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Guia para Gestores de Escolas

Destaque — Alunos supercarregados

Matéria publicada na edição 01 | Fevereiro 2005 – Ver na edição online

Livros, cadernos, apostilas, agenda, estojo para canetas coloridas, outro para lápis e borracha, dicionários… Parece não ter fim a relação de material escolar que crianças e adolescentes carregam nas mochilas. Os pais reclamam da extensa lista de material. Maristela Pedrosa Perez Azzam, mãe de dois alunos no ensino fundamental – Camila na primeira série e Felipe na quinta – conta que em alguns dias o material nem cabe todo na mochila. Porém, ela acredita que, apesar do peso, no caso dos seus filhos não há risco de danos para a saúde. “O percurso que eles andam com a mochila é pequeno, já que eu deixo e pego as crianças de carro na porta da escola”, conta.

Além da distância percorrida, também a relação do peso do aluno com o da mochila interfere no risco para a saúde. “Existe uma orientação para que o peso carregado não exceda 10% do peso da criança. No entanto, deve se considerar a distância e o tempo em que há esta carga”, sustenta o ortopedista Edílson Forlin, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia Pediátrica, comitê da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). Segundo o médico, não há comprovação de que carregar mochilas pesadas causem deformidade ou dor. “Porém, é importante ressaltar o tempo em que a mochila é carregada. Existem ainda outros fatores, como postura, atividade física, casos de outras pessoas com dor nas costas na família e até stress psicológico, que parecem afetar as queixas de dor”, completa.

O ortopedista Josmar P. A. Rangel, do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, afirma que a ocorrência de dor lombar ou dorsal na criança é rara e quando ocorre há necessidade de investigação clínica apurada. “Várias causas podem originar dores na coluna, como traumas, infecções, patologias abdominais, tumores, desvios, processos inflamatórios, alterações funcionais”, explica, completando que a família deve consultar um ortopedista para uma correta avaliação.

Apesar de mais raros do que em adultos, episódios de dor nas costas em crianças e adolescentes têm ocorrido com mais freqüência atualmente, na opinião da fisioterapeuta Vanessa Ferracini. “Os pais só dão maior importância à mochila pesada quando os filhos se queixam de dor”, acredita. Crianças que já apresentam falta de mobilidade muscular e de alongamento, por ficarem muitas horas no computador, no sofá vendo TV ou no videogame, e que não fazem atividades físicas, estão mais predispostas, segundo a fisioterapeuta, a apresentarem dor ou problemas na coluna. Os pré-adolescentes, que têm o hábito de carregar a mochila ou bolsa cheia de material em um ombro só, podem desenvolver uma escoliose, conforme a profissional. Mais uma vez, outros fatores contribuem para agravar o quadro. “É o peso da mochila, mais o fato do aluno escrever de lado e a má postura que podem desenvolver uma assimetria. Além disso, o adolescente tem uma pré-disposição ao desvio, causado pelo crescimento rápido”, aponta.

Vanessa utiliza principalmente a RPG (Reeducação Postural Global) para solucionar problemas em crianças e adolescentes. Porém, ela acredita que a intenção deve ser curar a causa do problema e não só as conseqüências. “Dou exercícios para meus pacientes fazerem em casa e oriento quanto à postura para carregar o material e ao sentar, por exemplo”, explica. Em casos onde o excesso de peso transportado pela criança é exagerado, Vanessa encaminha uma carta à direção da escola, solicitando um armário para que o aluno guarde alguns materiais.

No Colégio Dante Alighieri, há a preocupação em oferecer armários para diminuir o volume de livros e cadernos a serem transportados pelos alunos. Segundo Silvana Leporace, coordenadora de orientação educacional do colégio, as crianças de primeira à quarta série do ensino fundamental dispõem de um armário na sala para deixar materiais que não serão necessários na lição de casa. “Nessas séries, o armário é comum a todos os alunos e é a professora que o organiza. Temos a preocupação de diminuir o peso da mochila das crianças”, considera. Já a partir da quinta série, cada aluno deve controlar o que pode ou não deixar no armário – também comum e localizado na classe. Frequentemente os orientadores educacionais aconselham os alunos a evitar levar objetos desnecessários para o colégio. “Há muita variedade de materiais disponíveis, como canetinhas cheirosas e borrachinhas coloridas. Orientamos os pais a comprar o material o mais prático possível”, comenta.

