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Guia para Gestores de Escolas

Segurança

Acabo de sentar na poltrona 38C do voo AF 456 com destino a São Paulo. Esta semana vim a Paris, a cidade luz, a trabalho. Desde 2016 faço parte de um comitê internacional de Educação para a Autonomia. Nossa missão é desenvolver conteúdos relevantes para educação familiar.

O que isso tem a ver com a temática da segurança? Tudo! Como sou uma pessoa de muita sorte, saí do hotel no tempo normal, acreditando que chegando com duas horinhas de antecedência conseguiria embarcar numa boa. Peguei o Uber e ulalá: me deparei com um imenso trânsito na chegada do aeroporto e comecei a ficar preocupado. Na hora de deixar as malas, novamente muitas pessoas antes de mim. Na entrada da alfândega então, havia uma fila imensa. Eu não conseguiria voltar a tempo sob condições normais.

Foi aí que a sorte me ajudou. Perguntei a três pessoas se poderiam adiantar meu lugar na fila em função do horário. A primeira fez que não me entendeu. A segunda disse que não era função dela. A terceira virou o rosto e, quando eu já estava indo, cabisbaixo, para o fim da fila amargar a espera, ela volta e me indica a fila roxa, para os atrasados-otimistas-atrapalhados como eu.

Muitos de nós brasileiros confiamos demais em Deus, na sorte, no futuro. O que o episódio de hoje me ensinou é que há três elementos essenciais para sentirmos segurança, que não podem ser negociados: informação, planejamento e ação focada. Se eu tivesse feito minha lição de casa, não precisaria passar pelo apuro que passei (#quemnunca?).

No plano macroeconômico e político pagamos um alto preço pela nossa falta de segurança. Sentimo-nos inseguros nas ruas, nos serviços que consumimos, no dia-a-dia.

Em nossas escolas também reina, muitas vezes, a insegurança. Especialmente dos professores. A cada ano são novas demandas, com famílias menos numerosas, menos presentes e mais exigentes, com expectativas elevadas para seus filhos.

Se há um investimento valioso a ser feito no contexto escolar, é no sentido de transmitir segurança aos educadores. Como? Em primeiro lugar com informação. Reúna seus colaboradores de tempos em tempos para munir o time de informações atualizadas, não somente sobre os conteúdos que eles transmitem na sala de aula, como sobre as melhores práticas para que os alunos realmente aprendam. Noções de oratória, gestão de conflitos, criatividade, inovação, neurociência, neurolinguística e psicologia cognitiva são alguns dos temas que podem servir para enriquecer os debates.

Em segundo lugar, prepare uma sistemática na qual, de tempos em tempos, uns possam assistir às aulas dos outros. Esta é uma das práticas mais eficazes e menos custosas para gerar excelência segundo estudos da Fundação Bill Gates. Ao aprender com um colega, ao receber um feedback honesto e claro sobre a forma como se está atuando junto aos alunos, cria-se um senso de coleguismo, aumenta-se a segurança e promove-se um ambiente em que todos aprendem.

Para finalizar, existe o foco. Sem ele, não sabemos para onde ir, nem por que estamos acordando todos os dias. Sem sentido, a vida nos deixa inseguros e, com isso, nosso cérebro deixa de criar, de aprender, de desejar.

Manter o foco, em gestão, é mirar alto. Abrir asas para um voo transformador. Se a única meta da escola é fazer os alunos passarem nos melhores vestibulares ou tirarem boas notas no ENEM, isso pode custar caro. Educação desprovida de sentido pouco inspira, pouco motiva, pouco comove.

Observe junto aos seus professores, ao longo de suas aulas, como eles estão cuidando de debaterem conteúdos que tratem de competências para a vida. Em que momentos eles falam com os alunos sobre felicidade, amor, valores, sobre temas que os envolvam e que façam alguma diferença em suas vidas?

Quando nos sentimos dotados de informações sobre a vida e o viver, sobre as provas da vida, além de sermos treinados para as provas de papel, quando somos bem direcionados e quando sentimos que aqueles que nos guiam se importam conosco e seu foco é nos ajudar, nosso cérebro produz um neurotransmissor chamado dopamina, que ajuda no aprendizado.

Eu aprendi uma importante lição hoje: com segurança não se brinca. Seguros, voamos mais alto e melhor nesta vida. E você, que faz a gestão de toda a escola, tem feito a sua lição de casa por completo? Pense nisso. Seus professores são o que há de mais valioso. Cuide bem deles e os resultados serão uma consequência natural de todos conviverem bem e seguros de seus papéis.

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