Inofensivos, divertidos e engraçados? #sqn
Por Cristina Corsini
Desafios lançados na internet viraram febre e vêm se tornando moda. A primeira vista, podem até ser engraçados, divertidos e, também, parecerem brincadeiras bobas e inofensivas… SÓ QUE NÃO! Ledo engano! Brincadeiras equivocadas e desafios pesados podem causar lesões sérias, danos irreparáveis no cérebro e, em casos mais graves, a morte de crianças e adolescentes.
Recentemente, virou notícia a morte de uma menina de sete anos. Motivo? A garotinha, curiosa acerca de um vídeo postado no Youtube – o “Desafio do Desodorante”, resolveu imitar o conteúdo inalando desodorante aerossol direto em sua boca, o que provocou uma parada cardíaca. Pouco tempo antes os noticiários anunciaram outra morte. Dessa vez provocada por complicações respiratórias devido ao “Desafio da Asfixia” – que consiste, basicamente, em prender a respiração de maneira mecânica, até perder os sentidos. A vítima? Um adolescente de 13 anos. Ah, sem esquecer, logicamente, as vítimas do Desafio da “Baleia Azul”.
O que mais assusta em tudo isso é que os vídeos, divulgadas como “brincadeiras” nas redes sociais, estão ali… ao alcance de todos… basta um simples click! Desafio do Desodorante, o da Pimenta, o do Martelo, o da Colher de Canela e inúmeros outros… todos com um grau de perigo para quem tentar realizá-los. Pois, são essas tais “brincadeiras”, que viralizam rapidamente, que já mataram mais de uma dezena de jovens brasileiros e deixaram outras centenas feridas.
Influenciáveis e suscetíveis, muitos aceitam os desafios movidos pela curiosidade e outros, por autoafirmação e para serem socialmente aceitos, mesmo tendo certa ideia de que não lhes parece certo.
Denunciar é praticamente impossível, porque, além dos vídeos lançados por canais e também por youtubers famosos muito mais preocupados em gerar “curtidas” e “visualizações”, ao invés do mal que aquele conteúdo pode causar, as pessoas que aceitam o desafio acabam, também, postando os seus vídeos na rede e, aí, tudo fica fora de controle.
Internet é muito legal, interessante e atraente! Pode, inclusive, representar um verdadeiro “parquinho de diversões” para as crianças e “point” para os adolescentes… Um espaço sem fronteiras, que oferece informações rapidamente, aprendizado, diversão e através do qual é possível se conectar com o mundo todo, o que é positivo, sem dúvida.
No entanto, o fato de crianças e jovens não estarem na rua e, sim, dentro de casa não pode ser considerado sinônimo de proteção e segurança. Ao acessar a rede é como se eles estivessem trazendo a “rua” para dentro de casa. A diferença? Antes eram as ruas de asfalto que geravam preocupação nos pais, hoje devem ser os “becos online”. Esse público corre perigo e está vulnerável, sim, uma vez que muitos dos perigos do mundo real estão no mundo virtual. Têm riscos e é perigoso que não podemos subestimar – imagens de conteúdo adulto, comportamentos agressivos, pedofilia, pornografia, tráfico.
Não tem como impedi-los de terem acesso à rede. Proibir o uso não previne e, muito menos, educa. É sabido que hoje o mercado dispõe de uma série de programas que filtram e bloqueiam sites. No entanto, isso é apenas uma ajuda; Não podem substituir o acompanhamento da família. Sem dúvida alguma, o único caminho para a proteção e educação é a orientação e assistência. O uso responsável e saudável da tecnologia por parte de crianças e adolescentes tem que vir acompanhado de abertura para o diálogo. Note bem, DIÁLOGO, não monólogo… só ficar falando “não faça” ou pregando “você não pode fazer tal coisa porque é errado”, de nada vai adiantar. É importante que o adulto seja um mediador que os ajude a desenvolver competências socioemocionais, tais como a autoestima e a autoproteção, bem como os ensine a refletir – antes de tomarem qualquer atitude, é importante ver se realmente aquilo é bom para eles e não agirem guiados apenas pelas emoções, mas com inteligência. Por fim, é necessário desenvolver uma relação de confiança.
No que diz respeito à escola, essa tem papel da essencial, pois é um espaço para disseminar informações e promover debates que alertam para o uso responsável da internet e para a construção de um ambiente digital mais ético e seguro.
Resumindo, o melhor controle parental ainda é a proximidade com as crianças e adolescentes. O importante é permitir o acesso, porém com regras e limites acordados. Afinal, não podemos priva-los dessa importante ferramenta de comunicação, pesquisa e diversão! Então:
1. Criança e adolescente + tecnologia = trabalho para os pais e escola.
2. Diálogo + confiança = internet segura.
Cristina Corsini é psicopedagoga, orientadora educacional do Anglo Center Ville e coordenadora nacional do curso de pós-graduação em Educação Socioemocioal do IBFE (Instituto Brasileiro de Formação de Educadores)
Imagem: ©Divulgação.