Mochilas repletas de itens supérfluos são uma queixa comum entre pais e educadores. Professoras e orientadoras do Colégio Pueri Domus já pesaram as mochilas em sala de aula – com e sem os materiais extras. “Concluímos que a quantidade de objetos não essenciais que os alunos trazem para a escola é enorme”, conta Fernanda Zocchio Semeone, diretora geral das seis unidades do Pueri Domus. Até a quarta série, as professoras auxiliam os alunos a ter maior organização. “O material que não vai ser usado em casa fica na classe”, diz. Já a partir da quinta série as crianças contam com armários individuais. É feito um trabalho de adaptação com os alunos para que eles saibam o que deixar na escola. Além dos armários, em duas unidades do Pueri Domus (Verbo Divino e Itaim Bibi, em São Paulo), uma invenção simples facilita a vida das crianças que utilizam mochilas de rodinhas e precisam vencer vários lances de escada para chegar à sala de aula. O próprio marceneiro das escolas criou uma rampa que é adaptada às escadas nos horários de entrada e saída. As crianças, então, transportam as mochilas pela rampa. Quando não há trânsito de mochilas, a rampa é retirada.

Um mundo de mochilas para escolher

Para atender ao volume cada vez maior de material carregado pelos estudantes, as mochilas têm evoluído, além de acompanharem as tendências de moda e as preferências infantis, repletas de personagens de desenhos e filmes. Elaine Lopes, analista de marketing da Sestini, que tem uma equipe de designers responsável por desenvolver mochilas, conta que pode demorar de seis a nove meses até um produto sair da prancheta. “O processo envolve desde o desenvolvimento e definição da matéria-prima, como nylon, poliéster, PVC ou EVA, até o licenciamento da marca, quando há uso de personagens”, explica.

As mochilas que incorporam carrinho são indicadas para crianças de dois a dez anos.  Há o modelo mochilete (mochila de estrutura mole com carrinho) e a de estrutura rígida, também acoplada a rodinhas. Entre as estrelas da Sestini estão produtos estampados com Barbie, Hot Wheels, My Scene e Barney. Segundo Elaine, o personagem e o modelo do produto direcionam qual a idade indicada. Uma menina de 10 a 12 anos não vai querer uma mochila de carrinho com a Barbie, mas uma bolsa tipo carteiro com um desenho estilizado da boneca. O mercado oferece personagens para todos os gostos e idades. A Primícia, fabricante de mochilas, mochilas com carrinhos e lancheiras, tem modelos com a Minnie e o Mickey, a turma do ursinho Pooh e, para os meninos, a linha Beyblade e a do He-man.

Na verdade, a idade limite para o uso desse tipo de mochila varia conforme a altura do aluno. Crianças muito altas às vezes precisam se curvar para empurrar a mochila, o que não é indicado. Nesses casos, e quando o aluno julga a mochila de rodinhas infantil, o correto é substituí-la pela tradicional de costas. A Kipling oferece mochilas ergonômicas, com reforço nas costas. No modelo Chaser, a sobrecarga na coluna é evitada com um mecanismo simples: uma barra de metal flexível, embutida no forro, que se molda às costas. Um cinturão fixa melhor a mochila na cintura e as alças contam com reguladores em dois pontos. Segundo o fabricante, qualquer que seja o modelo escolhido, é fundamental usar corretamente a mochila. Anote algumas dicas da Kipling para evitar má postura e problemas na coluna:

-Usar as duas alças da mochila nos ombros.

-Ajustar o regulador das alças e do cinto conforme a altura e o corpo.

-Distribuir uniformemente o peso dos materiais dentro da mochila.

-Colocar e tirar a mochila quando ela estiver apoiada sobre uma mesa.

-Carregar somente o material necessário na mochila.

-Organizar a mochila diariamente.

Saiba mais sobre RPG

O método de Reeducação Postural Global (mais conhecido como RPG) foi idealizado pelo fisioterapeuta francês Philippe E. Souchard. Introduzida no Brasil na década de 1980, a RPG é uma técnica realizada exclusivamente por fisioterapeutas e consiste em exercícios que visam tratar desvios posturais, solucionando a causa de dores e desconfortos. A RPG leva em consideração as necessidades individuais de cada paciente, já que cada organismo reage diferentemente às agressões sofridas. O método procura corrigir a postura através de alongamentos globais.

A sessão de RPG dura cerca de uma hora e deve ser feita uma vez por semana. A duração do tratamento varia de acordo com os problemas de cada paciente. O fisioterapeuta utiliza-se de oito posturas, denominadas básicas, para realizar os alongamentos e correções. As posturas estáticas são responsáveis por alongar e dar mais força aos músculos que estão lesionados, reposicionando as partes do corpo que precisam ser corrigidas. A RPG é indicada para: correção de postura inadequada e consequentes dores, dores ciáticas e cervicalgia, dores ou desvios na coluna vertebral, artroses, bursistes, hérnias de disco, traumatismos, torcicolos, tendinites, etc.

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