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Guia para Gestores de Escolas

O desafio do consenso em tempos de individualismo extremo: reflexos e reflexões dentro da escola

Por Roberta Bento e Taís Bento

Em nenhuma outra época a escola recebeu demanda por respostas a tantas questões relacionadas a áreas tão diversas. E quanto mais a escola busca maneiras para atender a essas demandas, tentando se adequar a necessidades específicas de alunos, família, comunidade escolar, mais frequentes se tornam as abordagens agressivas por parte de muitos “opinadores”, que nunca estiveram dentro de uma escola, mas julgam e condenam a escola e os profissionais que lá estão.

O desafio do consenso, em tempos de individualismo extremo, seguirá nos acompanhando. Isso porque lidamos com diferentes pontos de vista em relação a cada acontecimento e cada acontecimento diário na escola.

A verdade que o aluno conta precisa ser ouvida, considerada, compreendida dentro do contexto mais amplo em que esse aluno passa seus dias, forma seus conceitos, constrói – ou, infelizmente, destrói – sua autoestima. O olhar subjetivo que a família coloca em cada desafio que o filho enfrenta será sempre, como o nome “subjetivo” já diz, único, singular. E as informações objetivas que a escola leva para as conversas com a família terão sempre um toque de subjetividade da equipe envolvida na gestão escolar. Sempre que existir a busca por uma verdade inquestionável e única, o consenso será um desafio cada vez maior, especialmente em tempos de uma sociedade mais individualista, imediatista, inundada por uma onda de pensamentos extremistas.

Quem aqui não passou momentos tensos, tentando explicar, algumas vezes nessas poucas semanas desde o início das aulas, o porquê: a lista de material precisa daqueles itens, naquelas quantidades; o aluno foi para a turma X e não para a Y; aquela professora foi escolhida para assumir determinada classe, além de outras decisões que cabem à escola tomar?

E quem não teve, entre essas conversas, alguma reação agressiva, palavras ofensivas, olhar desconfiado por parte de algumas famílias?

Por que é tão difícil para as pessoas entenderem, assimilarem, abraçarem junto com a escola o desafio da formação integral dos próprios filhos?

Para entender a postura muitas vezes desconfiada das famílias, vamos inverter então esse olhar: vamos buscar recursos para entender o que está gerando tantos momentos de dissonância entre família e escola. E como podemos reverter essa situação. Muitas vezes achamos que estamos lidando com o que parece ser óbvio. E isso nos leva a esperar uma atitude automaticamente mais compreensiva do nosso interlocutor: seja ele o aluno, o pai, a mãe, um cuidador. Ou mesmo dentro da equipe pedagógica ou colaborador de outra área. A realidade, porém, é que nada é “óbvio”, em especial quando se trata de comunicação na busca por consenso e parceria para superar desafios.

Ao menor sinal de divergência entre o que acreditamos ser o óbvio e o que a outra pessoa expressa como verdade, acende-se o sinal de alerta dentro de nós. E partimos para posturas agressivas ou defensivas, mesmo que tentemos parecer calmos e complacentes. Com o cérebro em sinal de alerta para um perigo iminente, a busca pelo consenso se torna uma batalha, uma disputa em que, para um ganhar, o outro tem que perder. Tudo isso quando deveríamos ter como modelo um jogo de frescobol, ao invés do campo de guerra. O objetivo não é derrotar o outro, mas sim garantir que o parceiro no jogo consiga receber e devolver a bola. A busca precisa ser pelo ritmo que contempla forças e fraquezas de cada envolvido.

Quem de nós conseguir ajustar a postura, e ter como meta primeiro ganhar um parceiro, para depois avançar no jogo, conseguirá conquistar dias mais leves, cabeças, mãos e corações mais abertos para ajudar na travessia entre os tempos difíceis que vivemos, até o ponto que a educação merece viver.

Uma estratégia para garantir que o campo de batalha estabelecido nas redes sociais e nas interações pessoais fique do lado de fora da escola é partir do pressuposto de que ninguém carrega consigo uma verdade absoluta. Cada pai, cada mãe ou responsável traz consigo suas verdades subjetivas. E cabe a nós, enquanto gestores da educação, estabelecer caminhos para que possamos juntos criar verdades intersubjetivas. Verdades compartilhadas, a partir das quais cada um de nós ouve o outro, em busca da compreensão da sua dor e dos seus pensamentos. E só então estaremos cumprindo nossos papéis de adultos responsáveis, escola e família juntas, modelando o respeito que desejamos ensinar, sempre com foco no bem-estar e desenvolvimento saudável do aluno.

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