Conversa com o Gestor – Construção em Ação: Caminhos e processos para abrir e/ou expandir uma instituição de ensino
Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação
“Na última década, grandes grupos privados de investimento passaram a atuar em um ramo que, historicamente, foi administrado por gestões familiares. Para se abrir uma instituição privada de ensino dentro desse contexto, a gestão deve seguir os mesmos passos de grandes grupos empresariais: investir em pesquisas, ferramentas elaboradas de gestão e profissionais capacitados dentro do ramo”, destaca Diego Lopéz, Diretor da Pandora Educacional (SP)
Projetos, planejamentos, estratégias, resoluções, melhorias. Essas palavras-chave ganham uma notoriedade imensurável quando o assunto é gestão escolar. O desenvolvimento plural, presente em todos os ramos de uma instituição, está alicerçado no diagnóstico, na proposição de metas, identificação e planejamento de ações a serem utilizadas e, consequentemente, na resolução. Gerando, sem dúvida alguma, resultados satisfatórios.
Compreender uma instituição de ensino com alto nível de administração, mantendo a escola dentro das normas do sistema educacional, seguindo portarias e instruções; valorização da qualidade do ensino, supervisão e a orientação pedagógica, criando oportunidades de capacitação docente; além de preocupar-se com uma gestão pautada na democracia, interagindo ativamente com pais e alunos, não é tarefa fácil, já que existem, hoje, uma gama gigantesca de setores internos no campo educacional.
Nesse aspecto, é possível eleger uma característica que se desdobra em emaranhados complexos, atravessando diversas áreas de uma instituição escolar: a construção. Os significados e sinônimos que compõem a construção evocam vários aspectos, dentre eles: obra; estruturação; composição; implantação; elaboração; concepção. Através destes significados, o processo educacional pode ser inserido, aqui, como uma metáfora de construção.
Deslocando o olhar para os emaranhados que envolvem a construção (no sentido estrito da palavra) de uma escola – seja ela de qualquer nível de aprendizado – surgem alguns questionamentos instigantes: Quais são os primeiros procedimentos que devem ser adotados para criar uma instituição de ensino? Quais são os projetos e planejamentos que devem ser seguidos? Quais são processos legais para sua regulamentação? Com uma multiplicidade de escolas, como é possível criar uma escola singular, significativa e especial?
PLANO DE NEGÓCIOS
Rodrigo Morais, coordenador do MBA de Gestão de Escolas do IBFE (Instituto Brasileiro de Formação de Educadores) e gestor escolar do Anglo Campinas (Unidade Center Ville), acredita que é necessário compreender, primeiramente, que a educação como um negócio apresenta especificidades únicas. Neste caso, deve-se elaborar um Plano de Negócios completo, ou seja, um projeto que busca antecipar situações alternativas presentes no ambiente de negócios para, não só fixar objetivos empresariais, como também escolher os caminhos para alcançar esses objetivos, garantindo a sustentabilidade econômica e pedagógica da instituição.
“Definir o conceito geral do negócio (Educação Básica, Ensino Superior, EAD, Curso Técnico, Bilíngue) identificando assim o potencial cliente; proposta de valor que atenda uma determinada necessidade dos potenciais clientes (proposta pedagógica, diferenciais); canais de comunicação (cursos presenciais, cursos em vídeos, plataformas digitais, aplicativos); como será estabelecida a relação com os clientes (redes sociais, mala direta, telemarketing, comunicação visual); estabelecer as principais fontes de renda (anuidade escolar, material didático e escolar, livros); definir os principais recursos chaves (professores qualificados, prédio, plataforma de gestão escolar); definir as atividades chaves; observar potenciais parceiros chaves (escolas parceiras, fornecedores, transporte escolar) e uma estrutura de custos, ou seja, tudo que será pago para que o negócio aconteça”, explica Rodrigo.
Assim, a partir destas definições, alguns caminhos tornam-se tangíveis e possíveis, desde que avaliados e organizados criteriosamente. Pensando, exclusivamente, no mercado de educação privada no Brasil, há uma intensificação nos últimos anos de grandes redes de ensino, além de alta competitividade e profissionalização.
Diego Lopéz, diretor da Pandora Educacional (SP), destaca que, na atualidade, há uma grande oferta de sistemas e soluções educacionais, “mas para entender qual delas se adequa melhor a tal mercado é necessário investir em pesquisas de mercado para buscar brechas e oportunidades. Além disso, profissionais competentes e capacitados devem estar envolvidos desde o início para que a estrutura fique em pé depois de montada. Por isso, gestores, corpo docente e líderes educacionais são cada vez mais necessários”.
Para complementar, aponta Diego, é imprescindível que uma instituição escolar seja administrada dentro de uma filosofia muito clara e que seja compartilhada por todos os envolvidos. “Professores, diretores, gestores administrativos, auxiliares de manutenção, tem que conhecer a missão daquela instituição em que colaboram. Se todos falarem a mesma língua e direcionarem seus esforços para o mesmo sentido e direção, o dia a dia fica mais fácil e a base de crescimento da instituição fica mais sólida e uníssona”.
PESQUISAS E ANÁLISES
Guilherme Siriani, administrador de empresa e CEO de uma consultoria, ressalta que, para qualquer projeto – independente de seu tamanho – é preciso desenvolver um bom plano de negócios, um plano de ação bem traçado e um estudo de viabilidade do projeto. Essas três premissas adicionado a um bom assessoramento, trazem maior segurança ao investidor.
“Em primeiro lugar é preciso fazer uma boa pesquisa de campo. Isso significa ir até o local em que almeja abrir o negócio, analisar o entorno da possível instalação, quais empresas já estão no local, conversar com esses empresários para entender melhor o público do local, potencial econômico e demais peculiaridades de consumo”, diz Guilherme.
