema, o “Empreendedorismo social”, no 8º ano. A este somam-se “O mundo das ervas aromáticas” (trabalhado no 1º ano), “Temperos naturais” (2º ano), “Oficina de brinquedos ecológicos” (3º ano), “Locadora de produtos” (4º ano), “Sabores e cores” (5º ano), “Ecopapelaria” (6º ano), “Artesanato Sustentável” (7º ano) e “Grandes ideias, novos negócios” (9º ano).

Segundo a gestora do SEBRAE-SP, o órgão capacitou desde 2002 mais de 7 mil professores no “Jovens Empreendedores”, atingindo a pelo menos 206 mil alunos em 102 municípios do Estado. Ana Paula lembra que o curso não apresenta qualquer conotação de trabalho infantil, mas “busca a transformação de comportamentos de crianças e jovens”. “As atividades e dinâmicas são apresentadas de forma lúdica e, embora os alunos descubram como se cria uma loja, como se faz um produto e os cuidados que se deve ter ao vender este produto, as aprendizagens vão para além, pois são incentivados o conhecimento de si, a convivência com o outro, o trabalho em equipe, a organização, o planejamento, bem como uma postura crítica e reflexiva sobre sua forma de interagir com o mundo que os cercam.”

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