Levando minha “criança” interior para brincar
Como admiradora das crianças, eu não poderia deixar de contar esta história, já que faço questão de manter viva minha criança interior – ora machucada, ora feliz, ora atenta, ora desatenta – assim como toda e qualquer criança que tenta encontrar na vida adulta a “belezura”, o sentido de crescer, amadurecer e morrer.
No mês de outubro, período em que comemoramos o Dia das Crianças, resolvi levar minha criança interior para realizar um sonho antigo, e me aventurar pela magia da Disney.
Em tempos de desesperança, eu precisava recarregar as minhas esperanças mesmo que temporariamente, então, finalmente seguimos para Orlando rumo a Disney, o ponto de chegada seria o encontro com velhos amigos “desconhecidos” presencialmente – entre eles, tinham sempre os meus prediletos, Mickey, Minnie, Pateta, Pato Donald e Margarida, Pinóquio… Amigos invisíveis de uma infância, parceiros constantes dos meus jogos de faz-de-conta, entre dentro e fora de aulas enfadonhas que eu era submetida na escola. Foi na minha infância, que encontrei professores que me ensinaram a ver além do ato fisiológico. Foi na infância do faz-de-conta que aprendi a poética da esperança, foi com aqueles personagens que eu conversava no calar da noite quando me sentia sozinha e com medo, não é à toa que adoro a Alice no País das Maravilhas.
Hoje, ao escrever esta coluna, vejo e revejo meus caminhos na educação, ao longo dos meus vinte e tantos anos como educadora dentro de escolas e mais treze anos pelas estradas e céus deste mundão, eu me pergunto: e agora, por onde irei? Eu irei pelo mundo encantado, não tão ingênuo, mas também não tão duro, vou no sentido contrário do vento, vou colocando sementes-palavras no circuito da vida e também da morte, continuo falando fácil, descomplicando o que é tão complicado, faço escolhas diárias e não me rendo ao pessimismo do momento.
Essa viagem que fiz foi em nome da minha criança, o que eu vi lá, naqueles parques, me renovou, eu vi idosos brincando de serem crianças, eu presenciei crianças ditas “normais” ajudando seus colegas ditos “especiais” a brincarem, eu chorei ao ver crianças em tratamento de câncer, brincando com seus personagens e esquecendo o que lhes aguardava nos próximos dias, eu senti a emoção de crianças com paralisia cerebral que me ensinavam a rir com o coração.
Ali, naqueles parques, eu brinquei no reino da fantasia, onde todos eram iguais em oportunidades, eu fiz de conta que a compaixão dali viria comigo, eu criei uma comunhão de olhares, eu vivencie cada minuto daquela viagem.
Naquela noite, ao chegar na Disney, sentei e chorei, chorei de soluçar, chorei por ver e sentir que eu estava viva, a magia que me fez estar na educação não havia morrido, estava ali bem viva.
Naquela noite, eu vi que não adianta querer explicar o que não tem explicação. Naquele mundo do faz-de-conta, não havia separação de idades e nem de doenças, ali, não existiam notas e nem padrão de beleza, todos eram saudáveis em “realizar”, mesmo que momentaneamente, seus sonhos infantis. O que eu trouxe de aprendizagem? Respeite o que ainda resta de inocente em você.
E, como dizia o menino-homem Walt Disney, “não deixe que os seus medos tomem o lugar dos seus sonhos”.
Enfim, voltei para o meu país, voltei para a minha realidade, mas… eu voltei uma pessoa melhor. Acreditem!