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Guia para Gestores de Escolas

Gestão — Rumos da Educação

Matéria publicada na edição 54 | Dezembro 2009 / Janeiro 2010 – ver na edição online

Há espaço para crescer?

Algumas divergências marcam as expectativas quanto ao futuro da rede privada de educação básica no Brasil. Mas um consenso une mantenedores e especialistas: é preciso investir em profissionalização, qualificação e em um upgrade do ambiente de aprendizagem, recorrendo-se por vezes a estratégias ousadas. Duas tradicionais escolas em São Paulo, por exemplo, vivem hoje um processo de fusão e pretendem “ganhar escala” para poder “investir mais” na qualidade do ensino.

Por Rosali Figueiredo

A rede privada de educação básica levou um grande susto entre os anos 90 e esta década: o número de filhos por família começou a decrescer, na contramão da expansão do número de escolas e vagas. “Nos anos 80, havia de três a quatro crianças por família, proporção que caiu para 1,7 entre 2008 e 2009”, aponta o economista José Milton Dallari Soares, diretor do SEBRAE em São Paulo, consultor no segmento e professor universitário. Nesse contexto, Milton Dallari traça um diagnóstico preocupante para o setor, de excesso de vagas, um quadro de maior oferta que demanda, deixando aos mantenedores “o imenso desafio de se reorganizar” nos próximos anos. Com base em dados do IBGE, ele prevê um movimento contínuo de queda da população brasileira na faixa etária até 17 anos e a estabilização da relação de filhos por família em torno de 1,7. “A partir de 2030, subirá significativamente o número de idosos”, afirma.

Mas para o presidente do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo), Benjamin Ribeiro da Silva, mantenedor de duas escolas, o pior já passou e as perspectivas são boas. “Até  2016 voltaremos aos patamares do final da década de 80.” Segundo ele, na época a rede privada do ensino básico absorvia 21% dos estudantes brasileiros, proporção que baixou para 11% em 2003, mas que retomou o fôlego desde então, chegando a 16% em 2009, “com espaço para crescer ainda mais”. “O grande sonho de consumo das classes C e D no Brasil é ter o filho na escola privada”, diz. Por outro lado, o dirigente afirma que mesmo com a retomada muitos estabelecimentos fecharam entre 2006 e 2008, portanto, a estrutura estaria hoje um pouco mais adequada ao tamanho da demanda. “Mas o mercado está extremamente competitivo e quem não tiver competência pedagógica e administrativa não sobreviverá.”

Para o  consultor Eugênio Machado Cordaro, o problema gerado pela “curva decrescente de filhos” está absorvido e “o normal agora é crescer”. Cordaro é administrador graduado pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e pós-graduado em Economia pela mesma instituição, atua desde 1983 com a educação privada e acompanha o dia a dia de 35 instituições. Assim, ele diz observar in loco uma retomada. “Desde 2007, a maioria das escolas boas, bem equilibradas, voltou a crescer em número de alunos. Se algumas não registraram crescimento, o problema sai da esfera populacional e entra no campo da competitividade de mercado, que compara preço e qualidade.”

Desafios 

 Segundo ele, “o mercado ainda apresenta mais oferta que demanda, mas isso está se estabilizando”. “Estou mais otimista em relação ao cenário dos próximos cinco a dez anos, mas a escola terá que estar bem preparada estrategicamente para aumentar o número de alunos.” Isso passa necessariamente por um equilíbrio orçamentário, sem deixar de investir na qualidade. Não é tarefa simples, mesmo porque, em um primeiro momento, muitos mantenedores promoveram um ajuste de custos, “quem trabalhou nisso nos últimos dez anos sabe que não tem mais onde cortar”. É claro que pode ter conduzido o processo de maneira equivocada, “sem estudar aonde existiam possibilidades efetivas de cortes”. Mas, se fez certo a lição de casa, o caminho seria apostar na construção de sua imagem, tendo como base a qualidade administrativa e pedagógica.

Inexiste uma receita única que garanta à rede privada um respiro orçamentário mais perspectivas de crescimento, mas uma palavra-chave deve nortear suas ações e escolhas, avalia outro consultor, João Carlos Martins: “a competência”. “Ser competente significa funcionar de maneira equilibrada em termos de finanças, valorizar o funcionário e oferecer um ambiente de aprendizagem em que os alunos se sintam desafiados, motivados, trabalhem com as novas tecnologias e entendam o mundo atual.” Nem que para isso seja necessário recorrer a estratégias ousadas, como a fusão que João Carlos vem comandando entre o Colégio Hebraico Brasileiro Renascença, localizado no bairro de Santa Cecília, região central de São Paulo, e a Escola Brasileira Israelita Chaim Nachman Bialik, de Pinheiros, na zona oeste, a qual está dando origem à Nova Escola Judaica.

Diretor geral do Renascença há cinco anos, João Carlos explica que o processo de fusão, iniciado em 2009, permitirá “ganhar escala com mais alunos e receita” e possibilitará “investir mais”, ou seja, “competir e sobreviver com excelência pedagógica neste mercado que está aí”. Durante 2009, houve adequação da matriz curricular, ações voltadas à formação e qualificação das equipes pedagógicas, além da aproximação dos setores administrativos, que deverão estar unificados em 2010. “A ideia é crescer”, aposta João Carlos, para quem o contexto do setor é “preocupante”, mas não “pessimista”.

“A educação é prioridade para as famílias, assim como saúde e alimentação. Se o pai percebe que o filho está crescendo, a escola será uma das últimas coisas que ele irá mexer”, avalia. Então, a pedra de toque “é investir e usar bem a receita para produzir bons resultados educacionais”, o que se consegue apenas com “a profissionalização dos processos e a aproximação entre o administrativo e o pedagógico”, diz. João Carlos, que dirige estabelecimentos privados há vinte anos, observa que as escolas, de maneira geral, costumam ser “refratárias às mudanças, apresentam certa resistência em se renovar”. Uma das posturas que devem ser adotadas é implantar sistemas de avaliação dos profissionais, “para cobrar resultados”. De outro modo, é preciso incluir no orçamento anual verbas destinadas à formação e treinamento dos professores, recomenda. O diretor  sugere, por exemplo, projetos de capacitação para uso das novas tecnologias de comunicação, de forma a que o professor possa “entender a linguagem do aluno e perceber o quanto ele mudou”.

Outro caminho possível é adotar posturas que passem pela sustentabilidade, de uso racional dos recursos materiais e insumos, como água e energia elétrica, envolvendo os profissionais, alunos e comunidade. Algo que pode ser conquistado à base da “gestão participativa”, afirma o diretor da Nova Escola Judaica. “Ainda há muita resistência a isso dentro da rede privada, porque é um processo trabalhoso. A decisão participativa é mais lenta, mas através dela todos se tornam co-responsáveis pelas regras, o que ajudaria muito, por exemplo, no uso sustentável dos materiais.”

Nem todas as estratégias são consensuais entre os mantenedores e especialistas, o próprio presidente do Sieeesp questiona, por exemplo, a eficiência das fusões, entretanto o impacto da crise das últimas duas décadas, aliado às demandas geradas pela tecnologia da informação, estão levando a muitas mudanças na rede privada de ensino.

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