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Guia para Gestores de Escolas

Protagonismo em Foco: Novas Percepções, Ações e Anseios dos Alunos

Texto e fotos por Rafael Pinheiro

A palavra protagonismo é definida pela qualidade de destaque, exercendo uma característica importante, principal. Se olharmos para a nossa realidade social, seus anseios e necessidades que começam a transparecer, a formação de um cidadão crítico é um dos pontos que devem ser avaliados e introduzidos no extenso período escolar.

Trabalhar com o protagonismo e, consequentemente, a responsabilidade em um processo democrático escolar é um dos objetivos da Escola Estadual Brasílio Machado, localizado na região oeste da capital paulista. Abrangendo os anos iniciais em período integral (1º ao 5º ano do Ensino Fundamental), com dez salas de aula e uma demanda de 292 alunos (com capacidade máxima para 300 alunos), o Brasílio Machado destaca-se em diversos aspectos: tanto no amplo espaço físico, disponibilizando pátios abertos e cobertos, quadra, salas com mobiliário adequado, espaço amplo para biblioteca e leitura, horta, refeitório arejado e muita dedicação pedagógica e administrativa.

O intuito do colégio é “melhorar cada vez mais os resultados em avaliações e estamos buscando a qualidade no ensino oferecido, buscando uma educação de excelência, que eu acredito que é possível na escola pública”, diz Simone Santoro Romano, diretora da escola desde 2011.

Em visita ao colégio, traçamos o seu perfil através de dois projetos: as assembleias e o acompanhamento socioemocional. As assembleias são realizadas duas vezes ao mês, com um total de 20 alunos participantes (entre líder e vice líder). Reforçando a ideia de protagonismo, os alunos apresentam demandas e questionamentos que envolvem o seu cotidiano. “Com sugestões deles e dos professores, fechamos uma pauta coletiva. E toda a aprovação parte dos alunos… é interessante que eles assumem o papel de porta-voz e estabelecemos uma ligação muito estreita da direção com os alunos… além de treinar a oralidade, a escrita, eles observam essa atividade como uma responsabilidade nesse cotidiano escolar”, explica Simone.

No projeto socioemocional, os professores realizam uma capacitação e desenvolvem quatro eixos com os alunos: resolução de problemas, empatia, habilidade para a aprendizagem e controle emocional. O interessante desse trabalho, conta Simone, é que os alunos acabam se abrindo com os professores e, consequentemente, os professores passam a conhecer um pouco mais dos seus alunos. Aliando estes dois projetos, que foram incluídos na matriz curricular este ano, Brasílio Machado demonstra uma preocupação pautada pela excelência educacional, bem como o acompanhamento preciso no desenvolvimento de cada aluno.

Confira abaixo trechos de nossa conversa com a diretora e apontamentos de questões, como: o ensino em período integral, a relação da família com a escola, gestão escolar e a reorganização proposta pelo governo de São Paulo.

ENSINO EM PERÍODO INTEGRAL

Esse ensino em período integral, que eu destaco em primeiro lugar, é o fato do professor ficar, também, em período integral. Nós fazíamos parte de um outro programa, chamado ‘tempo integral’, aonde eu trabalhava com duas equipes: no período matutino, os professores da matriz comum e no período vespertino, tínhamos os professores especialistas que desenvolviam oficinas com os alunos. Então eram duas equipes e para desenvolver um trabalho coletivo era muito difícil. Agora, eu tenho um professor o tempo inteiro. Na minha concepção, a escola de tempo integral precisa de um professor em tempo integral. Hoje a minha equipe fica aqui todo o período e todos fazem o mesmo horário. O Estado de São Paulo possui dois programas: o tempo integral e o ensino integral. No ensino integral, as disciplinas não são mais separadas por horário, elas são diluídas em toda a carga horária do aluno. A proposta do ensino integral é de um currículo integrado, como por exemplo: na aula da horta, os alunos não aprendem somente a cuidar da horta, mas aprendem conceitos de ciência, relatando essa aula, aprendendo, assim, língua portuguesa com matemática, geografia e etc. O objetivo é que esses professores trabalhem de forma colaborativa, um ajudando o outro e muitas aulas acontecem em duplas de professores e isso não tínhamos no programa de tempo integral.

PROTAGONISMO EM FOCO

No começo do ano, os alunos realizam uma eleição – que pode ser fechada ou aberta, definindo o líder e vice líder de cada sala. Temos dez salas e um líder e vice para cada sala. As reuniões são feitas a cada 15 dias e nesse período fazemos as atas da reunião. Qual o objetivo? Levantar quais foram as demandas apontadas por eles e também poder dar a devolutiva, então geralmente eu começo uma reunião com uma devolutiva sobre as solicitações apontadas na reunião anterior. Nesse processo, é interessante perceber que existem demandas da parte física e demandas sobre eventos, como a Semana das Crianças, por exemplo. Com sugestões deles e dos professores, fechamos uma pauta coletiva. E toda a aprovação parte dos alunos… é interessante que eles assumem o papel de porta-voz e estabelecemos uma ligação muito estreita da direção com os alunos… além de treinar a oralidade, a escrita, eles observam essa atividade como uma responsabilidade nesse cotidiano escolar. É uma relação de proximidade, mas sem perder sua função, então eles sabem que eu sou a diretora e eles são alunos, ou seja, é uma relação estreita, mas com um respeito enorme.