De acordo com o consultor, deve-se, ainda, analisar a concorrência e os serviços que são entregues aos consumidores da região e fazer uma análise profunda de sua proposta, com o intuito de verificar se está em linha com a demanda local. “Seguido todos os passos, e após a profunda análise de potencial, retome ao seu projeto inicial, faça os ajustes necessários para que consiga entregar ao público-alvo o projeto de melhor de instituição de ensino”.
ASPECTOS LEGAIS
Dentre os procedimentos que devem ser trilhados para abrir uma instituição de ensino ou, até mesmo, entrar em um processo de regularização, conhecer as questões legais e estudar a legislação educacional específica são fatores fundamentais. Fernanda Misevicius Soares, advogada especialista em Direito Educacional, nos conta que é a partir da legislação educacional específica que o/a gestor/a tomará inúmeras decisões importantes, como o local-sede da escola, os profissionais a serem contratados, as possibilidades pedagógicas do curso, etc.
“Como exemplo, podemos citar uma escola de educação de infantil. De nada adiantará construirmos um prédio lindo, contratar excelentes profissionais, se a escola não tiver o AVCB emitido pelos bombeiros ou se o Regimento Escolar não trouxer as informações legais sobre avaliação condizentes com essa etapa da Educação Básica. A escola não será autorizada. O mantenedor terá então que se adequar às tais exigências, o que demandará mais gastos com obras e mais tempo pagando aluguel sem a escola estar funcionando”, ressalta Fernanda.
Com relação às leis específicas, temos as resoluções ou deliberação aprovadas pelos Conselhos de Educação. De acordo com a advogada, é de extrema importância sabermos qual sistema de ensino a futura escola se enquadrará para, então, estudarmos a legislação correta. “Em São Paulo, para as escolas do sistema de ensino estadual temos a Deliberação CEE/SP nº 138/2016 e para as do sistema municipal, a Deliberação CME/SP nº 04/2014”.
É possível localizar, na atualidade, empresas que disponibilizam consultorias para quem deseja construir uma escola. E, nesses serviços de consultorias, em geral, estão inclusos esclarecimentos que tangem os aparatos legais.
O professor e advogado Fabrício Posocco revela algumas indicações para o/a gestor/a que deseja contratar estas consultorias especiais, como averiguar a confiabilidade do local; a compatibilidade do trabalho com a realidade orçamentária do/a investidor/a; e, via de regra, que a consultoria de negócios seja uma e a consultoria jurídica seja outra, podendo desenvolver, assim, um trabalho cauteloso.
“Cuidado com aqueles que oferecem um ‘pacote de serviços’ de business + contabilidade + jurídico, posto que, regra geral, administradores e contadores não entendem profundamente de leis, e advogados não são bons administradores, nem tampouco sabem fazer a contento serviços de contabilidade”.
A advogada Fernanda Misevicius complementa alertando a importância com relação a qualificação do consultor. “Uma boa dica é pedir referência de alguma escola para qual ele trabalhou”.
EXPANSÃO EDUCACIONAL
O Instituto Mara Auxiliadora de Porto Alegre (IMA), situado em Porto Alegre (RS) e integrante da Rede Salesiana Brasil de Escolas, é um case de expansão em infraestrutura e educação neste ano. O caminho utilizado segue os conceitos de Reggio Emilia, metodologia de educação italiana reconhecida internacionalmente, em que a família integra as ações escolares.
“O berçário, nosso último maior investimento, inaugurado em janeiro deste ano, foi demandado a partir das famílias, visando atender uma faixa etária que necessita dos nossos serviços”, revela a diretora Grace Freitas Pinto.
O berçário foi incluído em janeiro com a possibilidade de turno integral à escola, sendo destaque para colégios regulares da região. No IMA, outros fatores que promovem a expansão do atendimento a alunos vêm sendo a inclusão de crianças especiais e a recepção em todo o período do ano, que inclui férias escolares. “Um benefício àquelas famílias que precisam da escola como apoio no período reverso e também nos meses em que os alunos estão de recesso”, completa a diretora.
No IMA, a família participa do processo pedagógico e expande de acordo com as necessidades de pais e alunos. “O berçário partiu de uma solicitação das próprias famílias”, comenta Grace Freitas Pinto. Ainda, conforme as diretrizes de Reggio Emilia, o investimento valoriza a representação simbólica como ferramentas primordiais no aprendizado. “O espaço é todo pensado como um terceiro professor. O ambiente educativo é lúdico e demandou a contratação de uma assessoria pedagógica especializada para escolher cores, brinquedos, mobília e itens que contemplam o espaço pedagógico aos bebês”, diz.
Com a expansão da infraestrutura e da faixa etária de atendimento, o IMA atualizou com qualificação a equipe pedagógica da escola. “Nossa assessoria especializada capacitou e atualizou nossos professores, e isso é importante também quando se expande”. O projeto de expansão do IMA envolveu, assim, uma equipe multidisciplinar, como professores, diretoria, assessoria especializada, arquitetos, pedagogos, psicólogos, nutricionista e famílias. “Esforço e investimento coletivo viabilizaram este projeto”, conclui.
Saiba mais:
Diego Lopéz (Pandora Educacional) – [email protected]
Fabrício Posocco – [email protected]
Fernanda Misevicius Soares – [email protected]
Rodrigo Morais (IBFE/ Anglo Campinas) – [email protected]
Grace Freitas Pinto (Instituto Mara Auxiliadora de Porto Alegre/IMA) – [email protected]