LIÇÃO DE CASA: O DILEMA NOSSO DE CADA DIA
Para muitos pais e estudantes, o dever de casa é um bicho de sete cabeças, mais obrigação do que prazer. E por que precisa ser realizado? Quais são seus objetivos? As chamadas tarefas escolares devem ser encaradas como momentos para o aluno desenvolver autonomia, ampliar e aprofundar conhecimentos.
No 1º ano do Ensino Fundamental, por exemplo, que traz desafios importantes para os alunos na alfabetização, a lição de casa tem objetivos pedagógicos bem definidos. O primeiro é o de permitir à criança que entre em contato com o que memorizou das aulas. “É um momento riquíssimo de aprendizagem, quando acontece a autonomia do pensamento: a criança descobre que tem suas próprias ideias e expressa suas dúvidas”, diz a orientadora da série no Colégio Santa Maria, Sueli Gomes.
Por essa razão, a dica aos pais é não “resolver” o problema da criança, mas permitir que ela leve os “erros” para a professora, pois o outro objetivo da lição de casa é avaliar o quanto os alunos aprenderam e entenderam (ou não) o que foi ensinado. “O papel dos pais é o de criar um ambiente tranquilo que favoreça o diálogo, a troca, uma oportunidade a mais de conversa em família, em que novas ideias podem surgir”, conclui a educadora.
Já no 3º ano e um pouco maiores, os alunos são mais “desafiados”. Algumas tarefas podem ser usadas nas “aulas invertidas”, em que o estudante faz o exercício em casa antes da explicação da professora, com o objetivo de motivá-lo para o que a aula trará no dia seguinte. Outra função é a de ampliar o conhecimento por meio de práticas investigativas; de criação, quando favorece a construção ou invenção; de aplicação, quando um conhecimento adquirido é aplicado em situações diversas (o que se aprendeu em Matemática pode ser utilizado em alguma tarefa de Ciências Naturais, por exemplo), e outra, a mais conhecida, é a de sistematizar o aprendizado, o famoso “treino”.
Para a orientadora pedagógica Marcia Almirall, que responde pelo 3º ano do Ensino Fundamental do Santa Maria, a lição pode mobilizar diversas habilidades do aluno, como relacionar fatos, selecionar estratégias, analisar a solução encontrada e elaborar novas soluções. A participação dos pais, no entanto, deve ser de acompanhamento e incentivo. “Eles precisam tomar cuidado para não passar mensagens equivocadas como ‘termine logo e se livre dela’ ou ‘faça a tarefa para mostrar para o professor’”, ensina a educadora.
A professora Claudia Sande, do 4º ano, explica que é importante os pais supervisionarem a agenda dos filhos algumas vezes na semana, deixando-os livres nos demais dias para que possam construir a responsabilidade e o compromisso com os estudos, gradativamente. “Sugerimos que os pais participem do processo revisando eventualmente os cadernos, fazendo elogios para que o aluno perceba que a tarefa poderá ser prazerosa e o ajudará a deixá-lo seguro em relação àquilo que aprendeu”, explica a professora.
Ao mudarem de etapa, os estudantes ficam ansiosos, caso da passagem do Fundamental I (5º ano) para o Fundamental II (6º ano), quando não têm mais uma professora de classe, mas um professor para cada matéria. Para ajudar na transição, o 6º ano tem aulas de método de estudo. Os alunos criam um calendário de atividades e recebem orientações de como elaborar suas tarefas, sempre retomando o que foi abordado ou buscando novas informações.
Mas e os pais, como devem se comportar na nova fase? A orientadora da série, Ana Lúcia Parro, sustenta que eles não devem dar respostas nem propor outra forma de fazer os exercícios, pois não estão na sala de aula para saberem que metodologia foi utilizada. “Os pais podem auxiliar com perguntas que façam seus filhos refletirem sobre a atividade e incentivá-los a anotarem as dúvidas para levar ao professor”, afirma.