O Coordenador Pedagógico como articulador do Projeto Político Pedagógico e a contribuição da Pedagogia Freireana para sua prática
Empoderamento Feminino nas Escolas
Por Marcia Gaddini
Ao pensarmos nas questões sobre o aperfeiçoamento da ação do coordenador pedagógico, a partir das contribuições da Pedagogia Freireana, se faz necessário compreender, dentre outros fatores, qual é o sentido da Pedagogia para Freire.
Danilo E. Streck, no Dicionário Paulo Freire, esclarece que não há uma pedagogia única, existe diversidade de formas atreladas aos momentos e contextos, o que implica no diálogo verdadeiro sobre a prática, a partir da vivência e da experiência, entendido como elemento para a formação na dinâmica dialética.
A necessidade formativa inicial e o desejo de aprender continuamente devem fazer parte das prioridades do professor na evolução da carreira, sobretudo quando o mesmo ambiciona tornar-se coordenador pedagógico. Portanto, o educador não deve apenas aceitar a realidade que se apresenta, mas também buscar maneiras de ir além, de buscar o conhecimento do outro, de oportunizar o desenvolvimento a partir da consciência desse conhecimento, possibilitando a transformação das adversidades do cotidiano. Este não deve conformar-se com a aceitação da realidade que se apresenta, mas sim apresentar formas de busca do conhecimento, de oportunizar o desenvolvimento a partir da consciência desse conhecimento, possibilitando a transformação das adversidades apresentadas nos desafios cotidianos.
Mais do que uma ciência que trata da educação, a Pedagogia é um conjunto de métodos que assegura ajuste de conteúdo. A partir dos ensinamentos de Freire podemos refletir sobre o processo de ensinar, que implica o de aprender e vice-versa, envolve a paixão de conhecer que nos insere numa busca prazerosa, ainda que nada fácil.
Para Paulo Freire antes de ensinar é preciso aprender. O bom aluno e o bom professor passam pela mesma necessidade da compreensão do aprender. Em Pedagogia da Autonomia, Freire estabelece relações sobre o ensinar. Ensinar exige conhecimento não apenas técnico, mas conhecimento das relações humanas, respeito ao próximo e amorosidade, reforçando a capacidade crítica do educando como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos.
Segundo Freire, ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção. Sua concepção de educação libertadora tem uma visão humanista crítica, estuda-se o ser humano que aprende como um todo, sendo assim não podemos pensar apenas na dimensão cognitiva. Não são considerados apenas conhecimentos, mas também escolhas e atitudes por meio de uma Educação dialógica ao pensar crítico diante de sua realidade.
Ao refletir sobre a formação do professor e os desafios da contemporaneidade, a mestre em Educação Joanete explicita de modo claro pontos referidos na pedagogia freireana, que versam sobre princípios e responsabilidades profissionais frente às questões adversas que enfrentamos cotidianamente, como a autora apresenta no trecho a seguir:
“Ser professor, na sociedade brasileira atual, é algo bastante complexo, pois o professor precisa ficar atento aos riscos que o contexto histórico lhe impõe, reduzindo por vezes, o conhecimento, ou seja o ‘saber’ ao ‘saber fazer’, por meio de técnicas, muitas vezes apoiadas em um discurso ideológico, pretensamente democrático. […]. É nessa sociedade marcada pelas desigualdades, que a necessidade de uma leitura crítica de mundo, que permita assumir a educação, enquanto direito cultural e não como produto do mercado, se impõe. Assim, não se pode perder de vista, na construção de uma identidade docente, o humano e o profissional”.
O Projeto Político Pedagógico (PPP) na escola é a referência documentada dos processos educativos discutidos, tal documento respalda determinadas decisões a serem tomadas pelo coletivo escolar, mas é importante ter entendimento do mesmo, com a interpretação à luz de um educador com a concepção ideológica crítica, assim sob o olhar da Pedagogia Freireana o PPP será uma referência dinâmica e viva.
Para que um Coordenador Pedagógico possa iniciar a reflexão sobre suas ações a serem desenvolvidas no contexto escolar, é necessário que tenha conhecimento do documento que define a identidade, embasa as ações e concepções, e indicam caminhos para o processo de ensino-aprendizagem. Segundo a Pedagoga Prof.ª Dr ª Ana Maria Saul, na perspectiva freireana, currículo é a política, a teoria e a prática do que fazer na educação, no espaço escolar e nas ações que acontecem fora desse espaço, numa perspectiva crítico-transformadora.
Consideramos projeto por reunir as propostas de ação dentro de um determinado período de tempo; político por considerar a escola como um espaço de formação de educandos conscientes e críticos; pedagógico por organizar as atividades educativas imprescindíveis ao processo ensino-aprendizagem, documento este que indica caminhos a seguir para direção, coordenação pedagógica, alunos, familiares e demais funcionários de apoio.
Portanto, o Projeto Político Pedagógico contempla muito mais do que procedimentos: um projeto bem elaborado não deixa imprecisões sobre esse caminho; precisa ser flexível para se adaptar às necessidades de aprendizagem dos alunos; um projeto “vivo e real” que não fica “guardado”, mas ativo e inacabado, pois no decorrer do ano novas propostas vão permeando o fazer pedagógico e transformando-se em um novo projeto para ser apresentado no ano seguinte. Logo, o PPP é o exercício de elaboração do saber pedagógico para orientar a prática, não definitivo, é dinâmico e em contínua construção.
Marcia Gaddini é Consultora Educacional da FTD Educação, mestranda em Educação – Formação de Formadores – PUC SP, trabalha e pesquisa sobre a formação inicial e continuada de profissionais da Educação. Especialista em Psicopedagogia pela Faculdade Oswaldo Cruz e Licenciada em Pedagogia com Habilitações em Administração Escolar e Orientação Educacional / Vocacional pela Faculdade Campos Salles. Atua há 20 anos na área educacional como docente em todos os segmentos da Educação Infantil ao Ensino Superior; também foi Coordenadora Pedagógica em Colégio Confessional em São Paulo.
Imagem: ©Divulgação.