Eles se colocam, têm opinião e estamos verificando que isso está chegando na postura do aluno. De forma respeitosa é possível estabelecer esse diálogo. Fico maravilhada com o grau de percepção que eles têm com o objetivo maior da escola, de ensinar e aprender.

SOCIOEMOCIONAL

O aluno saber lidar com suas emoções têm um peso muito grande na vivência escolar e social, e se o aluno não tiver essa parte emocional desenvolvida, do autoconhecimento, ele não terá um desempenho tão significativo. Nesse trabalho socioemocional, os professores participam de oficinas de capacitação para trabalhar com os alunos e existe um material específico disponibilizado. Os eixos do programa são: resolução de problemas, empatia, habilidade para a aprendizagem e controle emocional. O interessante desse trabalho é que os alunos acabam se abrindo com os professores e, consequentemente, os professores passam a conhecer um pouco mais dos seus alunos. O que acompanha esse trabalho, que eu acho bem interessante, é a formação. O professor conversa com as formadoras, relata o que está acontecendo e recebe as orientações de como proceder com esse trabalho.

Os alunos têm um caderno que eles levam lições para casa diariamente e isso acaba envolvendo toda a família, pois muitas perguntas dessas lições são baseadas em ações que acontecem em toda a família. Nós tivemos uma ação no mês de setembro envolvendo as famílias aqui no colégio. Vieram duas formadoras desse programa e começaram a conversar com as famílias e apareceram diversas questionamentos dos pais em relação às lições dos cadernos, o envolvimento deles e, principalmente, a segurança que o aluno sente tendo o acompanhamento dos pais. É um programa que, além de atender os alunos, está auxiliando, também, os familiares.

 

FAMÍLIA E ESCOLA

Antigamente, fazíamos reunião de pais logo na entrada dos alunos e, quando eu comecei aqui, em agosto de 2011, a participação dos pais era mínima. A partir desse ano, com todas essas ações e movimentações, com a proposta de ensino integral, com as assembleias, com a questão socioemocional, nós chamamos os pais para um contato mais efetivo na escola, observando a evolução de seu filho, não só em reunião de conselho, mas também estreitar esse laço e muitas vezes, em conversas com os pais, pensamos em novas melhorias coletivas que farão a diferença na formação integral do aluno. E os pais já sentiram, também, essa mudança no comportamento do filho em casa e esse caráter de responsabilidade participante – tanto trabalhado nas assembleias, por exemplo. E essa visão externa é muito significativa. Quando você está aqui dentro, às vezes o nosso olhar começa a cristalizar e você só enxerga aqui e tendo essa visão de fora, amplia seus horizontes e seu repertório e, com isso, nós só temos a crescer em conjunto.

GESTÃO ESCOLAR

Nós temos um acompanhamento muito grande da Secretaria de Educação e da Diretoria de Ensino. Temos algumas demandas tanto de formação, como também os indicadores internos e externos. Em termos de trabalho coletivo, a alteração foi explícita com uma mudança para melhor. E nós temos um lema aqui chamado “nenhum a menos”, onde todos são capazes de aprender em ritmos diferentes. E até para crianças que apresentam algum grau de dificuldade, nós voltamos o olhar para saber o motivo pelo qual a criança não está conseguindo avançar, entramos então com orientação de estudo, atividade de reforço, sem esquecer, de forma alguma, do aluno que está avançando. Temos feito, com isso, um acompanhamento aluno por aluno, sem exceção.

E para o próximo ano, estamos pensando em acoplar esse projeto de protagonismo de aluno para protagonismo de pais, para aumentar essa parceria entre família e escola. Nós temos uma parcela de pais muito presente na escola, que me auxiliam em algumas coisas, mas por outro lado, tem uma parcela que não consegue dedicar um tempo maior à escola.

EXCELÊNCIA NA ESCOLA PÚBLICA

As pessoas têm que chegar mais perto da escola pública. Existe uma fala muito cristalizada, que as escolas são abandonadas ou que não desenvolvem nenhum trabalho. Não vou dizer que existem escolas que merecem uma atenção maior, mas isso não acontece em sua totalidade. Existem muitas escolas públicas desenvolvendo um ótimo trabalho de excelência e fica, aqui, a sugestão para que as pessoas se aproximem e conheçam. É uma forma de divulgar o que acontece dentro da escola e, por muitas vezes, fica preso nas paredes das escolas e não chega à grande população.

REORGANIZAÇÃO ESCOLAR

Fui diretora de uma escola que trabalhava com os três segmentos: Ensino Fundamental I, II e Médio. Na parte física, você não consegue organizar, como o mobiliário que não é adequado, por exemplo. Outro problema, além da parte física, são os segmentos que são tão diferentes que dificultam o trabalho coletivo e por último, acho que temos que pensar em economia, já que estamos em uma fase difícil. No primeiro momento é natural que venha essa avalanche de insegurança, mas acredito que essa ação será positiva, readequando os recursos, os espaços físicos adequados e cada escola com seu perfil.

Biblioteca e Sala de Leitura do Brasílio Machado (5) Brasílio Machado, localizado na região oeste de São Paulo (1) Brasílio Machado, localizado na região oeste de São Paulo (5)

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