UMA RELEXÃO: COM QUEM NOSSOS ADOLESCENTES SE IDENTIFICAM?
Colunas e Opiniões
Neste mês, farei uma breve reflexão sobre os adolescentes e partirei de uma provocação: Com quem nossos adolescentes se identificam? Reflexão esta que vem inquietando os educadores.
Nosso aluno, que adentra o Ensino Médio, se encontra no turbilhão da adolescência, período que separa a infância da vida adulta, momento de desequilíbrio e rupturas. Rupturas, principalmente, com seus pais. O adolescente, neste período, busca “sem saber” uma identidade e independência, o que muitas vezes são traduzidas em contestações, rebeldia, indisciplina, falta de educação e de limites. Em parte, pode até ser, mas de alguma forma esse adolescente está colocando sua angústia em palavra, o que interpreto como algo muito positivo. Os comportamentos que incomodam as escolas, podem ser interpretados como “sintomas”, algo não está correndo bem, o que é possível fazer? Vejo o período da adolescência como um convite a novas formas de interlocução.
A busca incessante pela sua “nova” identidade é a grande responsável pelo conhecido “processo de identificação”, onde eles buscam identificar-se com seu grupo de amigos, colegas e ídolos. E, para que isso ocorra, eles necessitam romper com aqueles modelos conhecidos, uma fase apenas transitória. Se pais e professores suportarem esse mal-estar, sem negociar seus princípios, teremos dado um passo à frente.
Transição dessa fase, uma despedida de ser criança, rumo a fase adulta, porém eles estão no meio, nem lá nem cá. Este período da adolescência é considerado uma fase do desenvolvimento humano, que vem desafiando professores e escolas que trabalham diretamente com eles. O adolescente vive, na relação com os pais, uma importante mudança que exige o afastamento por parte dele, que “abandona” seus pais “modelos” da infância, buscando consolidar sua independência através da identificação grupal. Por isso a importância que eles dão aos seus grupos.
Entendemos e proporcionamos isso a eles?
Nesta fase, ele se identifica com seu grupo e “abandona” em parte seus pais e também professores, já que os mesmos representam as Leis, e estas, aos olhos deles, não lhes permitem que eles vivam como querem. É importante manter esta nossa função, um ser que os impede de romper seus limites, mas que também os deixem fazer pequenos voos.
O momento é muito bonito, talvez tenha que ser visto com outros olhos, olhos menos julgadores e mais acolhedores, afinal adolescer é “adoecer” um pouco!
Há algo estranho no ar, entendemos mais as crianças do que os adolescentes. Será que é porque esse período toca mais nossas dúvidas do que nossas certezas?
Com quem nós, adultos, nos identificamos? E nossos adolescentes, se identificam com quem?
“…. Eu queria poder dar para vocês, como herança, o ovo onde moram os meus sonhos, na esperança de que vocês continuassem a chocá-lo, depois da minha partida.
Sim, o mundo que eu amo se parece com um ovo: está cheio de vida, mas é muito frágil. Dentro dele estão coisas delicadas, fáceis de serem destruídas: plantas, insetos, ninhos, aves, músicas, poemas, memórias, livros, peixes, muros brancos, crianças, velhos, jardins…
Mas eu tenho medo que vocês não resistam à tentação de quebrar o ovo onde eu e o meu mundo moramos. Como é fácil quebrar um ovo! Fácil e irreversível: nunca mais! Assim, por enquanto, o ovo onde moram meus sonhos fica sob a minha guarda. Até encontra os herdeiros que eu espero”.
Rubem Alves, In Correio Popular,
Campinas, 24.11.96