Gestor, é preciso apoiar para mudar
Gestão Escolar
Matéria publicada na edição 117 | Abril 2016 – ver na edição online
Rodrigo Abrantes e Verônica Cannatá
Após um interlúdio de alguns meses, ou melhor, anos, retornamos a esse espaço. Em nossos textos anteriores, estávamos interessados em investigar problemas de base, relacionados, por um lado, à infraestrutura tecnológica necessária ao desenvolvimento de um projeto de tecnologia educacional na escola e, por outro, às estratégias de formação docente imprescindíveis ao posicionamento do professor na cultura digital.
Nesse sentido, comentamos alguns relatórios que permanecem a principal referência de estudo sobre a integração de tecnologias emergentes no contexto educacional, como o Horizon Report: http://migre.me/tjE04
Procuramos também sinalizar as bases para a tomada de decisão pelo gestor escolar http://migre.me/tjE0H .
E, por fim, discutimos novos problemas comportamentais, como o diagnóstico de “Transtorno de Dependência da Internet”, que permanece relevante de ser compreendido pelos educadores: http://migre.me/tjE14
Desde que publicamos esses materiais, o cenário pouco mudou. Na verdade, hoje não se encontra mais quem acredite que não precise de um projeto de tecnologia educacional para oferecer uma educação capaz de posicionar os estudantes no mundo contemporâneo. Não encontramos mais quem acredite que se possa dispensar o acesso à internet, e tampouco que a oferta de ensino online seja uma moda passageira. Pelo contrário, o que se verifica é um amadurecimento sobre questões relacionadas à equipamentos, aplicações e recursos de desenvolvimento profissional. Porém, são tantas empresas, marcas, fabricantes e consultorias disponíveis a bater na porta das escolas, que o gestor fica, muitas vezes, desorientado.
Qual a melhor escolha? Como oferecer o melhor ensino? Qual o melhor caminho?
Muito se avançou em termos de equipamentos, conectividade, aplicativos e mídias, porém é duro constatar que, na sala de aula, o que predomina é a aula expositiva. Nos últimos anos, passamos por salas de aula de diferentes estados do Brasil, de escolas públicas e privadas, e constatamos que a aula expositiva permanece o elemento central da prática docente. Na sala de aula conectada, qual será então o papel do professor?
Possibilidades digitais que permeiam o processo do ensino e da aprendizagem como linguagens, como potência, como instrumentos de personalização, como conceitos de produção individual/coletiva e como agentes transformadores das relações interpessoais. Tudo junto e misturado no espaço da nossa sala de aula.
O termo “misturado”, neste contexto, remete à reflexão da integração das tecnologias digitais. Corroboram a favor do termo aqui empregado, a escassez de programas de formação, de troca, de práticas e de acompanhamento pedagógico que promovam o diálogo e a avaliação prévia do “o quê”, do “onde”, do “como” e do “porquê” utilizar os recursos digitais. Ao conversarmos com alguns gestores, percebemos a indagação: “Será que apesar de tanto investimento, fazemos mais do mesmo?”
Será? Estando o aluno inserido num universo conectado a uma dimensão digital que extrapola as paredes da sala de aula e que acelera o processo de evolução da informação, como então, nós professores ofereceremos uma educação que contemple as diferentes necessidades e interesses? E como a equipe de gestão dará apoio aos professores?
Reconhecemos que as pesquisas científicas ao longo do tempo desencadearam reflexões que impulsionaram a escola a desenvolver outras formas de ensinar e de aprender, que enfatizaram a importância da participação do aluno na construção do próprio conhecimento. Possibilidades que muitas vezes se sobrepõem às práticas educacionais direcionadas pela criação e avanços da internet. Avanços que modificaram a comunicação bidirecional e a busca não linear pelas informações (Web 1.0), que tornaram possível a rápida colaboração entre as pessoas (Web 2.0), que trouxeram novos significados semânticos (Web 3.0) e que propuseram experiências imersivas (Web 4.0) ao processo de construção do conhecimento (BACICH; NETO; TREVISAN, 2015).
Acreditamos que para inserir uma metodologia em sala de aula que mude o papel do professor e que avalie o “quanto é” e “o quando se faz necessária” uma aula expositiva, é necessário a preparação de quem irá implementá-la. Afirmamos o quanto é importante um programa de orientação e formação continuada para o professor e desta forma, o papel da equipe de gestão será fundamental ao impulsionar o seu grupo a pensar, a rever práticas, a analisar relações entre os pares e a reavaliar o ambiente da sala de aula (MARTINS, 2010).
Seguindo a perspectiva da personalização, ou seja, o aluno no centro do processo, o conjunto dos feedbacks correspondentes a um ciclo de aprendizagem deve fazer parte de uma reflexão maior (gestão-professor, professor-professor, professor-aluno e aluno-aluno). De preferência, esse momento deve ser compartilhado com outros professores e coordenadores de área, sendo incorporado a um escopo maior de planejamento.
Concluímos este texto com um pedido aos gestores educacionais, pois percebemos que o professor precisará ter abertura para identificar pontos que precisam de apoio a partir do apontamento dos pares. Em muitos casos, precisamos do olhar do outro para descobrirmos aspectos que não nos era evidente. Cabe a equipe de gestão promover espaços de formação, de troca e de coaching que conduzam o professor de forma segura a reconfigurar os espaços da sala de aula, abordando uma metodologia com foco na personalização.
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Referências
BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi; TREVISANI, Fernando de Mello (org.). Ensino híbrido. Personalização e tecnologia na educação. In: Ensino híbrido. Personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Editora Penso, 2015.
LIMA, Leandro Holanda Fernandes de; MOURA, Flávia Ribeiro. O professor no ensino híbrido. In: Ensino híbrido. Personalização e tecnologia na educação. BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi; TREVISANI, Fernando de Mello (org.). Porto Alegre: Editora Penso, 2015.
MARTINS, João Carlos in COLOMBO, Sonia Simões; CARDIM, Paulo A. (org.). Nos bastidores da educação brasileira – a gestão vista por dentro. As especificidades de uma gestão democrática e participativa nas instituições de ensino básico. Porto Alegre: Editora Artmed. 2010.
RIVOLTELLA, Pier Cesare. A formação da consciência civil entre o “Real” e o “Virtual”. In: Liga, roda, clica: estudos em mídia, cultura e infância. FANTIN M.; GIRARDELLO, G. (org.) Campinas/SP: Papirus, 2008.
Por:
Rodrigo Abrantes é professor de Tecnologia Educacional no Colégio Dante Alighieri e tutor do curso Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia na Educação, parceria entre o Instituto Península e a Fundação Lemann. [email protected]
Verônica Cannatá é coordenadora-Assistente e professora de Tecnologia Educacional no Colégio Dante Alighieri. Mestranda em Educação pela Universidade Metodista e membro da ABPEducom – Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação. [email protected]