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Guia para Gestores de Escolas

Lacunas na conexão de afeto em família: o impacto nos relacionamentos de nossas crianças e o papel da escola nesse contexto

Por Roberta e Taís Bento

A agressividade, tanto física quanto verbal, entre os próprios alunos e para com os professores e colaboradores tem se tornado mais frequente nas escolas.

Pesquisas recentes relacionam esses comportamentos a uma lacuna importante: a falta da conexão de afeto entre as crianças e os adultos responsáveis por elas – pai, mãe, cuidador. E isso não significa que tenham pais ausentes ou negligentes. Ao contrário, muitos têm famílias presentes, preocupadas em dar o que há de melhor ao/à filho/a. O grande problema é que as crianças estão criando uma relação de vínculo mais forte com seus influenciadores do mundo digital ou pares de idade próxima a quem, por algum motivo, admiram.

Essa desconexão com os adultos impacta não somente as crianças e adolescentes, mas também o ambiente escolar, com reflexos diretos nos índices de bullying e na saúde mental do professor e dos profissionais da educação. Mais um desafio para a escola. E uma oportunidade para, diante da clareza sobre o real problema por trás de sintomas que vivenciamos todos os dias, reverter esse quadro, tornando mais leve a gestão escolar e o contexto em que estão inseridos professores e colaboradores.

A importância do vínculo com adultos

Estudos indicam que o comportamento agressivo e antissocial entre crianças e adolescentes aumenta quando há um distanciamento emocional entre eles e os adultos responsáveis. Segundo Gabor Maté, médico especializado na saúde da família e no desenvolvimento infantil, autor de diversos livros, a ausência de uma figura de autoridade afetuosa e conectada contribui para a desorientação emocional das crianças, deixando-as vulneráveis à pressão dos pares e influências externas, como redes sociais e conteúdos de entretenimento muitas vezes inapropriados.

Em livro recentemente publicado “Hold on to your kids”, ainda sem tradução para o português, Gabor Maté e Gordon Neufelf, internacionalmente reconhecido como o maior especialista em desenvolvimento da criança, cunharam um termo para descrever o perfil de crianças nascidas na era digital que crescem com uma lacuna no vínculo de afeto com os adultos responsáveis: “crianças orientadas aos pares”. Eles descrevem crianças cuja principal referência são os pares de idade próxima, ao invés dos adultos. Isso as torna mais suscetíveis à influência negativa do mundo digital e à baixa autoestima, tornando também cada uma delas uma vítima potencial do bullying.

Diante desse cenário, a escola tem um papel fundamental na formação emocional e social das crianças. A criação de um ambiente seguro, onde a criança sinta-se acolhida e conectada com os adultos, pode fazer a diferença no desenvolvimento saudável. Professores e gestores precisam não só ensinar, mas também atuar como figuras de referência emocional para os alunos. A ideia não é que a escola cumpra o papel que é da família, nem que os professores e gestores assumam a responsabilidade pelo desenvolvimento emocional dessa criança, mas que tenham consciência de quanto pequenos gestos de carinho, suporte, afeto, aliados a regras e limites necessários a um ambiente saudável, impactam na autoestima e capacidade dos alunos para enfrentar os desafios que estão vivenciando.

Uma estratégia que funciona é a implementação de atividades que promovam vínculos mais fortes entre alunos e professores, além de incentivar a interação saudável entre os próprios alunos. Investir tempo em dinâmicas que aproximam os alunos, e a turma como um todo, vai render benefícios para o aprendizado e a saúde mental dos estudantes e dos professores. A presença de políticas escolares que limitem o uso de celular durante o horário de aula, por exemplo, também pode ajudar a reduzir o distanciamento emocional causado pela constante distração do mundo virtual.

Um processo de comunicação constante com as famílias, compartilhando informação de qualidade, comprovadamente ajuda a reduzir conflitos entre estudantes e leva os pais e responsáveis a ajustar a rotina familiar, de modo a favorecer a formação dos vínculos que estão fazendo tanta falta para as crianças e adolescentes. O estreitamento da relação entre família e escola é um dos caminhos mais promissores para garantir o resgate do equilíbrio socioemocional de nossas crianças e adolescentes e a melhor forma para garantir que a escola permaneça como um ambiente acolhedor e seguro para todos.

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