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Guia para Gestores de Escolas

Pensamento criativo e habilidades socioemocionais: da escola para o futuro

Por Ademar Celedônio

Em visita a uma escola particular em São Paulo, o diretor me levou a diversos ambientes e, dentre esses, ao laboratório Maker, um espaço bem equipado com impressoras 3D, que ajudam na construção das peças utilizadas nas aulas. O professor de Maker me explicou algumas atividades desenvolvidas, com destaque para uma competição de equipes de corrida de carros em um circuito que lembra um oval da fórmula Indy, ou seja, duas grandes retas e 4 curvas nos cantos com um formato de um 1/4 de círculo. O circuito todo em madeira de MDF tinha ainda certa altura na lateral que simulava as grades dos autódromos. Ganharia a competição quem conseguisse o menor tempo por volta e a atividade era desenvolvida em equipes de quatro pessoas, com a obrigatoriedade de ter, pelo menos, uma menina no grupo.

Indagado sobre a série dos alunos, o professor me respondeu que as equipes eram multisseriais, com alunos de 11 a 16 anos. A primeira atividade era comum a todas as equipes: a construção dos sensores de marcação de tempo da pista, o que implicava o domínio prévio de programação. O papel principal do professor, nessa etapa, era conduzir os alunos nas habilidades de programação. A partir disso, os alunos deveriam construir seus carros, testá-los na pista e, por acerto e erro, fazer os ajustes necessários até a competição. A equipe vencedora colocou nas rodas um material para que o carro deslizasse mais rapidamente e diminuísse o atrito. O professor ainda relatou a inovação de outra equipe, que colocou mais 4 rodas no alto do carro, para que ficassem paralelas ao solo e, com isso, conseguiu que essas rodas girassem nas paredes do circuito, aumentando a velocidade do carro.

O Fórum Mundial Econômico traçou as dez habilidades mais importantes no mercado de trabalho para 2030 e as três primeiras são criatividade, capacidade de resolver problemas complexos e pensamento criativo, as quais podemos associar ao contexto de valorização do futuro do mercado de trabalho. Segundo um levantamento da plataforma LinkedIn, das 25 profissões que mais têm oferta de trabalho no Brasil, 23 são associadas diretamente à tecnologia, como Engenharia de Dados e Machine Learning. Mas um ponto de atenção sobre isso: em 17 dessas, porém, há enorme prevalência de homens em relação às mulheres, que ainda enfrentam preconceito nas áreas da Matemática, de Lógica e de Programação, sendo excluídas de carreiras de exatas. Se as meninas nas escolas brasileiras não forem estimuladas a aprender essas disciplinas, podemos ter uma desigualdade de gênero ainda maior nos próximos anos no mercado de trabalho. 

Importante sinalizador de mudanças foi observado no fim de maio último, quando foi concluída a aplicação do PISA, uma avaliação internacional de aprendizagem em leitura, ciências e matemática feita de forma amostral com alunos de 15 anos e coordenada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento. Nessa avaliação, os itens de matemática deram foco ao pensamento criativo e no portal do Instituto Nacional de Ensino e Pesquisas é possível encontrar uma robusta matriz de pensamento criativo e exemplos desses itens. As questões trazem situações-problema, cujas perguntas aparecem em diversos formatos, incluindo a avaliação de respostas livres, nas quais o aluno necessita descrever seu raciocínio e pensamento lógico. No entanto, em 2025, data da próxima aplicação do PISA, a OCDE deve evoluir seus itens da avaliação para cobrir mais habilidades socioemocionais.

A associação das competências cognitivas com as competências socioemocionais deverá ser cada vez mais importante na formação do cidadão do futuro e podemos encontrar isso de maneira muito evidente na BNCC, a partir das competências gerais, as quais trazem com clareza que conhecimento, pensamento científico, crítico e criativo estão intrinsecamente associados aos eixos de realização de atividades em cooperação e empatia e ao projeto de vida do estudante. Com o avanço cada vez maior da inteligência artificial, devemos estar atentos a inúmeras tendências de mudança no mercado de trabalho e a seus impactos. O futuro é construído no agora, por isso destaque-se a imprescindível atitude de inclusão e valorização da diversidade desenvolvida pelo professor de Maker, na atividade relatada. A inteligência artificial não deve ser temida, pois ela pode apoiar ações em que o professor poderá personalizar o melhor caminho de aprendizagem dos seus alunos. As tecnologias que dão certo são as que permitem que as pessoas usufruam de experiências que as tornem mais felizes e que facilitam a vida cotidiana.

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